Capítulo 37 - Herdeira Do Trono

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Sem lembranças... E mesmo assim persisto em prosseguir com minha jornada. Seja lá como Kéffera tenha feito essa barbaridade, não permitirei que ela saia impune. Meu corpo vibra ao pensar em desafiá-la para uma batalha cujo vencedor é aquele que sobrevive, mas ao mesmo tempo meu subconsciente aperta cada vez mais buscando fazer-me fugir desta maluquice em que um dia chamei de sonho.

— Não vai saber se não tentar, Esme. — Ethan aparece sorrateiramente me envolvendo por trás em um abraço aconchegante e... Talvez muito assanhado para mim.

— Eu sei... O que pensa que está fazendo? Lhe dei alguma permissão?

— Vejo que mesmo sem lembranças, a antiga Esme ainda está aí... Em algum lugar.

Ele dá um breve sorriso e me solta aos poucos, dirigindo seu olhar para as ruínas a nossa frente.

Imperdoável, eu poderia dizer. Todo o palácio onde me contaram que vivi minhas memórias... Ali, a minha frente... Destruído como um brinquedo de uma garotinha que fora derrubado pelo seu irmão um a dois anos mais velho.

Sem nem ao menos uma coluna de pé.

— Ora, ora, ora... — que fala mais clichê.

Uma voz feminina que me causou frio na espinha sussurra como uma brisa gelada acompanhada de pequenas gotas de chuva... Amedrontadora. Olho de um lado para outro a procura de quem era a dona da voz assim como Ethan -, que naquela altura parecia mais calmo que eu.

— Quem está aí?

O cenário ao nosso redor não contribuía para que eu me acalmasse... De alguma forma, só piorava a minha situação. Eu era tão covarde assim quando possuía memória?

O cheiro de folhas e troncos queimados impregnava o ar fresco que ali um dia existira, parecia com um seriado de zumbis, como The Walking Dead: Tudo era comum e depois, quase num piscar de olhos, a cidade estava totalmente arruinada, sem uma vida aparentemente presente.

— Não se lembra da sua rival, princesa?

Meu coração a qualquer instante poderia pular para fora de meu peito pela força que estava pulsando. Minhas mãos começaram a tremer e suar friamente. Esse era o momento que eu tanto ansiava? A guerra já havia findado, mas por que eu ainda estou aqui? Se eu ao menos soubesse como derrotar Kéffera... Mas nem isso tenho conhecimento.

Fixei meu olhar no chão que um dia fora um gramado bem verde e engoli a seco. Comprimindo meus punhos, engoli o choro de amargura e incerteza que se formava dentro de minha garganta. Essa batalha é somente minha, ninguém deve se envolver na mesma a não ser eu.

Chega de inocentes mortos.

Chega de gritos de desespero.

Enquanto eles sofriam, eu estava "bem" na Terra. Enquanto eles gritavam por socorro, eu nem ao menos me lembrava de onde eu era, e quem eu sou aqui. Injustiça, não? Concordo.

— Ethan...

Ethan me encara esperando que eu continuasse a dizer. Ele parecia calmo, mas seu peito ofegava rapidamente, estava claro que ele estava tão tenso quanto eu. Tão inseguro quanto eu.

— Vá embora.

Seus olhos se arregalaram levemente, mas logo ele se recompõe, porém seus olhos mostravam a verdadeira indignação.

— Esmeralda, acho que não devo...

— Chega, Ethan. Chega! Não quero que ninguém mais perca sua vida por um erro meu! Por favor...

Herdeira Mestiça (Duologia Sekret - Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora