O Internato

Na estrada (Parte III)

Camila POV.

A forte luz do dia batendo contra o meu rosto foi a responsável por me acordar na manhã seguinte. O sol atravessava o vidro da janela, clareando todo o ambiente, me fazendo perceber que aquele dia seria completamente diferente do anterior. O céu, agora, estava lindamente ensolarado, completamente diferente do cinza chuvoso que tomou parte dele durante toda aquela madrugada.

Falando nela, por mais uma vez eu havia cedido, não é mesmo? Por mais uma vez, eu me deixei levar pelo que quer que fosse que eu sentia em relação à Lauren, porque eu, sinceramente, já não considerava mais aquilo como "desejo". Era mais do que só "desejo". Era algo forte o suficiente pra me fazer deixá-la avançar comigo até um ponto em que eu nunca chegara com outra pessoa em toda a minha vida.

Se eu havia realmente interrompido aquilo por conta do meu braço? Não. Se eu havia interrompido aquilo por insegurança, já que nunca tinha chegado àquele ponto com alguém? Também não. Muito pelo contrário. O que me fez interromper aquilo com a desculpa esfarrapada de que meu braço doía, foi justamente a vontade absurda que me tomou de simplesmente deixá-la fazer aquilo. A vontade absurda de simplesmente querer que ela me tocasse ali ou onde mais ela bem entendesse. E isso sim me assustara. Isso sim me fez recuar.

Eu deveria ter ficado com medo, não? Eu deveria ter ao menos pensado "eu não conheço Lauren o suficiente para compartilhar com ela um momento ou um gesto tão íntimo quanto aquele". Eu deveria ter querido me preservar daquilo pelo simples fato de eu nunca ter feito nada semelhante e, principalmente, por estar quase o fazendo com alguém com quem eu ainda não tinha toda aquela intimidade. Eu deveria ter querido me guardar, ou então ter dado para trás por falta de confiança. Eu deveria ter reagido pelos mesmos motivos que outra garota qualquer reagiria na mesma situação, meu Deus! Mas não. Eu ia simplesmente permiti-la. Eu queria permiti-la. E isso não era nada normal.

- Camila...? – a voz rouca dela chamou ao meu lado e eu me sobressaltei, virando-me em sua direção.

- Eu não sabia que você tava acordada... – disse baixinho, mantendo meus olhos abertos com dificuldade em meio à claridade do quarto.

Ela estava enrolada sob as cobertas, assim como eu, e me olhava com os olhos apertados. Os cabelos estavam bagunçados, esparramados por todo o travesseiro, e uma vontade estranha de afagá-los, de senti-los entre meus dedos, de acariciá-la ali, me tomou de repente, sem propósito ou motivo. Eu mordi fortemente o lábio, numa tentativa de conter a mim mesma, e a vi ajeitar-se novamente sobre a cama, fechando os olhos mais uma vez.

- É, mas estou. Infelizmente... – ela respondeu em meio a um suspiro, e ameaçou voltar a dormir.

- Acho que a gente precisa levantar, Lauren. Eu nem sei direito que horas são... – falei, colocando-me sobre os cotovelos e pegando meu celular sobre a cômoda ao lado. Olhei no visor e este marcava 7:56 da manhã. Nele, havia também uma mensagem de Dinah. Sorri ao lembrar da minha amiga e a abri para lê-la.

"Pra que fim de mundo vocês foram, hein?! Não consegui te ligar o dia todo! Se essa droga de mensagem chegar, me responda assim que ler, ouviu bem? E mande um beijo para Sofi e seus pais."

Sorri ainda mais abertamente ao terminar de ler e rapidamente digitei uma resposta.

Desculpe, DJ! Choveu ontem o dia todo. Acho que fiquei sem sinal. Está tudo bem por aí?

Ao meu lado, Lauren resmungou algo inaudível, enterrando o rosto no travesseiro, e eu revirei os olhos, pressionando enviar e colocando o celular de volta sobre a cômoda.

- Lauren. Vamos.

- Não. – ela respondeu com a voz abafada.

- Sim. Levanta. – disse, cutucando-a nos braços, o que a fez levantar a cabeça apenas para virá-la para o outro lado. Eu bufei e me coloquei sentada sobre a cama, arrancando o edredom de cima dela logo em seguida. – Vai, Lauren.