Capítulo 38 - Recomeço

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"Por que está chorando?" Ethan indagou aparentemente cansado.

"Acabou... Mas, o que farei agora? O reino se foi." Meus soluços eram possíveis de perceber até pelos meus pensamentos.

Ethan então se cala e desde então não o escutei mais em pensamentos. Olhar aquele desastre me cortava ao meio, eu desejei mais que nunca não ter me lembrado de tudo que acontecera, tudo destruído pela maldade de Kéffera... Os que foram mortos nem ao menos tiveram direito de um funeral digno, foram todos aniquilados sem nenhuma piedade.

Até mesmo as crianças e os membros mais velhos não foram poupados deste massacre desumano.

Caminho entre as ruínas do palácio que agora mais parecia um fundo de um mar seco por tantas pedras, começo a procurar vestígios dos corpos dos que ali viviam e trabalhavam, mas cada vez eu percebia que não havia nada ali a não ser pedras e mais pedras.

"O que Kéffera fizera com os corpos?"

— Nada, eu imagino.

Num susto eu olho para o céu e percebo a tempestade se dissipando mais e mais até dar lugar a um céu azul. Observo mais atentamente para quem era o dono da voz, e consigo avistar várias silhuetas de seres com asas de diferentes tamanhos. Dragões, lobos, cavalos... Todos vestidos com armaduras de bronze, alguns poucos de prata e somente um deles com uma armadura dourada.

Um sorriso inevitável se forma em meu rosto e a vontade de chorar e rir ao mesmo tempo era enorme. Deveriam ter uns mil? Não sei, mas de uma coisa eu tinha certeza: Todos estavam bem.

Os dragões com armaduras pousaram ao chão, alguns com crianças e mulheres em suas costas, assim como os lobos brancos, negros e mestiços que estavam se aproximando. Mas como... O que havia acontecido?

— Não precisa se preocupar, Esmeralda. Kéffera não sabia dos nossos segundos planos.

Viro-me para trás e dou de cara com meu pai, que me encarava com um sorriso orgulhoso em seu rosto. Num gesto de alívio e felicidade o abraço fortemente.

— Isso é um sonho? — indaguei.

— Não, filha. Você conseguiu. Salvou a todos.

Fecho os meus olhos e me deixo desabar no choro para colocar para fora toda a tensão que havia passado naqueles últimos dias. Afasto-me depois de um tempo e olho para o reino, e algo incrível estava acontecendo.

Como num passe de mágica, o reino recomeçava... Suas florestas começaram a florescer novamente, as casas feitas nas árvores se formando junto com elas, o fogo se apagava enquanto um vento firme e não muito forte varria tudo o que não fazia parte daquele cenário.

— Hoje é o recomeço de tudo. Finalmente acabou. — sussurrei.


Finalmente teríamos paz novamente.

~.~.~.~

Quase dois anos se passaram depois do dia da guerra, e hoje estou com quase vinte. Meio velhinha, não é?

Hoje será o dia da minha coroação e o reino nunca estivera tão alegre e agitado como se está hoje, o que posso dizer sobre isto? Acredito que o que todos pensam que irei dizer. Ou não. Nunca estive tão feliz e em paz em Sekret.

Devem se perguntar o que aconteceu depois que descobri que quase todo o povo estavam bem... Bom, os que foram para a guerra contra os soldados de Kéffera, nem todos tiveram a sorte de estarem vivos até hoje. E isso ainda pode ser considerado um luto para nós em Sekret.

Depois de saber que o reino estava salvo, me perguntei onde estava Ethan, com alguma esperança de encontrá-lo no meio daquela multidão, mas infelizmente... Ninguém sabe—, até hoje —, onde é o seu paradeiro. Este fato me corta ao meio só em relembrá-lo, mas algo em meu peito me diz que em breve poderei revê-lo. Talvez seja coisa da minha cabeça.

Herdeira Mestiça (Duologia Sekret - Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora