A Filha Das Trevas (LIVRO 1 - COMPLETO)

Capítulo Doze

        Belinda sentou-se na janela do quarto e o vento frio da noite bagunçou seus cabelos, seu rosto e boca ainda estavam doendo, mas ela tentava não se concentrar nisso, os soluços eram a única coisa que preenchiam o silêncio do quarto.
        Lestrange fora dormir tarde naquela noite, mas decidida a desfazer o trato com os Pierre, ela não era uma Malfoy e não ligava realmente para o que o fim daquele casamento arranjado causaria, a ela ou mesmo a família.

        Draco encarou Belinda e viu o canto da boca da menina machucado, os olhos estavam vermelhos e ele soube que ela passara a noite chorando, mas Belinda não dissera nada durante o café-da-manhã. Narcisa e Lucius não estavam mais ali, haviam saído cedo e Draco suspeitava que estavam com os Pierre.

        As duas primeiras semanas de férias chegaram ao fim e ninguém mais tocara no assunto de casamento ou mesmo noivado, mas Draco sabia que era só farsa, pois Lucius não permitiria que Belinda lhe desobedecesse e Belinda não deixaria que lhe ditassem o que fazer.
        Malfoy viu Belinda caminhar para fora do castelo, era finalzinho de tarde e logo o sol estaria se pondo, Draco sabia para onde ela estava indo.
-Para onde Belinda foi? —Narcisa perguntou e Draco deu de ombros.

        Belinda sentou-se na ponte de pedra em frente ao castelo Malfoy e ficou admirando o sol se despedir, os dias estavam monótonos e silenciosos, algo que Belinda já estava desacostumada, ela precisava conversar com alguém, rir e escutar as piadas que os amigos costumavam fazer, mas não havia nada e até dia 1 de setembro aquele silêncio infernal continuaria, a não ser que obtivesse um resultado positivo para o que planejava.
        Lestrange deixou sua mente viajar a milhares de quilômetros de onde se encontrava naquele instante, ela não queria pensar no que estava vivendo no momento, queria simplesmente esquecer tudo aquilo, então começou a pensar nos amigos e relembrar algumas das coisas que passaram juntos.

-Draco. —Narcisa o chamou e ele ergueu os olhos do livro.
-Senhora?
-Vá chamar Belinda para o jantar.
-Mãe, a senhora sabe que ela não aceitará se papai for jantar com a gente.
-Lucius não virá jantar hoje, terá um jantar de negócios. —A mulher sorriu para o menino. —Por favor, vá chama-la.
-Claro.
         Draco saiu da casa e a olhou, Belinda estava quieta, o cabelo dançava na brisa leve de verão, havia um sorriso tranquilo nos lábios da menina, os olhos estavam fechados. Desde muito nova Bell costumava sentar na ponte quando queria ficar sozinha, o único que sempre ousava se aproximar era Draco, mas as coisas estavam diferentes e ele sabia, mas ainda assim fora até onde ela estava.
-Lestrange, mamãe mandou você entrar pra jantar.
-E Lucius? —A voz estava indiferente.
-Não virá jantar em casa.
-Tá, já estou indo. —Draco a encarou, mas ela nem mesmo o olhou de volta, então ele lhe deu as costas e dois passos depois ouviu a voz da menina, clara e alta chamando-o. —O que houve?
-Como é? —Disse o loiro virando-se.
        Dessa vez Belinda o olhava, seus olhos se encontraram e Draco pensou em mil coisas, a amizade há muito deixada pra trás, a parceria. Ele obrigou-se a não pensar nisso.
-O que houve com a gente? —Disse ela, deixando-o confuso com a pergunta.
-O que queres dizer? —A voz de Malfoy estava seca, Bell sorriu minimamente, mas não parecia feliz, somente cansada.
-O que aconteceu para que nos afastássemos tanto? O que houve para começarmos a nos odiar? —Draco pensou em milhares de respostas.
-Você está zombando de mim sujeitinha de sangue sujo? —Obrigou-se a ser cruel, mas ela não pareceu dar importância.
-Não Draco, não estou zombando, estou somente tentando compreender. Que dizer, você já foi alguém que eu adorava a companhia, conversar e brincar, mas caiu tanto em minha concepção, que até parece besteira pensar em você como o cara legal e divertido que eu convivia e brincava. —Draco ficou sem ação por alguns poucos segundos, apenas encarando-a, então Belinda decidiu continuar. —Mas estou tão esgotada, de tudo, não exclusivamente de você. —Sorriu sem humor, um sorriso triste. —Estou cansada de Lucius, de não saber quem é minha família ou algo sobre ela, estou cansada de ficar presa nessa casa. —Suspirou e se concentrou, tentando colocar as palavras que passavam em sua cabeça em ordem.
"Éramos tão próximos, me pergunto repetidamente o que houve para acontecer isso. —Ela gesticulou para os dois, mostrando a distância e não somente física, Draco assimilava lentamente o que lhe era dito. —Assumo sentir saudades da gente, mas parece ridículo, não é? Sentir saudade da infância, digo. —Ela sorriu melancólica. —Malfoy, vamos assumir que você está tão cansado de ficar nessa casa quanto eu, não temos nada pra fazer, somos os únicos adolescentes aqui, na verdade, somos praticamente os únicos habitantes. Narcisa está sempre na biblioteca, Lucius nunca se encontra em casa... Somos somente nós dois. Você sabe que se eu tivesse alternativa não estaria aqui, estaria em qualquer outro lugar, mas não aqui. —Ela suspirou. —Teremos que nos suportar as férias inteiras, Lucius gosta de nos mostrar como a Família Perfeita, mesmo que a realidade seja muito diferente, mas por que não deixamos as coisas mais fáceis pra nós dois? Não estou pedindo que sejamos amigos como éramos na infância, somente quero que paremos de brigar, de nos criticar e xingar, pelo menos durante nossa temporada em casa. Eu só quero paz Draco, é a única coisa que desejo. Vamos fazer uma trégua, ok? É inevitável nossos diversos encontros diários. Então vamos facilitar. Não precisa me responder agora, somente pense e depois me fala o que acha."
       Draco não sabia o que pensar. Belinda podia estar zombando dele, podia estar falando sério, seus olhos estavam indecifráveis e a expressão impenetrável. Essa era uma Belinda que ele não conhecia bem, na verdade, não conhecia, então tornava difícil compreender.
-Por que faria uma trégua com você? —Ele disse seco.
-Porque no fundo, sabemos que somos feitos com a mesma matéria... Dois adolescentes marcados por algo que não vale nada, dois adolescentes tentando mostrar para o mundo que vale mais do que realmente todos acham. Eu e você somos assim, não podemos mudar nosso destino, você viu o mesmo que eu naquela borra de café, eu sei. —Ele pareceu mais calmo e triste, assim como Lestrange. —Somos dois instrumentos nas mãos erradas, Black.
-Você não sabe o que está dizendo, bastardinha. —Ele se obrigou a manter a indiferente, mas tava difícil.
         Sim, Draco havia visto a borra do café naquela maldita aula que tivera com a Grifinória e que fora obrigado a ser par de Belinda, mas ele não imaginava o que aconteceria e nunca odiara tanto a aula de adivinhação. Ele queria poder voltar e não olhar aquela maldita xícara com a borra de Belinda, mas olhou e viu tudo, assim como ela.
-Queria estar falando algo que não sei, realmente queria, você não faz ideia do quanto, mas eu sei e você também sabe.
-Você está blefando. —Mas ele não parecia tão certo.
-Não estou pedindo algo impossível Malfoy, nós já fomos amigos, mas não é isso que quero agora. —Ela suspirou e olhou para o horizonte.
-O que você está propondo é absurdo.
-Estou propondo a paz Draco, algo que eu e você não temos há um bom tempo. —Riu sem humor, um riso obscuro e seco, Draco notou a diferente no olhar da menina quando ela lhe encarou novamente e não era uma mudança boa. —E não saberemos futuramente.
-Lestrange, você...
-Pense no que conversamos, depois me dê sua resposta. —Ela se colocou de pé. —Daremos uma ilusão de paz para todos e para nós mesmos. Narcisa ficará mais tranquila. —Disse começando a caminhar.
-Não conversaremos mais Lestrange, deixe de idiotices.
       Belinda passou por Draco, indo para a sala de jantar. Quando chegou à porta olhou pra trás e Draco ainda estava no mesmo lugar que ela o deixara, Belinda sabia que ele viria falar com ela, mesmo tentando aparentar indiferença, obviamente ela não sabia se a resposta dele seria positiva, mas ela tinha certeza que ele ainda viria falar com ela sobre aquilo.
        Draco entrou uns cinco minutos depois da menina e viu todos a sua espera. O jantar foi silencioso e frio, Belinda estava quieta e sempre que Narcisa tentava puxar assunto, a menina cortava imediatamente.
        Belinda fora a primeira a sair da mesa, mas estava indisposta a ir pro quarto, então foi a biblioteca, pegou um livro, voltou para sala, se jogou no sofá e ficou ali por um tempo, parecia atenta ao que lia, mas Draco embora fingisse dar atenção ao Xadrez-Bruxo, não conseguia tirar da cabeça o que ela dissera mais cedo.
        Lestrange sentiu o sono se aproximar e fora para seu quarto, ao chegar lá viu um envelope marrom na escrivaninha, mas a coruja parecia ter ido embora antes de sua chegada ao quarto, a menina se aproximou e viu a letra média e legível de Brian.

Belinda, Sr. Malfoy esteve aqui em casa e falou com o papai, não consegui ouvir tudo, mas falavam sobre adiantar a data do casamento.
Não sei o que está havendo, entretanto sei que isso é de seu interesse, tanto quanto do meu. Olha, eu to com uma garota e sei que não será legal chegar com ela e falar que vou casar. Então amanhã irei até a mansão para vermos como burlar essa merda, nos falamos logo.
Beijos
Brian Pierre

-Que maravilha. —Soltou ela irritada.
        Belinda decidira não dar atenção para nada naquele momento, seu sono parecia nem ter existido, então se dirigiu ao banheiro e afundou na banheira, não queria pensar nos Pierre, nos Malfoy e em nada, queria somente relaxar, embora naquele momento fosse impossível. Após o banho ela voltara para o quarto, usando somente roupa de dormir, os cabelos estavam presos em um coque desorganizado, ela puxou uma jaqueta e fora para o primeiro andar, logo caminhou até a ponte e sentou-se ali. Pouco mais de uma hora se passou em um silêncio enlouquecedor, sua cabeça estava pesada e o sono não vinha e nem parecia que viria tão cedo.

-Belinda?
-Finalmente você chegou. —Disse ela encarando-o.
        Draco notou que ela não estava bem, parecia irritada e cansada. Belinda notou estar sendo observada.
-Você está horrível. —Disse ele e ela deu um pequeno sorriso. A voz de Draco não trazia nada, nem diversão e muito menos deboche.
-Então Malfoy, o que você decidiu?