Camila POV.
O silêncio no cômodo só não era absoluto pelo suspirar sereno e compassado da morena em meus braços.
Eu não sei dizer por quanto tempo exatamente fiquei esperando até que o choro de Lauren enfim cessasse, mas, quando aconteceu, foi como voltar a respirar.
O sufoco de seus soluços parecia fechar minha garganta, limitar os meus sentidos, atrofiar todos os meus músculos e me deixar ainda mais impotente do que eu já me sentia. Por horas eu rezei mentalmente, pedindo pra que o sofrimento da garota passasse.
Apertá-la em meus braços, com o tempo, pareceu não ser mais o suficiente. Reconfortá-la com a minha voz, no entanto, foi o que finalmente pareceu acalmá-la. Quando me dei conta disso, insisti em falar sobre tudo e sobre nada.
Contei-lhe sobre a minha semana, sobre aquele dia, sobre como a rotina do internato vinha me massacrando, sobre como Sofia se sentira eufórica ao me ver em casa aquela noite e sobre como os programas infantis de hoje em dia parecem assustadoramente ruins perto dos de "nossa época".
Bobagens.
Mas que com o passar das horas, fizeram com que seu corpo relaxasse por completo sobre o meu e com que seu choro se tornasse apenas um suspirar cansado contra a lateral do meu pescoço. Lauren escutara tudo atentamente do começo ao fim, em absoluto silêncio e, apenas de não emitir reação alguma, eu sabia que havia a atingido. Por algum razão, ouvir minha voz a tinha acalmado.
Àquele momento da madrugada, eu não fazia a mínima ideia de que horas eram. Por diversas vezes, ao longo da noite, eu tive medo de que fosse cedo o suficiente para que meus pais despertassem e não me encontrassem em casa. Mas somente o pensamento de deixar Lauren daquela maneira me fazia desistir de sair dali.
Agora, no entanto, o primeiro raio de sol surgia à janela do amplo quarto de hóspedes e eu tremi ao perceber que chegava ao meu limite. Eu precisaria ir embora imediatamente, se não quisesse dar uma de desaparecida para a minha família.
Assim, me movi sobre a cama com toda a cautela do mundo para não despertar uma Lauren, que eu achei que estivesse adormecida, ao tentar checar o horário em meu celular. Provando o contrário, o corpo da garota enrijeceu no exato momento em que eu me mexi e eu me surpreendi ao perceber que ela estava mais do que acordada.
- Ei... – disse no tom mais baixo possível, inclinando meu rosto sobre o dela e aproximando meus lábios de sua testa. – Eu preciso ir... – continuei com pesar, sentindo o aperto de seus braços em meu quadril afrouxar aos poucos. – Tenho que estar em casa antes que meus pais acordem... – expliquei e a sentir respirar fundo.
- Eu te levo. – respondeu roucamente após longos segundos de hesitação, afastando o corpo relutante do meu e sentando-se de costas para mim sobre o colchão, sem que eu tivesse a oportunidade de enxergar seu rosto.
Apoiando os cotovelos nos joelhos, ela deixou que sua cabeça descansasse sobre suas mãos e mais um suspiro pesado escapou de sua boca. A minha vontade foi de puxá-la novamente para perto e não sair nunca mais de cima daquela cama, mas a realidade, no entanto, não era essa, e eu precisaria sair dali o mais rápido possível caso quisesse chegar em casa a tempo de não ser vista.
Rastejei até a borda da cama, pegando sobre o chão as peças de roupas que eu encontrava pelo caminho, e me vesti com pressa, certificando-me finalmente de olhar as horas no celular assim que terminei.
06h17min.
Eu definitivamente não poderia contar com a sorte, por mais que estivéssemos na manhã de pleno sábado. Eu precisava ir para casa e precisava ir imediatamente.
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O Internato
RomanceNão havia no país um colégio interno melhor conceituado do que o Internato Jauregui. As famílias, evidentemente poderosas, que, por uma velha tradição, faziam questão de matricularem seus herdeiros lá, dispunham de uma parcela bastante considerável...