Capítulo Quarenta e Cinco

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       Draco estava encostado tranquilamente na grade de proteção, encarando o vazio da noite. Conseguia ver vagamente o navio dos alunos de Durmstrang, no centro do Lago Negro.
-Tá horrivelmente frio. —Belinda resmungou e se aproximou do loiro, que a encarou de cenho franzido.
-O que você tá fazendo aqui? —Quis saber ele.
-Vim perturbar você, não tá na cara? —Ela o encarou com a sobrancelha arqueada e ele bufou.
-O que você quer? —Se virou inteiramente pra ela.
-Já disse. —Draco suspirou.
-Belinda.
-Qual é Malfoy, não posso mais falar com você? —Ela cruzou os braços sobre o peito, ainda com uma sobrancelha arqueada.
-Não, não se pra perturbar. —Decidiu ele e ela sorriu.
-Você sabe que isso é uma das coisas que faço de melhor.
-É a única coisa que sabe fazer. —Ele disse rindo e ela se colocou ao seu lado.
-Por que não foi jantar hoje? —Quis saber.
-Agora controla meus horários, é? —Ela rolou os olhos e ele sorriu novamente.
-Não me responde com outra pergunta, Black.
       Belinda encarou o navio no meio do Lago Negro e quase sentia o sangue congelar, só de imaginar o frio que deveria fazer lá dentro.
-Só não tava afim. —Disse, evasivo.
-O que aconteceu? —A voz dela estava leve e ele sentia os olhos negros observando seu rosto.
-Nada. —Deu de ombros, ainda sem olhar pra ela.
-Draco. —A voz estava aveludada, como se tentasse acalmar um animal assustado.
-Só não foi um bom dia. —Declarou.
-Por que?
       Draco suspirou e voltou os olhos cinza pra amiga. Belinda por muito tempo, lembrara ele, não suavizava a expressão ou voz daquela forma, não pra ele e havia algo nos olhos negros, algo que ele não via desde a infância.
-Acho que tudo, desde a última vez que fomos pra casa. —Suspirou.
      Belinda sabia que não conversaram sobre o assunto. Narcisa mandara uma carta três dias depois da volta deles a Hogwarts, porém fora o máximo de contato que eles permitiram entre si com a lembrança do jantar.
-Entendi. —Disse ela, quase em um sussurro. —Nossa viagem foi estragada daquela vez.
-Papai me escreveu. —Draco confidenciou.
-E?
-Ele disse que não sabia o que Mark fazia lá, que ele nem sabia que ele estava por perto. —Suspirou e a encarou. —Mark estava tentando convencer mamãe a tirar você de Hogwarts e deixá-la nas mãos dele, para treinar.
      Belinda sentiu o corpo tremer e ar faltar, logo Draco a segurava pelos braços, a apoiando.
-Por que? —Sussurrou e viu o cinza dos olhos do amigo ficarem mais escuros que o normal.
-Não sei, papai não disse isso. —Draco não diria sobre os planos de Mark de tirar Belatrix de Azkaban, não ainda. —Mas mamãe bateu o pé e disse que não o faria.
-E ele?
-Mark ficou furioso é claro, mas papai disse que não iria fazer isso, que você tem que permanecer em Hogwarts.
Belinda suspirou e fechou os olhos, parecendo quase que velha demais para tão pouca idade.
-E ninguém saberá do que são capazes. —Sussurrou ela e ouviu o suspiro de Draco. —Mary estava certa.
-Geralmente ela estava. —Um sorriso pequeno se formou no canto dos lábios da menina e ela abriu os olhos.
-Mary tinha o dom de sempre estar certa, mesmo quando estava errada.
      Os dois riram e Draco a soltou, mas continou a encara-la.
      Os jovens conversaram por um longo tempo sobre a infância, amenizando o clima pesado de outrora, mas não mencionaram Mary ou ninguém mais, somente recordações dos dois.
-Mas e você, por onde andou o dia todo? —Questionou levemente e ela sorriu.
-Tava em Hogsmeade com o Diggory.
-As vezes esqueço que você finge ser sociável e faz amigos com outras Casas. —Ela riu e bateu de leve no braço do rapaz.
-Eu não finjo nada. —Disse rindo. —Eu sou sociável, você que é idiota e não vê isso.
-Finjo que acredito.
-Cedrico quer que eu apresente o Taylor pra ele, amanhã. —Soltou em um só fôlego e Draco gargalhou por causa da expressão da menina. —Para!
-O que? —Ele ria. —Você vai apresentar o namoradinho pro Diggory, isso será hilário e eu vou assistir.
-Nem fodendo! —Protestou.
-Não foi um pedido.
-Merlin! —Disse ela, indignada. —Ao que parece todos os rapazes que ando começaram a querer me impor condições. —Draco riu novamente.
-Pobre da Lestrange. —Zombou e ela meteu língua, como uma garota de cinco anos.

      Belinda passou pela mesa de Draco na Biblioteca e bateu levemente em seu ombro, ouvindo um xingamento baixo, logo sentou ao lado de Taylor, na mesa de frente para Malfoy. Ty parecia concentrado em um livro de Herbologia.
-Honestamente, odeio essa coisa. —Resmungou ele e ergue os olhos verdes pra ela, lhe sorrindo.
-Nunca fui a melhor aluna e já quase consegui matar uma pequena muda de Losna.
-Como? —Ele a olhava divertidamente agora.
-Tivemos uma aula no segundo ano, se não estiver enganada. —Deu de ombros. —Todos plantando alguma coisa, fiquei responsável pela Losna... Minha Losna estava seca e beirando a morte, aí a professora Sprout teve que dar uma atenção especial e a retirou de meus cuidados. —Ele riu.
-E sua nota?
-Foi uma merda. —Disse rindo. —Mas me salvei graças a dez longas páginas de pergaminho sobre a Losna, suas funções e em quais poções pode ser usada. Foi muito bom, aprendi a fazer um chá usando a folha da Losna, que ameniza dores no corpo.
-E funciona? —Ele a encarava de sobrancelha erguida e com um pequeno sorriso.
-Inacredivelmente sim. —Belinda riu ao ver a dúvida na expressão dele. —Eu testei, tá?
-Nenhum efeito colateral? —Zombou e ela deu um leve empurrão no ombro dele.
-Sem efeito colateral, engraçadinho.
      Ty riu e se aproximou um pouco da menina, roubando-lhe um beijo e ela sorriu.
-Você é louca. —Sussurrou.
-Eu sei. —Sorriu.
-Com licença. —Belinda escutou a voz de Diggory e suspirou, porém viu a sobrancelha arqueada de Ty.
-Pois não? —Tayler o encarou.
-Que é? —Belinda encarou o amigo, que sorria abertamente.
      Diggory a encarou de modo divertido e ela parecia pronta para voar em sua jugular, o que tornava tudo mais divertido. Draco encarou a cena entretido, estava ali na Biblioteca desde que acabaram as aulas, precisava terminar o trabalho de Transfiguração, para o dia seguinte, não esperava que Belinda fosse ter que apresentar o namorado nerd pra ninguém naquele momento, imaginava que fosse marcar algo com Diggory e o Nerd, principalmente porque eles não eram de fato namorados.
-Só vim cumprimentar. —Brincou o Lufano.
-E eu sou um unicórnio.
-Está mais para um Diabrete da Cornualha. —Zombou e Ty sorriu.
-Tomar no cú. Os dois. —Disse virando pra Ty, que mantinha o sorriso.
-E então, é você que tá saindo com a Lestrange? —Cedrico encarava diretamente o moreno.
-Talvez. —Respondeu com tranquilidade. —E você é...?
      Belinda sorriu ao ver como Cedrico estudava o Corvino, os olhos cinza observadores e inteligentes.
-Belinda não gosta que se metam na vida dela e ela sabe se defender sozinha, mas ouve bem, se você a magoar, pode apostar que não vai ser nada bom pra você.
      Taylor sorriu e se inclinou pra frente, apoiando os braços na mesa, sem desviar os olhos de Diggory.
-Só isso? —Bell sorriu, até mesmo Cedrico pareceu momentaneamente surpreso pela atitude do rapaz. —Não esquenta, Diggory, mas se for pra consolo de todos, acho mais fácil ela me magoar.
      Cedrico pareceu satisfeito com aquilo e sorriu novamente.
-Ótimo. —Encarou Lestrange. —Você realmente achou alguém tão louco quanto você.
      Belinda riu baixinho enquanto o Lufano se retirava, ao olhar pra trás viu o sorriso de Draco, que a encarava e ela rolou os olhos.
-Nem uma palavra, Malfoy. —Disse alto e se arrependeu em seguida, com receio que a bibliotecária aparecesse ali.
-Seus amigos são sempre bem receptivos. —Disse Ty, divertido.
-As vezes são cuidadosos demais. —Resmungou e ele a encarou sorrindo.
-E você os adora por isso.
-Não. —Negou com a cabeça e sorriu. —Os adoro porque são idiotas. Acho que tenho um fraco pelos idiotas.
-Muito engraçadinha, Lestrange. —Ele riu e a beijou novamente, antes de escutarem alguém pigarrear e eles verem a bibliotecária os encarando. —Opa. —Taylor sorriu. —Estamos saindo. —Prometeu e começou a pegar suas coisas.
      Belinda riu quando saíram da Biblioteca e ele a puxou para mais um beijo.
-Por que eu sempre acabo metido em alguma encrenca quando tô com você?
-É um dom. —Disse ela rindo. —Não importa onde ou com quem eu vá, sempre acho algo constrangedor.
-Teremos que ficar no mínimo uma semana longe da Biblioteca, para dar um tempo pra Madame Pince esquecer o que viu. —Ela riu.
      Os dois seguiram para a cozinha da escola, como sempre Belinda estava faminta.

A Filha Das Trevas (LIVRO 1 - COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora