Camila POV.
Com a interrupção gradativa do tremular do motor, eu despertei em meio à baixa claridade que atingia o largo ônibus de viagem através das grossas cortinas fechadas à janela ao meu lado, naquela manhã infernalmente ensolarada de sexta-feira. O barulho incessante da euforia dos alunos, emaranhados praticamente uns sobre os outros entre um banco e outro, voltou a vibrar como um verdadeiro alarme em meus ouvidos, assim que me vi obrigada a erguer as pálpebras pesadas e perceber que havíamos, finalmente, chegado a nosso destino.
Desde que deixáramos o internato há algumas horas, beirando ainda a madrugada, eu me ocupei de afundar-me em um dos bancos do tal ônibus ao lado de Ally e simplesmente me pus a dormir, preferindo algumas horas de sono ao ter de ouvir a excitação exalante do restante dos alunos por todo o caminho, correndo o risco de acabar ficando ainda mais mal humorada do que eu já estava por conta disso.
- Vamos? – ouvi a voz de Ally gentilmente me abordar, tocando meu ombro com uma das mãos e me lançando um olhar amável. Eu tentei sorrir-lhe com o canto dos lábios antes de levantar-me do banco e seguir atrás dela pelo estreito corredor do veículo, mas o ato, provavelmente, resultara mais em uma careta do que em qualquer outra coisa.
Ter de ir à droga dos jogos neste fim de semana vinha deixando meu humor, já arruinado, ainda pior. Desde a última conversa desastrosa com Lauren, tudo parecia absolutamente irritante para mim. Eu não sentia raiva dela, exatamente, por sua reação. Pelo menos, não muita. Uma parcela de mágoa, sim, eu tinha, pois uma das poucas coisas que consegue, realmente, me tirar do sério na vida, é o fato de aumentarem a voz a mim sem que eu realmente mereça tanto. Mas, de um modo geral, posso dizer que Lauren e sua reação vinham sendo, não meu objeto de ódio e, sim, meu motor, ou seja, aquilo que me levara a viver de cara fechada pelos últimos três dias, dando patadas de graça a quem quer que se aproximasse de mim com um pouco mais de animação do que eu, no momento, apreciava.
Ally, justamente por isso, vinha sendo uma das mais pacientes comigo, aguentando meu mau humor constante sem ao menos questionar-me. Já Dinah não possuía o mesmo "espírito santo" que ela e, por isso, acabávamos travando, por pelo menos dez vezes ao dia, algum tipo de discussão idiota.
- Por aqui, pessoal! – alguma voz masculina gritou ao longe, muito provavelmente direcionando-se ao grande aglomerado de alunos que agora saíam de dentro do ônibus e agrupavam-se desajeitadamente ao lado dele.
Pouco a pouco, estes começaram a se movimentar e eu, caindo de sono e absolutamente irritada, simplesmente tratei de seguir o seu fluxo, praticamente arrastando-me atrás deles com Ally ao meu lado.
- Viu Dinah? – questionei baixinho assim que começamos a andar, passando a olhar ao meu redor com verdadeiro interesse pela primeira vez ali.
- Foi com os garotos mais à frente. – apesar do tom ameno, a baixinha respondeu com a expressão fechada; os olhos preocupados atentos aos lugares em que a mesma pisava.
Pelo caminho, parando para, de fato, observar o lugar melhor, pude ver que a tal sede dos jogos desse ano nada mais era do que uma larga extensão de terra e mato. Ao longe, conforme caminhávamos, era possível enxergar o que parecia ser o local das partidas, propriamente dito; grandes ginásios cobertos e quadras ao ar livre destacavam-se em meio à paisagem natural.
No entanto, fazíamos nossa caminhada para a direção contrária. Após alguns bons minutos, vi que nos aproximávamos do que parecia uma espécie de casa rústica, com uma fachada extensa e, até mesmo, muito bonita.
- Olá! – a mesma voz masculina de antes chamou a atenção de todos à frente, fazendo com que nos calássemos e parássemos à porta do lugar para o escutarmos. Tratava-se de um rapaz bastante atlético, de músculos bem definidos, voz relativamente mais fina do que sua aparência sugeria e idade, provavelmente, não tão longe da nossa. – Meu nome é Rico, e eu sou um dos organizadores dos jogos. – o sotaque rasgado, assim com a pele levemente morena, denunciavam suas origens evidentemente latinas. – Este aqui é o alojamento destinado ao internato Jauregui, onde vocês ficarão durante todo o fim de semana. – alguns ruídos mais contidos, porém satisfeitos, puderam ser ouvidos após isso. Rico ainda explicou que, ali, teríamos à nossa disposição todo tipo de refeição, bem como livre acesso à casa a qualquer hora do dia, já que poderíamos descansar no alojamento enquanto não estivéssemos jogando.
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O Internato
RomanceNão havia no país um colégio interno melhor conceituado do que o Internato Jauregui. As famílias, evidentemente poderosas, que, por uma velha tradição, faziam questão de matricularem seus herdeiros lá, dispunham de uma parcela bastante considerável...