Trilhas Mentais

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- Bem-vinda senhorita Sparks.- Foi o que uma voz metálica disse quando passei pela porta, eu olhei de um lado para o outro e só vi escuridão, senti arrepios percorrerem meu corpo, sempre odiei o escuro; Mas no exato momento que eu pensei em recuar a porta se fechou.- Esse é um dos lados mais profundos da sua mente.- Aquela voz disse, eu perguntei para mim mesma mentalmente naquele instante: "Que lado?" E como se a voz respondesse a minha pergunta, ela disse: - O lado onde ficam guardados os seus medos.
Eu fiquei completamente petrificada com o jeito e com o tom de voz em que aquilo foi dito, a voz que antes era metálica ficou mais grossa e estranhamente assustadora, a mesma frase começou a ser murmurada incessantemente com aquele mesmo tom de voz, e eu, desesperada e sem a mínima idéia do que fazer, apenas saí correndo mesmo sem ver um palmo do que havia a minha frente, e a cada passo a voz ficava mais alta.
Era perturbador, parecia que a frase se grudava na minha cabeça a cada vez que era dita, eu só sentia agonia.
- Para!!!- Gritei, e quando eu fiz isso tropecei e bati a testa no chão, fiquei deitada no chão de olhos fechados e com a mão na minha testa e mesmo de olhos fechados a minha cabeça parecia girar, até que abri os olhos lentamente, pude ver uma luz muito forte, fiquei bem mais atordoada do que já estava, mas me levantei, a sensação ruim logo ia sumindo, a sala era vermelha e tinha uma porta transparente e uma janela enorme, do lado de fora dela haviam flores mortas e um líquido vermelho começou a escorrer, eu ouvi um grito e vi que vinha de um outro cômodo, vi uma adaga em cima de uma cadeira. Parei e hesitei por algum tempo mas finalmente peguei a adaga e abri a porta, o corredor era estreito e completamente diferente do quarto, era branco e com luzes azuis.
Eu escutei alguns barulhos enquanto me aproximava, eu não sabia exatamente do que era, mas eu tinha um pressentimento ruim, embora a curiosidade falasse mais alto.
Eu entrei na primeira porta que encontrei, e quando entrei vi um palhaço, ele era maníaco e havia um homem morto pendurado por um gancho em um armário, sempre tive medo de palhaços, ele deu um sorriso diabólico e gargalhou, eu dei um grito e fechei os olhos.
"Acorda, acorda, acorda por favor, você sabe que é só um sonho ruim." Eu dizia para mim mesma.
- Sinto muito mas não é só um sonho ruim.- A voz disse.
- Cala a boca!!- Eu gritei.
Do nada eu fiquei sem poder me mexer, paralisada, senti um formigamento nas minhas pernas, fiz força e consegui mexer minha cabeça, e por mais incrível que pareça me arrependi desse ato, vi vários insetos subindo pelas minhas pernas, a minha respiração começou a falhar, de algum modo, Era descobriu meus medos e fobias, o que era incrível.
Os insetos começaram a subir por todo o meu corpo, entrando até pelos meus ouvidos e pela minha boca, eu só sentia formigamentos, eu estava a ponto de desmaiar de tanta adrenalina presente no meu corpo, os insetos simplesmente sumiram e eu estranhei, eu respirava com dificuldade e olhava de um lado para o outro desesperada, até que Era apareceu, eu começei a dar passos para trás e ela gargalhou.
- Bom saber que sou um dos seus medos queridinha!- Ela disse.
- Sai da droga da minha cabeça!!- Exclamei e saí correndo, eu só ouvia a gargalhada dela.
- Eternity!- Olhei para trás e vi Coy.
- Coy?!- Perguntei.
- Eny, calma, sou eu.- Ela riu, eu corri e abraçei ela.
- Que bom que está aqui.- Eu disse em voz baixa, já deixando o alívio tomar conta de mim.
- Eternity...- Ela sussurrou, larguei ela sorrindo, mas meu sorriso desapareceu quando percebi que escorria sangue da boca dela.
- Coy?- Perguntei, ela caiu no chão e vi que havia uma grande quantidade de sangue no peito dela, eu estava segurando uma adaga ensanguentada, soltei a adaga assustada e fiquei parada, vi sombras no chão que pareciam tentar me arrastar, eu só começei a ignorar as vozes que me chamavam e as sombras que eu via, até que as minhas pernas cambalearam e caí novamente, entre quatro pilares cinzas.
Começei a chorar, afinal era minha mente, eu podia muito bem chorar o quanto quisesse sem ser por dor e sem ser julgada por qualquer outra pessoa; O mais estranho é que começou a chover, literalmente.
Ouvi passos se aproximando, sabia que podia ser Era ou qualquer um daqueles truques que ela colocou na minha mente para me enlouquecer.
- Me tira dessa parte da minha mente, por favor.- Eu disse.- Nunca mais vou implorar nada para você, mas Era, por favor me tira dessa parte da minha mente.- Eu disse.
- Já saiu dela.- Uma voz familiar disse, não metálica, nem a voz de Era, eu me virei para trás um pouco confusa com tudo aquilo, a chuva parou e só então pude ver quem era.

