O caminho foi torturante.
Minhas mãos gelavam enquanto as palavras de Renan martelavam sem parar em minha memória fresca. Renan estaria mentindo? Eu não sei, eu realmente não sei. A lembrança de quando Donnovan me salvou ainda está presente, mesmo que não seja tão nítida quanto era naquela hora, um aconchego estranho e confortável. Seria esse o aconchego de um pai?
A floresta se torna cada vez mais silenciosa e fria, Donnovan se movia entre os troncos das árvores como se aquilo fosse parte de seu ser, seus passos eram cautelosos, como um tigre quando vai à caça.
Renan vai voando ao seu lado conversando sobre algo que eu não compreendia pela distância, como se os dois fossem amigos de longa data.
Eu estava mais atrás, apenas observando os dois, escutando os galhos quebrando abaixo de meus pés e as corujas cantando junto ao vento suave aos meus ouvidos. As lágrimas queriam vim, eu já podia senti-las guardada em meus olhos, esperando o momento certo – ou não – para serem derramadas.
A neblina por sua vez estava se tornando mais densa, e aquilo era o sinal de que eu precisava para que acelerasse meus passos para acompanhá-los antes que os perdesse de vista.
Renan olha para trás e depois fala algo com Donnovan que vira para olhar para mim. Meu coração deu um breve salto com seu olhar com um pouco de preocupação escondido atrás de sua máscara de frieza.
– Melhor acelerar os passos, Esmeralda. A neblina irá ficar mais densa, e se não acelerar os passos poderá se perder. Acredite, não somos os únicos seres que estão nessa floresta.
Andei um pouco mais rápido para perto dos dois, segurando com força a minha capa envolta de mim.
– Desculpe. – falo em um sussurro desviando do seu olhar cinza adormecido na frieza.
Ele apenas deu um sorriso forçado e voltou a caminhar. Dou um passo para segui-los, mas uma dor de cabeça veio em mim, fazendo com que me ajoelhasse lentamente ao chão.
– Não vá Esmeralda! É uma cilada! – minha mãe falava em desespero em minha mente.
— Cilada? — murmurei para mim mesma.
— Donnovan não se lembra de você! Não se lembra de nós! Ele está cumprindo ordens, isso é uma cilada! Fuja o mais rápido que conseguir. — minha mãe falou em um tom mais calmo para mim.
Olho para frente, Renan e Donnovan já estavam muito a frente, eu teria de correr para acompanhá-los.
— Mas... Por que ele me salvou? — indaguei em pensamento.
— Irei explicar depois. Venha para o reino de Escarlate. Venha. Antes que seja tarde. — suas palavras foram se esvaindo em minha consciência e logo a dor se foi.
Levanto desnorteada do chão úmido da floresta, olhei para todos os lados em busca do sinal dos dois, até que percebi pegadas. As pegadas de Donnovan.
Fui seguindo o par de pegadas a minha frente até que me bato em algo fazendo com que caísse.
Pisco algumas vezes e um grito de desespero se formou em minha garganta ao perceber um Guts – ou como o chamo – uma das réplicas dos dementadores do Harry Potter.
Levanto-me rapidamente, segurando a minha mochila de couro quando percebi que ainda estava comigo.
Renan está preso em uma jaula, com um olhar abatido e com sua cabeça baixa.
— Ora, ora, ora... Caíram tão bem nesta cilada que nem foi preciso de meu exército. — Donnovan aparece com uma risada fria e agonizante aos meus ouvidos.
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Herdeira Mestiça (Duologia Sekret - Livro I)
Fantasy(Revisado. Continuação disponível/Coração Selvagem.) Em Sekret, uma história está escondida e um segredo ronda até os cantos mais sombrios e encantados de suas florestas místicas. O trono precisa de uma herdeira, mas diante de sua necessidade, uma l...