Camila POV.
Duas horas. Duas longas horas já haviam se passado desde que nos demos conta de que não sairíamos dali.
Nicolas tentava incessantemente consertar sabe-se lá o que naquele motor, com a cabeça enfiada dentro do capô sem tirar um só minuto de descanso. Normani era a mais aflita, dizendo de cinco em cinco minutos para que Nicolas tomasse cuidado com o que fazia ou que, ao menos, desse uma pausa.
Já Lauren parecia irritantemente calma, sentada sobre a carroceria da caminhonete em absoluto silêncio, alheia à tragédia que acontecia ao seu redor. Vê-la tão despreocupada me fez bufar e ter de me segurar para não soltar um palavrão sem contexto.
Afinal de contas, a culpa era dela. Única e exclusivamente dela. A razão de, pra variar, estarmos mais uma vez perdidos no meio do nada, sem termos como voltar para o lugar de onde viemos, era dela. Dela e da estúpida ideia que ela teve de me arrastar para essa viagem.
- Droga! – Normani exclamou, levantando do banco passageiro e saindo mais uma vez para fora do carro. – Eu não consigo achar sinal nessa bosta de celular de jeito nenhum!
Eu me encontrava sentada lateralmente sobre o banco traseiro da caminhonete, com a porta aberta e balançando ansiosamente as pernas para fora. Normani alternava entre sentar-se e andar de um lado para o outro ao redor de Nicolas, enquanto tentava fazer alguma ligação que pudesse nos ajudar.
Há muito eu já havia desistido de tentar fazer o mesmo com meu celular. Nem sequer uma resposta de Dinah eu havia conseguido receber ainda. Estava até mesmo me negando a pensar na possibilidade de meus pais não terem conseguido falar comigo e terem acabado tendo que ligar para a casa de Ally para saber de mim, o que obviamente acabaria mal. Muito mal.
- Mani! – ouvi Nicolas gritar abafado atrás do capô. – Tenta ligar o carro pra mim!
Normani obedeceu-o no mesmo momento e eu me ajeitei ansiosamente sobre o banco para observá-la. A morena sentou-se no lugar do motorista, rapidamente encaixando a chave na ignição e girando-a para dar a partida.
Uma. Duas. Três. Quatro tentativas. Em nenhuma delas o rangido forte do motor passou de um simples ruído sem força, que em poucos segundos era interrompido sem que o carro, de fato, ligasse.
Joguei-me conta o banco mais uma vez, desanimada, e vi o rosto decepcionado de Nicolas emergir através do para-brisa. Normani sorriu-lhe tristemente e o rapaz voltou seu trabalho sob o capô. Eu bufei mais uma vez e me levantei dali. Vi Lauren sentada sobre a carroceria na mesma posição desleixada e me sentei ao seu lado.
Ela me olhou calmamente, com uma expressão quase serena, e eu tive vontade de explodir sua cabeça.
- Relaxe. – ela disse displicentemente, provavelmente percebendo minha expressão irritada, e eu senti como se fosse cuspir fogo.
- Relaxe? – a questionei entre os dentes. – Relaxe?! Se nós não sairmos dessa droga de lugar logo, você sabe quão ferrada eu vou estar?! – ela permaneceu em silêncio, arqueando as sobrancelhas para mim e eu ri irônica. – É claro que não sabe. Porque você claramente só se importa consigo mesma.
- Ei, ei! – ela chamou minha atenção, franzindo a testa. – Eu e Nicolas precisamos chegar a tempo no internato tanto quanto você. Calm...
- O problema não é só esse, Lauren! – eu exclamei num tom acima, interrompendo-a. – Eu tive de mentir para os meus pais e para as minhas amigas pra vir nessa viagem idiota. Se eu não voltar cedo o bastante pra casa, eles vão estranhar, e, quando se falarem, vão descobrir que eu menti!
Lauren abriu a boca para responder, mas não pronunciou nada. Eu me sentia ofegante, tanto por estar irritada quanto por ter falado tudo de uma vez só.
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O Internato
RomanceNão havia no país um colégio interno melhor conceituado do que o Internato Jauregui. As famílias, evidentemente poderosas, que, por uma velha tradição, faziam questão de matricularem seus herdeiros lá, dispunham de uma parcela bastante considerável...