Camila POV.
E lá vinha eu, andando pelos corredores pra longe daquela biblioteca, lutando com todas as minhas forças contra aquela vontade enorme que me dava de sorrir de orelha a orelha, porque eu não queria admitir que a idiotice que eu tinha acabado de fazer pudesse ter mudado meu humor daquela forma. Às vezes, minha consciência gritava "é uma garota, Camila, você ficou louca?!". Outras vezes, "ela é uma funcionária do colégio, isso é errado em tantos níveis!". E em algumas outras, "você mal a conhece, é perigoso!". Ok. Eu havia entendido o recado. Não existia ponto positivo nenhum na história. Nada que justificasse o sorriso bobo que teimava em crescer nos meus lábios. Nada que favorecesse aquela situação maluca. A não ser o simples e único fato de Lauren ter mexido comigo como ninguém nunca havia mexido antes.
Céus, como eu tinha vindo parar aqui? Nessa situação? Eu sempre achei que um belo dia eu simplesmente fosse olhar nos olhos de um garoto maravilhoso, me apaixonar perdidamente a primeira vista e acabar passando o resto da minha vida com ele. Sim, eu era intensa assim. Não havia conhecido muitos garotos ao longo da minha vida. O primeiro deles com que tive maior contato tinha sido Austin – se não considerarmos, é claro, o namoradinho de colégio que tive há alguns anos, por quem eu fiz o favor de passar uma semana inteira chorando depois de ele ter sido transferido do internato. Coisa idiota. Se eu soubesse que o teria superado em menos de um mês, sequer teria perdido meu tempo em conhecê-lo. Enfim. O fato era que eu nem havia beijado tantos garotos assim na vida. Que dirá uma garota!
Pra falar a verdade, a atração que eu senti no instante em que preguei meus olhos em Lauren ainda há pouco, nem de longe parecia ter relação com o fato de ela ser uma mulher. Eu senti algo tão insanamente intenso crescer dentro de mim naquele momento, que Lauren poderia ser homem, mulher, alien, o que fosse. Eu teria a beijado de qualquer forma ou teria explodido de desejo. A questão pra mim não tinha nada a ver com ela ser mulher e, sim, com ela ser ela. E por mais sem sentido que pareça, isso me preocupava ainda mais.
- Você anda com um hábito terrível de abandonar as pessoas por aí. – Dinah disse no momento em que eu entrei em nosso dormitório.
- Onde você foi? – Ally perguntou logo em seguida, aproximando-se de mim.
- Lembrei que tinha que pegar um livro na biblioteca. – eu inventei rapidamente, desviando-me de Ally e seguindo até minha cama.
- Um livro? – Dinah questionou, cruzando os braços sobre o peito e me observando desconfiada.
- Uhum. – eu respondi casualmente, começando a retirar meu uniforme para me trocar.
- E onde ele está? – eu ouvi sua voz enquanto passava minha blusa sobre a cabeça para retirá-la e tive vontade de me socar.
- Ahm. Já tinham reservado ele antes de mim. Vocês sabem. Versão única. – inventei mais uma vez, virando-me de costas para continuar a me despir sem ter mais que encará-las.
- Sei. – ouvi Ally dizer baixinho e logo senti que alguém havia se sentado sobre a minha cama atrás de mim. Terminei de me trocar rapidamente, vestindo o meu pijama, e me virei novamente para encontrar Dinah me encarando com seriedade. Suspirei pesadamente e me sentei sobre a cama de frente para ela.
- O que? – questionei, já sabendo o que viria a seguir.
- Não é de hoje que você anda aérea e agindo estranha. – Ally quem falou, aproximando-se da minha cama e sentando-se num cantinho ao meu lado. – A gente tentou te respeitar ao máximo, mas a verdade é que nós somos suas amigas, Mila. Melhores amigas. Se existe algum problema, você não só pode contar pra gente, como deve. Nós estamos aqui pra te ajudar no que for...
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O Internato
RomanceNão havia no país um colégio interno melhor conceituado do que o Internato Jauregui. As famílias, evidentemente poderosas, que, por uma velha tradição, faziam questão de matricularem seus herdeiros lá, dispunham de uma parcela bastante considerável...