- Uma voz familiar disse, não metálica, nem a voz de Era, eu me virei para trás um pouco confusa com tudo aquilo, a chuva parou e só então pude ver quem era

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- Perdão se eu lhe assustei, essa obviamente não foi a intenção.- Ele disse, aquele garoto que por mais cínico e mentiroso que eu achasse ainda conseguia ser super educado, sim, Igor Avallan, ou melhor, Sanderson, filho de Erika Sanderson, a grande vaca.
- Você é real?- Perguntei, ele deu um sorrisinho.
- Me acha mesmo cínico e mentiroso?- Ele perguntou.
- Para de ler a minha mente, não tem esse direito.- Eu disse indignada, enxuguei as lágrimas e cruzei os braços e o sorriso dele ficou maior.
- Tudo bem, então eu saio dela.- Ele deu de ombros e saiu andando, bufei.
- Espera.- Eu disse, ele se virou, eu desviei o olhar.
- Não me deixa sozinha nesse lugar.- Eu disse.
- Tem medo da sua própria mente?- Ele levantou as sobrancelhas.
- Não, mas tenho medo do que vocês fizeram com ela, quer dizer, trazer meus piores medos à tona é parte do meu dia-a-dia.- Eu disse em tom frio.
- Seria inconveniente se eu dissesse que você é franca demais às vezes?- Ele sorriu.
- Inconveniente é quando se entra na mente de alguém sem a autorização dessa pessoa.- Respondi.
- Vai ficar revidando ou vai admitir logo que quer que eu fique?- Perguntei, se as pessoas pudessem realmente ter a habilidade de ler a mente dos outros, acho que o mundo seria um desastre, eu fiquei olhando para ele sem saber o que dizer.- Não precisa responder, eu já sei a resposta.- Ele disse em tom de ironia.
- Só quero que fique porque estou literalmente perdida na minha própria mente, apenas por isso, quando eu estiver me sentindo melhor, vá embora.- Eu disse.
- Você é definitivamente a garota mais terrível que eu já conheci.- Ele disse.
- Sério? Sua mãe é bem pior.- Eu ironizei.
- Eu devo isso à ela.- Ele disse.
- Quer mesmo isso? Ser o filho daquela carrasca?
- Ela me prometeu o mundo Eternity, acho que não sabe o quanto o poder pode corromper pessoas boas.- Ele disse.
- E você quer herdar mesmo o mundo que ela está transformando em escravidão?- Perguntei.
- Você não mudaria quem você é para governar o mundo?- Ele perguntou.
- Não, porque eu tenho caráter.- Eu disse, ele se aproximou de mim, eu fiquei nervosa, claro.
- Você tem medo da minha mãe, mas não tem medo de mim.- Ele afirmou.
- De jeito nenhum.- Eu confirmei.
- Não foi uma pergunta.- Ele disse de forma rude.
- Não adianta ser grosso, não vai me intimidar assim.- Eu disse, ele ficou me encarando.
- Eu poderia te matar, aqui e agora.- Ele disse.
- E por que não mata? Já que é o que você quer.- Desafiei.
- Porque não é o que eu quero, eu poderia matar qualquer um sem pestanejar mas seria bem mais difícil te matar.- Ele disse.
- Qual é a diferença?- Perguntei.- Entre mim e "qualquer um".- Completei, ele ia dizer alguma coisa, mas ao invés disso só segurou a minha mão.
- Disse que eu precisava ir embora quando estivesse melhor, e você parece bem melhor agora.- Ele disse frio.
- Apenas me tire da minha mente, por favor.- Pedi.
- Certo, você e seus primos seriam os primeiros a conseguir mesmo.- Ele disse.
- Por que acha?- Dei de ombros.
- Não acho, tenho certeza, e isso você vai ter que descobrir sozinha.- Ele disse e saiu correndo.
- Igor?- Chamei, ele sumiu no meio daquele lugar.
- Eny?- Ouvi a voz reconfortante de Maximus, me virei e vi Luke e Liam também.
- Oi gente.- Eu sorri, eles pareciam felizes por me verem.
Subitamente, eu me levantei e começei a tossir, estava realmente chovendo, mas a sensação era verdadeira, vi Max, Luke e Liam perto de mim, os outros ainda pareciam estar em transe, mas nós não, estávamos acordados...

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