Capítulo Dezoito

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        Belinda sentiu o estômago dar um nó, o enjôo tomou conta e ela o reprimiu. Alastor Moody conjurava a Maldição Cruciatus e a menina conseguia sentir a dor que ele provoca na aranha. Os nós de seus dedos estavam brancos de tanto apertar a barra da mesa, sua respiração estava rápida e entrecortada.
         Lestrange sabia que o homem havia parado e falava algo com Hermione, porém não conseguia controlar a respiração e ouvir seus batimentos cardíacos. Contudo conseguiu ver o que Moody fizera.
-Avada Kedavra! —A luz verde saiu da ponta da varinha e a aranha morreu.
       Belinda queria sair daquela sala imediatamente, mas sentia como se seus pés fossem feitos de chumbo, ela não conseguia se mexer, nem regular a respiração e muito menos desviar das aranhas nos potes e que haviam acabado de sofrer cada uma das Maldições Imperdoáveis.

        Belinda fora uma das primeiras a sair da sala quando a aula terminou, correndo para o banheiro e botando para fora tudo que estava em seu estômago. Ela se sentia febril, o mal estar tomando conta de cada um de seus músculos, deixando-a doente. A menina levantou com dificuldade e após dar a descarga, saiu da frente do vaso, indo lentamente até a pia. Ao se olhar no espelho notara o quão pálida estava e que uma gota de suor escorria por sua testa, ela ligou a torneira e encheu as mãos de água fria, despejando-a no rosto repetidas vezes. Quando estava bem o suficiente, caminhou discretamente para Torre de Astronomia e se jogou no chão, colocando a cabeça entre os joelhos e se obrigando a respirar fundo.

        Draco encarou a mesa dos Leões e percebera que Belinda não estava em lugar nenhum, ela sumira o dia inteiro e Malfoy recordou-se do último ocorrido de quando ela sumira, de encontrar a menina machucada e jogada longe do castelo. Ele respirou fundo. Lembrando-se de repente da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas e logo lhe ocorreu que a Grifinória tivera a mesma aula, imediatamente soube onde encontrar Lestrange.
        Draco se colocou de pé e pegou três bolinhos, percebeu que Blaise falava com ele, mas não deu importância, logo corria pelas escadas. Belinda estava sentada no centro da Torre de Astronomia, a expressão cansada, os olhos distantes e fragilizados, a pele muito pálida.
-Belinda? —Chamou baixo e tranquilamente, mas ainda assim ela se assustara e ergueu a varinha para ele, que ergueu as mãos para o céu. —Calma, sou eu.
-Desculpa.
       Draco sentou ao seu lado e estendeu um bolinho, que depois de ser muito estudado, ela aceitara.
-Foi a aula do velho maluco, não é?
-Ele... Ele...
-Eu sei. —Suspirou. —Eu também estava lá e vi tudo, lembra? —Ela assentiu com pesar.
-Essa aula deveria ser dada só para os alunos a partir do sexto ano. —Disse com desgosto. —Estamos no quarto ano ainda. Ele não podia...
       Draco notou o desespero na voz da menina. É claro que ele sabia que ela estaria assim, pois ele recordava nitidamente de ter visto a única pessoa, com excessão dos Malfoy e nem todos eles, que Belinda já gostara, ser torturada e morta pelas Maldições Imperdoáveis. Os Malfoy procuravam nunca tocar naquele assunto, até mesmo Lucius se abstinha quanto a isso, porém não era pelo bem da menina. Draco sabia que deveria ter pensado nisso no instante em que Alastor começara aquela aula.
        Belinda beliscava o bolinho com a ponta dos dedos e depois esfarelava e deixava cair.
-Você deveria comer um pouco.
-Não consigo. —Disse ela e o silêncio se fez presente.
       Draco sabia que já estava tarde, por fim Belinda colocou-se de pé e disse que era melhor eles voltarem a seus Salões Comunais.
-Você tá legal mesmo?
-Tô. —Disse ela, mas não havia convicção. —Também estou muito cansada pra pensar agora, preciso tomar um banho e dormir. —A voz não estava muito mais alta que um sussurro.
-Certo.
-Obrigada por ficar aqui comigo, Draco.
-Tá. —Respondeu ele.
-Boa noite.
-Boa noite.

       Belinda correu para o Salão Comunal, quando chegou lá encontrou alguns de seus amigos.
-Hey Lestrange, senta aqui. Você precisa ouvir essa. —Dino sorriu.
-Não, não, valeu. —Ela sorriu um pouco. —Tô morrendo de sono. Mas amanhã vou querer saber, pode apostar.
-Beleza.
-Hey. —Marcos chamou e foi até ela. —O que foi? Você simplesmente sumiu.
-Só queria um tempo. —Forçou um sorriso. —E agora quero um banho quente e o conforto da minha cama.
-Bell...
-É sério, meu anjo, estou bem.
-Pelas barbas de Merlin, você precisa parar de tentar mentir pra mim. —Ela deu um sorriso de canto.
-E você precisa começar a acreditar nas minhas mentiras, é um saco você saber sempre que estou mentindo. —O menino rolou os olhos e beijou o topo da cabeça dela.
-Vai, você já tá me irritando. —Mas ele sorria.
-Também te amo. —Bufou e seguiu para seu quarto.

