Tessa quase acabou comigo de tanto treinarmos, em compensação aprendi muito sobre as Geminis, truques, trapaças, bastante coisas mesmo.
- Tessa?- Chamei.
- Diga Hyers.- Ela respondeu quase indiferentemente.
- Você me ensinou a me defender das Geminis...mas você não consegue defender a si mesma delas.
- Como é que é garoto?- Ela arqueou as sobrancelhas.
- É, tipo, não no aspecto de luta, você é boa nisso, mas parece que elas entram na sua mente e você dá uma surtada com isso, elas fazem você parecer uma garotinha assustada.
Ela fechou os olhos e deu um suspiro, franziu a testa.
- Jessie Irons Duncan, ela é profissional em torturar pessoas psicológicamente e emocionalmente, Cassie sabe muito bem como manipulr alguém, elas arrancam as piores lembranças de mim, elas são as únicas que conseguem me assustar de verdade.- Ela disse, receosa em confessar aquilo.
- Tessa, você é forte, eu sei disso, não deixe o seu passado doer mais do que seu presente.
- Nada dói no meu presente.
- Até agora...sabe que muitos vão morrer.- Eu disse.
- Isso já é o futuro.
- Posso saber o que aconteceu?- Perguntei.
- Aí já estaria no segundo ponto, eu deixaria que fosse meu amigo.- Ela disse.
- Pra mim você já está no segundo ponto.- Eu disse, ela olhou para mim e respirou fundo.
- É segredo.- Ela disse.- E se disser pra alguém eu te esfaqueio.- Ela disse sorrindo irônicamente e mostrando o canivete.
- Parece bem convincente.- Sorri.
- Eu, Courage, Jessie e Cassie, éramos primos e melhores amigos, mas aí a morbo começou, de alguma maneira Jessie e Cassie foram contaminadas...elas...um dia Courage e eu estávamos conversando sobre elas, elas estavam de repouso e não sabíamos as fases delas, foi aí que elas acordaram, elas mudaram, não eram mais aquelas que conhecíamos, eram...coisas diferentes...eram tudo que eu não queria que viessem a se tornar...
- Eram maníacas.- Eu confirmei, doía muito para Tessa dizer aquilo, por baixo daquela garota dura, fria e rude, existia uma garota ferida, frágil e castigada pela vida, aquela que ela demonstrava ser era apenas uma máscara, e aos poucos eu estava conhecendo a garota por trás dela.
-...É...elas nos surpreenderam...eu não sabia lutar na época...Courage simplesmente fugiu enquanto pedíamos socorro...por isso o odeio tanto...
- Eu não sabia...foi mal.- Eu disse, os olhos dela marejavam, mas ela logo suspirou e deu um sorrisinho, tentando não chorar, Tessa era verdadeiramente forte, por que tinha medo de não parecer?
-...Jessie e Cassie mataram os pais delas, os pais de Courage e logo depois...os meus.- Ela disse, baixei o olhar.
- Tessa...- Eu segurei a mão dela e ela olhou para mim ainda tentando não chorar.-...Somos uma dupla agora lembra? Tô com você.- Eu disse, ela deu um sorrisinho, ainda meio abalada.
- Me solta Hyers.- Ela puxou a mão dela e saiu andando de volta para o laboratório, fui junto com ela e fui até o "quarto" de meu pai, Trinity não estava por lá, e ele estava afiando suas facas.
- Cadê a Trin?- Perguntei.
- Ah, ela disse que ia dar uma voltinha.- Ele colocou uma das facas no chão e pegou outra, se preparando para repitir o ato.
- Ela tá com o Jaydan.- Resmunguei.
- O que disse?- Ele perguntou.
- Nada importante.- Menti sorrindo.
- Ok.
Um longo silêncio pairou entre nós, eu peguei amoras que Trinity provavelmente havia trazido, estavam em um cesto transparente.
- Como foi com a garota?- Meu pai perguntou, quebrando o silêncio.
- De boa, tirando o fato de ela ter chutado minhas partes baixas.- Eu levantei as sobrancelhas, meu pai gargalhou.- Fez isso de sacanagem, não foi?- Perguntei quase retóricamente por já saber a resposta.
- Demorou o dia inteiro para perceber?- Meu pai perguntou com sarcasmo, respirei fundo.
- Que se dane...- Resmunguei e começei a comer algumas amoras.
O silêncio tomou conta do ambiente de novo, a única coisa que eu conseguia ouvir era o barulho das facas sendo afiadas, sendo preparadas para cortarem qualquer coisa, até que escutei barulho de passos correndo e estranhei.
- Aldous! Maximus!- Luna apareceu na sala desesperada, ela estava inquieta, muito nervosa.
"O que aconteceu?" Perguntei mentalmente.
- Luna, o que houve?- Meu pai perguntou.
- Courage, ele saiu do Millenium com Vicky para treinar, Vicky tentou evitar mas ele não escutou, ele disse que foi brincadeira mas...- Ela falava gesticulando e dando voltas de um lado para o outro.
- Lu, se acalma, o que aconteceu com Courage?- Perguntei, preocupado principalmente com Vicky, a garota podia ser meio chata às vezes mas eu não iria querer mal a ela.
- Ele contraiu a morbo, ainda não dá pra saber a fase mas ele tá horrível.- Ela disse as pupilas dela tremiam, era estranho, eu não conseguia parar de reparar.
Luna era uma garota extremamente delicada e frágil, qualquer coisa poderia fazer ela ficar desesperada, ela nos adora, cada um de nós, e é adorada por todos, mas lutava muito bem.
- Me leve até ele.- Eu disse, ela segurou minha mão e correu até uma sala, Courage estava em cima de uma maca, ele se contorcia, suava muito.
- O que você fez?- Perguntei.
- Deu merda...não era...pra...acontecer isso!!- Ele se contorceu novamente, parecia que estavam arrancando algum órgão dele, Vicky chorava muito.
- Ele saiu do Millenium, alguns maníacos pegaram ele, eram soldados das Geminis mas...eu falei pra ele, mas um deles simplesmente injetou sangue contaminado nele, ele podia só ter jogado mas ele injetou o sangue, só pra infectá-lo, eu não consegui nem fazer nada eu só...- Vicky argumentava, ela não conseguia nem falar direito, vi um ferimento na perna dela, um corte profundo.
- Você está ferida Vicky.- Eu disse interrompendo, ela olhou para a perna dela.
- Não foi nada demais.- Ela afirmou.
- Vem cá.- Eu abri meus braços, ela veio mancando até mim e me abraçou.- Pede pra Luna cuidar do seu ferimento, tá bom?
- Ok Max.- Ela assentiu e saiu da sala.
Eu sabia que quando o infectado se contorcia podia se tornar "Esquizofrênico", "Assassino", "Canibal" ou "Vampiro".
Eu torcia para que ele se tornasse "Esquizofrênico".
Ele parou de contorcer, seus olhos estavam vermelhos, como se ele estivesse com conjuntivite ou coisa assim, ele mexeu a cabeça.
- Max...não, eu não quero isso!! Eu não quero ser maníaco!!- Ele disse.
- Calma cara, vai ficar tudo bem.
- Maximus, me ajuda!!- Ele exclamou, eu odiava ver qualquer um assim, eu e ele já fomos bem amigos, mas desde que Tessa chegou ele se afastou um pouco de mim, do mesmo jeito o cara ainda era um amigo, mesmo que Tessa dissesse que ele era covarde.
- Eu queria poder.- Eu disse.
- Tá doendo pra caralho cara!!- Ele disse, ele tentava não gritar, e se mexia.
- Tenta ficar calmo.- Eu disse, baixei o olhar, eu não queria olhar mais nada.
Tessa chegou na sala, ela olhou para ele.
- Courage...como você foi estúpido.- Ela disse, também com receio de olhar para ele.
- Tessa...eu não sei o que vai acontecer comigo, mas por favor, me perdoa, sei que abandonei a família inteira quando vocês precisaram, sei que fui um babaca em deixar que a maioria morresse...
- Seus pais morreram.- Ela disse, ele franziu as sobrancelhas e fechou os olhos.
- Eu...imaginei, você é a única parente que ainda tenho, a única com quem ainda posso consertar as coisas.- Ele disse, Tessa olhou para ele.
- Não consigo.- Ela disse, e saiu andando, segurei o braço dela.
- Tessa...
- Não Maximus.- Ela me interrompeu e puxou o braço dela de volta, ela saiu da sala, Trinity e Jaydan entraram.
"Eu sabia que ela estava com ele" Pensei.
- Fiquei sabendo...nossa.- Jay disse.
- É.- Assenti, Courage tentou se levantar freneticamente, parecia um louco em um manicômio, Trinity pegou uma seringa com um líquido azulado, ela segurou Courage e aplicou o líquido no pescoço dele, ele parou de se mexer.- Trin o que é isso?- Perguntei.
- Tranquilizante.- Ela respondeu.
- Qual fase acha que ele terá?- Jay perguntou.
- Não sei, só saberemos quando ele acordar.- Trinity disse, ela saiu da sala.
- O que acha? De chute?- Jay perguntou.
- "Esquizofrênico", sendo otimista, mas a verdade...eu tô com um mal pressentimento quanto a ele...

VOCÊ ESTÁ LENDO
Descendentes_Livro 3
Science FictionMeu nome é Maximus Sparks Hyers, eu tenho dezenove anos de idade. Durante duzentos anos, maníacos (infectados quase 100% curados) e humanos viveram em paz, como se fossem um só, sem preconceitos ou julgamentos. Mas há alguns meses atrás, houve uma...