Capítulo Quatorze

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        As férias foram tranquilas, embora Lucius ainda estivesse furioso e Belinda não permanecesse mais que alguns poucos minutos na presença do homem, as coisas corriam bem com Draco, o que já era de grande alivio para Lestrange.
-Preparada? —Draco perguntou folheando um dos livros que a menina mantinha no quarto.
-Vai ser divertido. —Disse ela com um sorriso maldoso.
-Papai vai matar você.
-Nada pode ser pior do que me casar com alguém que não amo, Malfoy.
-Você quem sabe.
-Tenho certeza que compreende bem. —Ele deu de ombros. —Trocar tudo que deseja por uma mera aceitação da sociedade não é pra mim. E apesar de você fazer tudo como Lucius manda, não gosta.
-Está delirando novamente, Lestrange? —Questionou e pegou o caderno de desenho da menina que estava encima da mesa.
-Isso é particular. —Falou ela puxando o caderno das mãos do loiro.
-O que está escondendo ai? —Perguntou o menino tentando pegar o bloco de desenho de volta.
-Nada que seja da sua conta... Sai Malfoy! —Falou enquanto o empurrava pra longe.
-Belinda? —Narcisa parou na porta entreaberta e os encarou, havia um sorriso doce nos lábios da mulher, os olhos brilhavam de entusiasmo.
-Sai. —Disse ela empurrando Draco e colocando o caderno diante do peito. —Se você pegar isso aqui, mato você Malfoy.
-Acho que seria bom se descessem, os Pierre estão a espera.
-Que maravilha. —Debochou o loiro.
-Noticia adorável. —Belinda sorriu como se a simples informação de tê-los na casa alegrasse sua noite. —Como estou, Ciça?
       Draco a avaliou, o vestido cinza-claro de alças batia em seus joelhos, era colocado na cintura e soltou no resto do corpo, as sapatilhas pretas. O cabelo preso em uma trança longa e algumas madeixas diante do rosto da menina.
-Linda. —Sorriu a mulher.
-Obrigada. —Belinda estava odiando a roupa e o penteado, mas sorria alegremente.
-Vamos?
-Vão na frente, descerei em cinco minutos.
-Claro. —Narcisa sorriu. —Vamos querido?
-Claro mamãe.
       Belinda encontrou-se sozinha no quarto e suspirou, guardou o caderno de desenho e alisou o vestido, colocou seu melhor e mais adorável sorriso, suavizou a expressão e desceu as escadas. Estavam todos ali, em uma conversa calorosa, Draco estava sentado em um canto do sofá observando tudo com uma expressão de deboche e diversão. E bem no canto da sala, estava ela, Rita Skeeter, em um vestidinho azul-celeste, os olhos atentos aos movimentos e foram os primeiros a encontrar Belinda.
-Boa noite. —Disse a menina sorrindo para todos e logo sendo focada pela câmera fotográfica de Skeeter.
-Belinda. —Sr. Pierre lhe sorriu e deu um abraço.
        Lestrange gostaria de simplesmente manda-lo para o Inferno naquele instante, mas retribuiu o carinho tranquilamente. Logo os demais membros da família Pierre a cumprimentaram, quando Brian o fizera, estava com expressão levemente irritada, curiosa e preocupada.
-Relaxa, Pierre. —Disse Belinda abraçando-o.
-To tentando.
-Confia em mim.
-Me preocupei mais. —Belinda riu audivelmente.
-Vamos jantar? —Narcisa chamou a todos.
       O jantar fora excepcional, divertido e amigável, com diversas fotos. Draco olhou disfarçadamente para o relógio de pulso e prendeu o riso, continuou seu jantar como quem não quer nada.
-Vamos tomar um licor na sala. —Lucius convidou alegremente e todos foram.
       Belinda sentou-se ao lado de Brian e apoiou a cabeça no ombro do menino, Lucius a encarou de forma curiosa, mas nada disse.
-O que você está planejando?
-Algo divertido.
-Que provavelmente a deixará de castigo pelo resto do ano.
-Ano? —Ponderou a menina e riu. —Pelo resto da vida acho mais provável.
       Brian se afastou e a encarou, não havia como decifrar aqueles olhos escuros e brincalhões.
-Temo por você.
-Acho que eu também. —Riu. —Senhoras e Senhores. —Disse se colocando de pé e sorrindo. —Tenho algumas palavras a dizer antes que o pedido formal seja feito. —O clarão da câmera cegou a menina temporariamente.
-Que maravilha. —Senhora Pierre sorriu.
-Hoje é um dia maravilhoso para celebrarmos, sendo o dia que eu, Belinda Lestrange e Brian Pierre anunciamos a nossos familiares e amigos que estamos namorando. —Brian a encarou boquiaberto, todos esperavam má-fé partida da menina. Risos e murmúrios deram inicio.
-Com licença. —Tayner disse surgindo ao lado de uma menina linda.
        Katherine, Belinda sabia ser o nome dela. Uma garota morena, de lindos olhos cor de mel, cabelos castanhos extremamente cacheados e longos, magra e alta.
-Creio que chegamos atrasados. —Katherine sorriu.
-Na verdade não poderia haver melhor momento. —Respondeu alegremente e viu Brian congelar, os olhos arregalaram de forma engraçada e Belinda prendeu o riso. —Juntem-se a nós, por favor.
-Como quiser. —Tayner disse sentando-se elegantemente em um dos assentos desocupados.
        Lucius encarava os recém-chegados com desconfiança e Jaqueline com desgosto, a mulher odiava atrasos, sempre dissera achar falta de elegância.
-Deixe-me apresenta-los. —Ela sorriu amplamente. —Essa é Katherine, namorada de Brian e esse é Douglas, meu namorado.
        A pena de Skeeter trabalhava apressadamente para não perder nenhuma palavra que era dita e a câmera fotografava as expressões de choque dos Malfoy e dos Pierre.
       Belinda havia pedido a Tayner que se passasse por seu namorado e o rapaz aceitou após ser subornado com alguns doces. A expressão de deboche de Douglas era memorável e Belinda faltava saltitar com as manifestações de sentimentos que ocorria na sala naquele instante.
-Essa é a hora de eu pedi-la em casamento, Bell? —Douglas provocou.
-Que brincadeira de mal gosto é essa, Lucius? —Wallace berrou para o homem loiro que estava mais pálido que o comum.
-Belinda, explique-se imediatamente! —Berrou Lucius.
-Como queira...
-Antes você irá me explicar isso, Lucius Malfoy! —Wallace não estava nem um pouco satisfeito com o teatro que Belinda armara.
-Vamos para o escritório e conversaremos. —Pediu Lucius.
-Não!
-Saia! —Berrou Lucius para Rita, que já estava com um sorriso mais que satisfeito.
-Tenham todos uma excelente noite.
-Muito obrigada, Skeeter. —Belinda sorriu. —Até outra vez.
       Rita saíra da sala e assim que a porta da mansão fechara atrás da mulher Lucius encarou Belinda ferozmente.
-Que palhaçada foi essa Belinda? —Vociferou.
-Claro, claro. Deixe-me explicar. Disse-lhe milhares de vezes, não casarei com Brian Pierre, entretanto não quisera dar-me ouvido, não quis aceitar minha recusa e minha decisão. —Dissera ela ainda com um sorriso, porém esse era perigoso e zombeteiro. —Se escutasse o que os outros têm a dizer não passaria por esse vexame, Lucius Malfoy.
-Sua pirralha...
-Lucius, eu quero uma explicação. —Exigiu Wallace.
       Draco observava a cena com divertimento contido, os Pierre estavam chocados e Wallace parecia querer matar seu filho somente com o olhar e embora Brian parecesse assustado o suficiente, encarou Katherine e sorriu, o que despertou a curiosidade de Malfoy. Porém Draco sabia que as coisas sairiam do controle após a ida dos Pierre, Lucius não deixaria passar em branco a humilhação que Belinda o fizera passar, na realidade, fizera toda a família sofrer.
-Como você está? —Douglas sussurrou pra Belinda.
-Ferrada. —Murmurou de volta, mas sem tirar os olhos do espetáculo que ocorria a sua frente.
-Se quiser fugir, essa é a hora.
-Não me dê boas ideias, Tayner. —O loiro sorriu, porém estava preocupado.
-Acha que ele fará algo contra você?
-Pode apostar que voltarei viva, meu amigo.
-E inteira?
-Tenho minhas dúvidas. —Comentou preocupada, mas logo sorriu. —Porém antes quebrada que casada.
        A briga continuou severamente na sala, até que Wallace berrou furiosamente com Brian e o pegou pelo braço.
-Você nunca mais irá vir a essa casa! —Disse ele e Belinda notou que o braço de Brian estava machucando. —E nem verá essa garota!
-Mas pai...
-Cale-se!
       Belinda viu Brian ser arrastado porta a fora e as mulheres Pierre seguirem o homem. Lestrange virou-se entretida para Lucius.
-Irá fazer algo semelhante comigo Lucius?
       Belinda sentiu a mão queimando seu rosto e as lágrimas arderem em seus olhos e as prendeu, porém ergue a face e encarou o homem, a mão de Tayner apertou levemente seu ombro, para afastá-la de Lucius e ela não se moveu.
-Belinda. —Disse Tayner irritado.
-Douglas, leva a Katherine daqui. —Pediu a menina.
-Bell...
-Vai agora, Tayner. —Belinda sentiu a mão sair de seu ombro. —O que você pensa que é pra me tocar desse modo?
-Sua pirralha. —Ele apertou o braço de Belinda, que continuou a encará-lo.
-Solte-me.
-Se não...
-Solte-me agora, Lucius! —A voz estava decidida e feroz, os olhos de Lucius vacilaram por um momento.
-Você humilhou minha família...
-Você se humilhou, Lucius! —Contra-atacou. —Não vê que não me importo com sua família?! Estou querendo que se exploda! A única coisa que realmente desejo é poder ficar longe de você e de suas mãos asquerosas...
         Outra bofetada fora desferida no rosto de Belinda, porém essa com tanta força que a desequilibrou e derrubou no sofá. Lestrange levou a mão ao rosto ardido e tocou a boca, onde o sangue escorria.
-Você ficará presa em seu quarto até o dia da volta pra Hogwarts! —Berrou o homem.
-Antes presa que em sua presença. —Bell colocou-se de pé e estava pronta pra se retirar, mas Lucius segurou-lhe pelo pulso.
-Lembre-se que é só uma bartardinha que eu permito viver em minha casa, se não fosse minha compaixão você estaria na rua, não passaria de uma maltrapilho, de um repugnante inseto rastejante...
-Antes um inseto rastejante do que ser você! —Disse ela empurrando o homem com força e puxando o pulso. —Posso ser bastarda, inseto ou o que for, mas prefiro isso a ter que viver com você! Porém veja só, nem tudo o que queremos podemos ter! —Berrava furiosamente, as lágrimas a ponte de trai-la, mas não em frente a ele. —Quer bater novamente Sr. Malfoy? Vá em frente! Me arrebenta de porrada se quiser Lucius, mas eu nunca irei atender a suas ordens!
-Sua...
-Sua o quê? Vai fala! Fala o de sempre! Que eu sou uma escoria, uma vergonha para o mundo Bruxo, um Paria! Fala!
-Draco, tire-a daqui. —Narcisa ordenou.
-Não! —Disse Belinda se debatendo quando Draco a segurou. —Largue-me! Se Lucius tem tanto nojo, por que manter-me próximo? Por que simplesmente não me largar em uma porta qualquer ou coisa do gênero? Porque me trazer para a casa dele?
-Sua pirralha ingrata! Eu fiz tudo isso por... —Calou-se imediatamente.
-Por? Fala!
-Draco. —Pediu Ciça.