       Os dias se passaram com uma lentidão exagerada, as pessoas estavam simplesmente eufóricas, porém Belinda estava entediada.
       Draco encarou a menina, ela sorria tranquilamente e gesticulava com animação, mas ele reconheceu a mentira por trás da alegria, ele sabia que ela conseguira passar por cima do que ocorrera com as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, mas ainda assim ela estava estranha, vinha mexendo cada dia mais na faixa em seu braço e coçando-a, fazendo o gesto virar um tic nervoso.
       Draco sabia que hoje, mais que qualquer um dos dias que se passara, Hogwarts estava em festa, os alunos de Durmstrang e Beauxbatons chegariam naquela tarde. Mas ele estava curioso, queria ver como aquele espetáculo iria terminar.

       Lestrange não queria ter que estar na fila de recepção para as outras escolas, queria estar em seu quarto com Rúnda ou na biblioteca, lendo um bom livro. Mas lá estava ela, encolhida dentro de sua capa e esfregando as mãos enluvadas uma na outra.
        Foram aparições interessantes, ela sabia, Beauxbatons em sua linda carruagem com maravilhosos cavalos alados e Durmstrang em seu navio, submergindo das profundezas do Lago Negro. Os alunos ao redor estavam em festa, aplausos, assobios e gritinhos, a menina suspirou e olhou para o lado, onde vira a fila das Serpentes e rapidamente encontrara quem queria.
       Tayner ergueu uma sobrancelha loira e os olhos estavam cheios de pergunta. Ela balançou de leve a cabeça e depois se abraçou, fazendo-o rir e encarar os recém-chegados, já que os de Beauxbatons passaram direto para o Grande Salão, por estarem despreparados para o frio que fazia.

-A comida está ótima. —Comentou Hermione.
       Hermione estava mais contente desde que fizera os alunos da Grifinória comprarem seus botons em defesa dos Elfos Domésticos, sendo Lestrange uma dessas pessoas. No dia em que Granger chegara com os botons, ela soube que se não comprasse um imediatamente, não iria poder dormir e não conseguiria fazer a castanha se calar.
       Belinda sorriu com a lembrança da manhã seguinte a compra do boton, quando encontrara Malfoy, como vinham fazendo frequentemente, na Torre de Astronomia e ele ficara encarando o boton enquanto ela explicava o significado, depois rolar os olhos e dizer que isso era besteira de Granger.
-É, pode até ser, mas vai que dá certo? Hermione consegue coisas estranhas, a inteligência dela a favorece muito. —Argumentou ela, fazendo Draco rolar os olhos de maneira cômica.
        A menina olhou para a mesa dos Sonserinos, onde Draco falava com Vitor Krum animadamente. Então notou Ron.
-Rony, você vai acabar babando na comida, quer um lencinho? —Provocou Lestrange quando a menina loira de Beauxbatons saiu rebolando dali com a bandeja em mãos.
-Ela é linda.
-Linda e encantadora como toda Veela. —Disse ela rindo e pegando um pedaço grande de pudim.
-Ela não é uma Veela. —Hermione comentou e depois encarou a menina, parecendo pensar sobre o assunto.
-É sim. —Discordou Belinda.
-Somente metade. —Marcos falou casualmente.
-Como você sabe? —Rony o encarou e Belinda gargalhou.
-Por favor, não responda, por favor. —Fingiu implorar e os amigos riram.
-Por que não? —Ron olhou de Bell para Marcos.
-Digamos que...
-Cala a boca, Coren. —Belinda passou na frente. —Eu estou comendo e não quero perder meu apetite quando você começar a falar dos seus galanteios e noites quentes com mulheres por ai. —Rony corou intensamente, fazendo todos rirem.
-É, é assim que sei. —Coren deu um sorriso leve e sem vergonha. —As Veela são realmente interessantes na...
-Shiiiiiu.
        Mesmo que Marcos só tivesse 15anos, era e sempre seria um dos maiores cafajeste que Belinda conheceria, ele e Daniel.
        Lestrange relaxou no decorrer da noite e as coisas começaram a fluir melhor, as conversas, os risos e os movimentos eram completamente verdadeiros.
-Que noooojo! —Belinda deu um gritinho de brincadeira, quando Marcos a agarrou e beijou sua bochecha. —Hey, Simas. Não vai tentar fazer Rum, hoje?
-McGonagall proibiu que ele explodisse qualquer coisa, então achamos melhor ele não fazer feitiços. —Dino comentou rindo.
-Calem a boca. —Simas mandou, mas também ria.
       Era isso que Belinda gostava, dessa calmaria de estar entre os amigos, as conversas fluídas e divertidas. Isso a fazia feliz e bem.

A Filha Das Trevas (LIVRO 1 - COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora