Lauren POV.
- Essa é a sua ideia de "almoço"? – questiono baixinho, com uma das sobrancelhas erguida e a ironia perceptível em minhas palavras.
Em minha frente, sentada ao lado oposto da pequena mesa, Camila prepara-se para trazer à boca, com as duas mãos, um sanduíche enorme, contendo provavelmente tudo de mais gorduroso que possa existir na face da Terra. Apesar da indignação real, é impossível não sorrir à cena.
- O que tem? – devolve a pergunta com total alienação, antes de afundar os dedos contra o pão e dar-lhe uma mordida maior do que consegue. – Eu estou com fome, ora. – completa de forma embolada, com a boca cheia.
- Claramente. – digo, sem conseguir evitar que meu sorriso involuntariamente se alargue. – Mas depois disso, nós vamos a um lugar com comida de verdade. Aí sim eu posso almoçar também.
- Se isso não for comida "de verdade" pra você... – responde-me, apontando com um dos dedos engordurados para o sanduíche gigantesco em seu prato, antes de completar. – ...então, eu estou curiosa pra saber o que é.
- Camila, ninguém almoça um sanduíche, ok? – a contrario, vendo-a escancarar a boca em indignação.
- O que parece que eu estou fazendo aqui agora?!
- Sendo uma criança sem educação. – respondo com uma risada, apontando um dos dedos em sua direção. – Não sabe que é feio falar de boca cheia?
- Diz a que está no meio da rua de pijamas... – solta num muxoxo, antes de dar mais uma mordida no sanduíche, deixando-me sem palavras.
- Fora de questão. – digo após alguns segundos, fazendo-a sorrir e revirar os olhos.
- Claramente. – me imita e, então, retorna a atenção ao seu prato.
Após a discussão na calçada, o clima entre nós parecia outro. Em verdade, até mesmo o universo parecia outro, feito uma realidade paralela onde os problemas haviam deixado de existir e tudo era bom pelo simples fato de estarmos agindo como um casal normal – o que infelizmente não estava nem perto de ser verdade, já que sequer éramos um casal e os problemas continuavam a nos rondar, mesmo naquele instante, ainda que ambas preferissem agir como se não soubessem disso.
Nos primeiros minutos de caminhada, nem eu, nem ela, nos atrevemos a abrir a boca sobre o que quer que fosse que havia acabado de acontecer. Tê-la segurando minha mão, com os dedos fortemente entrelaçados aos meus, num gesto absolutamente novo para mim, de maneira tão confortável e natural, era o suficiente. Não havia a necessidade de qualquer palavra ser dita ali – e, caso houvesse, eu certamente não me arriscaria a dizê-la e acabar atrapalhando o momento.
Por isso, foi somente quando o estômago da mais nova roncou ruidosamente que nós finalmente abrimos a boca e concordamos em parar na primeira lanchonete que vimos para que a morta de fome pudesse comer.
Agora que eu a tinha na minha frente, abocanhando o sanduíche enorme como se sua vida dependesse disso, sujando-se feito uma criança, eu simplesmente não conseguia tirar meus olhos dela. Até então, eu não havia tido a oportunidade de observar Camila atentamente; não após os últimos dois meses. Logo, agora que eu podia, eu não era capaz de desviar o meu olhar, mesmo quando a garota parecia uma pobre esfomeada.
- Ei. – chamei sua atenção após algum tempo em silêncio, indicando com um dos dedos o pequeno rastro de maionese que cobria o canto de sua boca.
- Hum? – devolveu-me sem entender, continuando a mastigar.
- Aqui. – insisti, de repente inclinando-me sobre a mesa para limpar a região com minha própria mão e mal percebendo quando o gesto por fim nos deixou perigosamente próximas.
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O Internato
RomanceNão havia no país um colégio interno melhor conceituado do que o Internato Jauregui. As famílias, evidentemente poderosas, que, por uma velha tradição, faziam questão de matricularem seus herdeiros lá, dispunham de uma parcela bastante considerável...