Capítulo 35 - Olhar Esquecido

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Não me lembro como adormeci debruçada na janela e de como foi esse momento, mas as palavras ecoadas em meus ouvidos e a sensação de um beijo depositado em minha testa ainda estava presente.

Levanto a minha cabeça, e observo novamente o local onde a raposa estava, mas nada havia lá.

— Acho melhor descansar,Esme. Deve ter sido cansativo todo esse tempo no hospital. — Melissa se afasta repentinamente da janela e se direciona a sua cama.

— Na verdade, não estou. Estive em coma, não se lembra? Não tem nada a ver com cansaço. — sorri gentilmente para ela, buscando esquecer todas as bulhufas que havia presenciado sobre a raposa anormal azul.

— Realmente, havia me esquecido. Mas enfim. Vamos descansar porque amanhã será um longo dia.

— O que vai haver amanhã?

Melissa me encara com um olhar estranhamente sereno e passivo, mas ao mesmo tempo tão misterioso como a lembrança perdida de algo... Ou alguém.

— Na verdade, eu não faço idéia. Nossos pais devem saber, afinal foram eles quem me avisaram.

Ela dá de ombros e se deita em sua cama, fechando os olhos imediatamente, como quem não dorme há dias. Suspiro fracamente e me sento na cama próxima a porta, repousando minha cabeça sobre o travesseiro e encarando aquele teto que era tão simples mas ao mesmo tempo tão familiar.

Por fim pego no sono, como se o coma em que eu estive não fosse o suficiente para acalmar o meu corpo e matar o meu cansaço.

Deixei os sonhos me envolverem em um abraço aconchegante e ao mesmo tempo tão incerto. Levando-me para o fundo de minha consciência.

Talvez buscando vestígio de minha vida perdida em um eterno vazio frio e sombrio.

~.~.~.~

Não sei ao certo o que dizer.
E não sei ao certo o que pensar. Talvez fosse um país das maravilhas onde eu faria o papel da Alice, onde o chapeleiro me explicasse a mais complexa das leituras. Enfim, eu não sabia o que dizer sobre o estranho sonho que tomou conta de mim durante a minha noite.

Um lugar esplêndido, com as mais belas criaturas que já puderam ser contadas, ou quem sabe, nenhuma delas existisse afinal de contas. Eu estava sozinha, mas ao mesmo tempo parecia estar acompanhada por uma presença fria e sombria, porém tão aconchegante e protetora. É algo comum? Fruto de uma mente turbada por um coma cruel, ou a falta de memória que me causou tanta confusão?

Eu não sei... Eu gostaria de saber. Olhos. Olhos tão brilhantes quanto a luz da estrela mais brilhante do céu, um sorriso tão calmo e tão misterioso. O que isso tem haver com minha vida? Porque meu coração palpita só em observar sua expressão? Eu não sei... Mas gostaria de saber tanto quanto qualquer coisa.

— Esmeralda... Esmeralda... Esmeralda!

Em pulo grotesco levanto-me da cama fazendo uma dor de cabeça muito forte vim para mim.

— Pelos céus, Melissa! O que você quer por acaso?! — bufei enquanto calçava minhas pantufas que estavam aos pés da cama.

— Não me culpe. Foram nossos pais que pediram para te acordar, não tenho nenhum dedo envolvido nisso. — defendeu-se.

— Está certo. Irei me arrumar e logo depois desço. — respondi com um resmungo.

Melissa me olha por alguns instantes e logo se retira do quarto me deixando sozinha com a sensação de desconfiança que ela me escondia algo.

Herdeira Mestiça (Duologia Sekret - Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora