Autocontrole

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Lauren POV.

Eu cocei os olhos numa tentativa de colocar meu olhar em foco, o que não deu muito certo por conta do sono que eu sentia. Tudo ao redor parecia embaçado e ao mesmo tempo iluminado demais. Sentia minha íris sensível e minhas pálpebras pesadas.

- Lauren, minha filha, dá pra você prestar atenção no que eu estou dizendo ao menos uma vez na vida? – ouvi o tom irritado do meu pai me despertar dos meus devaneios sonolentos e apenas olhei em sua direção, encarando-o com cara de paisagem. Ele bufou e sentou-se ao meu lado sobre a minha cama, pegando uma de minhas mãos entre as suas. – Hoje é um dia muito importante para mim. Para todo o internato. Para a nossa família. – ele continuou a dizer, olhando-me nos olhos. – Você pode, por favor, prometer que vai comparecer? Eu não quero ter que te obrigar a isso só porque é uma funcionária do colégio, Lauren. Quero que você vá porque é minha filha. E porque tenho muito orgulho disso.

Era manhã de terça-feira e eu, para variar, tinha sido acordada pelo meu pai, nada mais, nada menos, que às seis e meia da manhã. Dessa vez, a urgência em me ver de pé era pra falar sobre o tradicional evento que aconteceria ainda esta noite no internato. Nele, famílias importantes eram convidadas e o internato encarregava-se de provar com aquela noite que a instituição continuava de fato sendo a mais adequada para os seus filhos ingressarem nos estudos. Em outras palavras, era uma espécie de baile mais informal que acontecia anualmente nas primeiras semanas de aula basicamente para impressionar àqueles que desejavam matricular os filhos ali no ano seguinte. A presença de funcionários e alunos do último ano era obrigatória, bem como o traje social. Parece chato, não? E é mesmo.

- Pai...

- Sim? – ele me olhou ansioso, ainda segurando em minha mão. Eu realmente não estava com vontade de ir a uma festa em que eu sabia que teria que fazer o papel da filha perfeita que se dá incrivelmente bem com sua mãe. O que, evidentemente, não era verdade. Mas não seria a primeira vez que eu recusaria ir a esse evento e muito menos seria a primeira que eu, obviamente, acabaria indo contra a minha vontade.

- Tudo bem. Eu vou. – respondi por fim sem muita animação. Apesar do meu desanimo, meu pai abriu um sorriso enorme e se levantou rapidamente.

- Vou pedir para que preparem o seu traje. Sua mãe vai...

- Nem me interessa o que minha mãe vai ou não vai fazer, pai. – eu o cortei. – Você bem sabe que se eu aceito ir a esses eventos todo ano é por sua causa. Pela consideração que eu tenho a você. Não a ela. – disse com firmeza.

- Eu sei disso, Lauren. Mas sua mãe também...

- Pai. – eu o interrompi novamente. – Por favor. – eu disse e ele entendeu imediatamente que eu não queria continuar falando sobre a minha mãe. Não às seis e meia da manhã, pelo menos.

- Eu te vejo mais tarde. – ele disse, encerrando o assunto e aproximando-se da porta do quarto para sair. Eu assenti e tentei sorrir para ele, que sorriu de volta. Ele estava quase saindo quando resolveu falar de novo. – Ei. Nem pense em voltar a dormir, ouviu? Você tem que estar na biblioteca daqui à uma hora, Lauren.

- Eu já sei. – disse baixinho, virando-me para o outro lado sobre a cama, com um bico no rosto.

- Lauren, se você se atrasar, eu... – antes que ele pudesse terminar a frase, eu me levantei da cama no mesmo segundo e andei rapidamente até a porta, empurrando-a para fechá-la de uma vez e deixando-o do lado de fora.

- Tchau, pai! – gritei do lado de dentro, ouvindo-o bufar alto e dizer um "está avisado, Lauren", antes de sair andando.

Se eu havia conseguido descansar àquela hora antes de vir à biblioteca? Pff. Quem me dera. Mal fechei a porta na cara do meu pai e me dei conta de que os minutos tinham passado mais rápido do que eu imaginei. Logo, tive de correr para me arrumar ou acabaria me atrasando. Se todos os dias eu rezava para que as horas passassem o mais rápido possível e elas faziam questão de se arrastarem, hoje, justamente hoje, quando eu não queria que o dia terminasse logo, as horas pareceram voar. Quanto mais perto chegava do horário daquela bosta de festa, mais entediada ainda eu me sentia. Como prometido, meu pai tinha providenciado meu "traje social" e um vestido havia sido entregue no meu quarto há alguns minutos atrás. Era verde escuro, longo e levemente decotado. Eu me apoiava à porta do banheiro e o encarava, esparramado sobre a cama, decidindo entre começar a me arrumar ou desistir de ir à festa de última hora.

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