Camila POV.
Fora como tomar um soco no estômago.
Ou, melhor dizendo, como levar um forte tapa no próprio rosto.
O estalo do golpe ecoou inesperado pelo corredor silencioso, até que todos os demais finalmente reagissem.
A mãe de Lauren praticamente grunhiu suas primeiras palavras em seguida, com o semblante enfurecido, e em menos de um segundo o senhor Jauregui estava de joelhos ao lado da filha, aparando-a com os grandes braços ao seu redor.
- Clara. – ele disse no tom mais firme que eu já havia escutado; suficiente para calar a esposa, apesar de sua expressão extremamente enraivecida.
Eu permaneci paralisada, pregada em meu lugar a alguns passos de Lauren, sem conseguir reagir depois de vivenciar tal cena. Meu olhar encontrou o de sua irmã mais nova ao fundo, Taylor, sentada em uma das cadeiras de espera, com o rosto estranhamente inexpressivo e os dedos das mãos trêmulos sobre o colo. Eu me perguntei se ela estava tão surpresa quanto eu por ter presenciado tal cena horrível e tremi ao pensar que, por seu semblante, a resposta talvez fosse negativa.
- Clara. – o senhor Jauregui voltou a falar e eu voltei minha atenção à mulher, percebendo que agora ela aproximava-se de mim com a postura decidida. – Clara, por Deus...! – ele bradou ao fundo, mas ela o ignorou, erguendo um dos dedos e apontando para o corredor às minhas costas.
- Vá embora daqui, garota! – gritou contra meu rosto assim que parou em minha frente e eu me sobressaltei assustada.
- Mas que inferno, mulher! – Michael gritou novamente, ameaçando levantar-se do chão, mas sendo impedido por Lauren.
Eu encontrei seu olhar, ainda sentindo-me em choque, e a vi engolir em seco antes de pedir com a voz baixa.
- Vá embora, por favor, Camila.
- Lau...
- Por favor. – ela frisou dessa vez e então fui eu quem engoli em seco.
Meu olhar foi de volta à Clara e ela ainda permanecia parada em minha frente, agora com os olhos perdidos em algum ponto às minhas costas. Taylor atrás de nós mirava o chão, parecendo completamente alheia, e Michael, por sua vez, me fitou com verdadeira dó, como se pedisse-me desculpas num gesto silencioso por tudo aquilo.
Eu inspirei fundo após alguns segundos de hesitação, rezando para que meus pés obedecessem os próximos estímulos, e finalmente consegui me mover, segurando a bagagem sobre os ombros, virando-me de costas e, então, caminhando de volta pelo corredor.
Algo me dizia que eu não deveria ter simplesmente partido dessa maneira, mas já não havia mais nada que eu pudesse fazer. Querendo ou não, eles estavam ali em família e o que ocorreria naquele hospital dizia respeito somente a eles. Não a mim.
De toda forma, a cena de Lauren sendo estapeada no rosto não saiu de minha mente por nem um segundo durante todo o trajeto de volta à minha casa e eu me senti sufocada por estar cada vez mais me distanciando dela, quando tudo o que eu via em seu olhar ao me pedir para ir embora, era, em verdade, uma tristeza absurda.
Ao chegar em casa, o ambiente pesado que eu estranhamente percebi instalar-se ali em muito me lembrou da áurea daquele corredor. Meus pais estavam ambos sentados sobre o grande sofá da sala, com os semblantes aflitos, e eu me perguntei sobre o que eles conversavam antes de abruptamente interromperem-se no momento em que passei pela porta.
- O que aconteceu? – perguntei antes mesmo de os cumprimentar, largando a mala ao chão e vendo minha mãe sorrir forçadamente.
- Querida! Ally não nos avisou que vocês chegariam mais cedo!
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Internato
RomanceNão havia no país um colégio interno melhor conceituado do que o Internato Jauregui. As famílias, evidentemente poderosas, que, por uma velha tradição, faziam questão de matricularem seus herdeiros lá, dispunham de uma parcela bastante considerável...