Flagra

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Lauren POV

O dia estaria sendo perfeito se ele não tivesse acabado de começar e eu não estivesse acordando ao invés de ainda estar dormindo. 7 horas da manhã. Meu despertador tocava no celular sobre a cômoda ao lado da minha cama como se tivesse, na verdade, tocando dentro da minha mente. O barulho não só pareceu ensurdecedor como ainda trazia uma sensação horrível, como se ele gritasse "to tocando porque você tem que acordar e você tem que acordar porque precisa trabalhar. Vai. Levanta essa bunda daí.". Trabalho. Palavrinha mais irritante. Eu mal tinha me formado no ensino médio e meus pais já tinham feito questão de me botar pra trabalhar. Às vezes eu penso que essa cisma toda que meus pais têm em me fazer cuidar da monitoria da biblioteca não existe só porque eles querem que eu acabe herdando o negócio da família, mas também porque eles sabem que de alguma maneira eles me castigam com isso.

Eu não tinha sido a filha mais comportada dos irmãos, sabe? Eu dei trabalho, confesso. Quando meus pais disseram que não iam me matricular no internato por questões administrativas, inventando a desculpinha de que talvez não fosse o mais ético me colocar pra estudar no mesmo colégio em que meu pai mandava e desmandava, eu simplesmente não acreditei. No fundo eu sabia que o medo deles era que eu aprontasse de tudo e mais um pouco nesse internato e os dois acabassem perdendo a moral e o respeito perante os demais alunos. Eu até entendia eles. Eu sabia que eu não era fácil. E como, graças aos dois, nunca me faltou nada nessa vida, eu nunca deixei de fazer tudo o que eu quisesse.

Agora, pelo jeito, eu pago por tudo isso tendo que trabalhar aqui, o que implica na coisa que eu mais odeio fazer na vida: acordar cedo. Bufei o mais alto que pude e me recusei a abrir os olhos. Procurei com uma das mãos o celular sobre a cômoda e o desliguei, virando-me para o outro lado da cama. Eu mal considerei continuar dormindo quando ouvi a porta do quarto ser aberta absolutamente do nada. Eu não tinha trancado essa merda?

- Nem tente. Quando se tem que trabalhar, não existe essa de mais cinco minutinhos. Ou cinquenta, no seu caso. Levanta. – ouvi a voz grossa e soltei um gemido manhoso, ainda de olhos fechados.

Não demorou um segundo e logo senti a coberta, que estava sobre mim, ser bruscamente arrancada do meu corpo.

- Pai! – exclamei, abrindo os olhos no mesmo instante e o encarando com raiva.

- Nada de "pai". Você precisa estar na biblioteca daqui a vinte minutos, Lauren. Os alunos logo menos começam a acordar. Muitos podem querer passar na biblioteca antes de irem para suas aulas. – ele estava de calça e camisa sociais pretas, com um sapato de couro da mesma cor. Nas mãos, folheava um bloco de anotações.

- O que você tá fazendo? – perguntei.

- São datas do conselho. Preciso remanejar algumas. O calendário desse ano tá ficando curto pra tanto compromisso... – ele respondeu num tom baixo e preocupado.

Continuei o observando preguiçosamente por alguns segundos, sem pressa alguma, até que ele parou, percebendo o que eu fazia – ou seja, enrolando – e me encarou novamente, erguendo as sobrancelhas em reprovação.

- Lauren.

- Tá, tá, tá. – exclamei, revirando os olhos e me levantando de vez da cama. – Pronto. To de pé. Não precisa ficar me regulando enquanto eu me troco, também.

Ele sorriu sarcástico e caminhou de volta até a porta, com o bloco ainda em mãos.

- Se eu não tivesse vindo te chamar, você teria ficado dormindo até a hora do almoço. No mínimo. Eu te conheço. – lhe lancei um olhar de descrença e ele completou, atravessando a porta e começando a se afastar. – 20 minutos, Lauren. 20.

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