       Draco agarrou a menina pela cintura e a rebocou escada a cima, assim que chegaram ao quarto o trancou e a viu socar a parede com força, as lágrimas escorreram imediatamente. Malfoy não sabia o que fazer, então a viu dar mais dois socos na parede e sua mão sangrar, ela caiu de joelhos e começou a soluçar, porém poucos minutos depois os soluços transformaram-se em gargalhadas.
-Você... —Draco não conseguiu finalizar, porque a menina ria descontroladamente, embora ainda fossem visíveis suas lágrimas. —Belinda?
-Eu... Eu... —E mais risadas. —Eu...
       Cerca de dez minutos depois ela se recompôs e Draco a encarou de cenho franzido, o que quase desencadeia mais gargalhadas.
-Lestrange, que porra foi essa?
-Eu estou livre! Não irei mais casar.
-Livre? Você vai passar o resto das férias trancada no quarto.
-Que diferença faz? —Perguntou tocando o canto da boca com o polegar. —Gosto horrível na boca.
-Você não devia ter enfrentado o papai daquele jeito, ficou maluca de vez? —Ralhou e ela riu, porém controladamente.
-Draco, não sou uma Malfoy, não tenho obrigação nenhuma de atender as ordens de seu pai. —Disse ela indo para o banheiro e ele a seguiu.
-Mas você o deixou furioso e olha o resultado.
-Você o teme demais.
-E você de menos. —Ela riu novamente e abriu a torneira, deixando a pia encher e lavou o rosto.
-Só acho que se eu não fizer algo, serei obrigada a casar com quem ele mandar, obrigada a ser o que ele quiser e sempre que ordenar. —Ela bufou e olhou no espelho os danos causados por Lucius em seu rosto.
-Mas se continuar enfrentando-o assim, daqui a pouco terá a cara deformada. —Ela riu.
       As bochechas estavam inchadas com marcas de mãos de ambos os lados, o lábio inferior com um corte fundo e o superior levemente, abaixo do olho esquerdo já ganhava uma coloração arroxeada, aparentando mais que ela levara um soco e não um tapa.
-Será que você consegue algo doce pra comer? Quero tirar esse gosto de sangue da boca.
       Draco suspirou e notou que ela não iria mais entrar no assunto naquele momento, ele a encarou severamente e por fim deu de ombros.
-Tenho alcaçuz e sapo e chocolate no quarto.
-Então por que ainda não o pegou?
-Espera aqui.
-Sim senhor.
       Belinda aproveitou que Draco saíra do quarto e tomou um rápido banho, vestindo roupas largas e confortáveis pra dormir, os cabelos molhados grudavam em sua nuca, pescoço e testa.
-Achei que tivesse morrido afogada. —Draco zombou quando ela voltou para o quarto.
-Ainda não se livrará de mim.
-Que pena. —Disse ele e ela sorriu, sentando-se na cama, onde Malfoy despejara os doces. —Lá embaixo tá um caos, papai tá furioso com você e berrando loucamente.
-Narcisa está com ele? —Perguntou agarrando um sapo de chocolate que tentara fugir.
-Sim, mas não acho que vá ser útil. —Ele fez careta e pegou um sapo de chocolate pra si. —Nunca o vi tão furioso.
-Isso é um problema, não?
-Muito engraçado. —Disse ele seriamente.
       O silêncio predominou no quarto enquanto eles comiam, Belinda sentia uma necessidade arrebatadora de se encolher no canto e chorar, mas o orgulho a proibia de tal ato.
       Draco olhou para a menina e suspirou, sua expressão estava cansada e assustada, parecendo um bicho encurralado, que mesmo tentando aparentar ferocidade, era palpável o medo por trás das garras expostas.
       Assim que Draco a deixou, ela se encolheu na cama e chorou, o que pareceram horas a fio, quando as lágrimas pareceram se esgotar, Lestrange caíra em um sono sem sonhos, porém agitado o suficiente para não lhe oferecer descanso algum.

A Filha Das Trevas (LIVRO 1 - COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora