Capítulo Quarenta e Três

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        A viagem fora assombrosamente silenciosa, Draco fingia ver a paisagem que passava pela janela e Belinda desenhava furiosamente em seu caderno de desenho, a mão negra de carvão e os olhos perdidos em uma dor angustiante.

        Draco sentiu o trem parar e se colocou de pé, notando o quão rápido fora a viagem ou talvez tenha parecido por estar com a mente tão distante. Belinda se ergueu logo após guardar seu material de desenho, os jovens caminharam para a plataforma e encararam a carruagem os aguardando.
-Eu preciso andar um pouco. —Disse ela e sentiu como a garganta estava seca.
-Vamos.
       Draco a puxou em direção ao castelo, porém ignorando a carruagem.
-Eu não irei jantar. —Comunicou ela quando estavam a meio caminho de Hogwarts.
-Tudo bem. —Concordou ele. —Estou cansado e planejando ir pro quarto também. —Ela assentiu.
-Irei pra Torre de Astronomia. —Suspirou. —Quero pensar um pouco.
-Claro. —Draco sabia não adiantaria oferecer companhia, ela precisava daquele momento, assim como ele.
       O resto do caminho fora feito em silêncio.
       Belinda notou os corredores quase vazios ao entrar no castelo, aquela hora a maioria estava no Grande Salão, aproveitando um dos incríveis jantares de Hogwarts.
-Nos vemos amanhã. —Disse ela para o loiro, que assentiu.
-Boa noite, Bell.
-Boa noite. —Draco a viu sumir, caminhando rapidamente para a Torre de Astronomia.
       Malfoy suspirou e logo se dirigiu para seu quarto, não estava disposto a ter que falar com ninguém.

       Belinda caminhava rápido para a Torre de Astronomia, somente queria esquecer o que Mark fizera, esquecer de sua existência e esquecer quem ela encontraria no dia seguinte. Ela dobrou um corredor no sexto andar, não queria mais ir para a Torre tão conhecida, não estava querendo ser descoberta ali e mesmo Draco não seria uma boa companhia naquele momento, ele a conhecia demais e tinha tantos problemas quanto ela, chorar em sua presença não o ajudaria em coisa alguma.
       Belinda bateu de frente com alguém, que a segurou antes que fosse de encontro ao chão. A menina reconheceu o perfume antes mesmo de escutar um leve riso e ouvir sua voz.
-Devemos parar de nos encontrar assim, Lestrange. —A menina ergueu os olhos e encarou o verde calmo dos olhos do rapaz.
-Não foi exatamente intencional. —Tentou brincar.
       Taylor a encarou por um momento longo, os olhos inteligentes analisaram o rosto da menina.
-Vamos sair daqui. —Disse ele, estendendo a mão.
       Belinda sabia que aquele ato pedia sua permissão, ele estava oferecendo sua companhia, mas deixando claro que ela poderia recusar. Lestrange encarou a mão do rapaz por um momento e depois a segurou.
       Taylor a levou para o fim do corredor do sexto andar e depois virou em uma esquina qualquer, entraram em uma sala grande, porém vazia e logo ele a levava para uma portinha que ficava atrás de um quadro de frutas, no fim da sala, subiram uma escada pequena, ao chegarem ao topo deu passagem para ela.
       Belinda encarou a Torre onde se encontrava, era menor dos que as que costumava frequentar com os amigos, porém grande o suficiente para uma festa com várias pessoas. O teto era extremamente alto, a janela imensa dava visão ao Lago Negro, o chão de pedra escura era liso e lustroso.
-Como você descobriu esse lugar? —Questionou ela, indo para a murada de proteção da janela e se apoiando ali.
-Não lembro direito, só sei que foi no meu primeiro ano. —Bell olhou por sob o ombro, ele estava encostado casualmente na parede, próximo a janela e a encarava. —Eu... Não estava bem nesse dia. —Deu de ombros. —E andava distraído, acabei encontrando esse lugar e logo em seguida notei que ninguém mais sabia da existência, então meio que o tomei pra mim. —Ela deu um sorriso pequeno.
-É um lugar lindo.
-É sim.
       Taylor se colocou ao lado da menina após alguns minutos, o som do vento era a única coisa que se ouvia. Bell o encarou por um momento e o viu encarando o Lago Negro, lhe dando toda a privacidade que ela precisava, o rapaz a olhou e deu um sorriso pequeno ao notar sua atenção.
-Foi um fim de semana horrível. —Confessou a garota e ele aguardou. —Fui arrastada para a pior parte da minha infância. —Suspirou e olhou para o Lago. —O jantar foi exatamente como eu tinha previsto, Draco e eu demos boas gargalhadas pelas costas dos Malfoy e Pierre, os feitiços que você e eu achamos naquele livro saíram do jeito que eu queria. —Suspirou novamente e voltou a falar, um pouco mais baixo que antes. —Como a casa estava infestada de ratos e aranhas, acabamos indo pra minha casa, um lugar que evito ir... Porém concordei, era só uma noite e logo Draco e eu estaríamos de volta a Hogwarts. —Ty a viu balançar a cabeça de forma negativa e cansada. —Meu... padrinho estava lá, não sei fazendo o que, mas estava, nem mesmo os Malfoy ficaram satisfeitos com a presença dele. —Ela o olhou e notou que ele a encarava. —Meu padrinho é um lunático de primeira linha.
        Belinda suspirou mais uma vez e Ty segurou a mão dela, apertando levemente, lhe passando segurança e confiança.
-Mark fez coisas horríveis, mas nunca conseguiram provar nada contra ele. —Sussurrou. —E quando ele... fez algo que poderia finalmente acusa-lo, fugiu e passou muitos anos longe, fiquei sem vê-lo por vários anos e do nada descubro que ele está na minha casa, apareceu do nada e decidiu que não havia me feito mal o suficiente da última vez. —Belinda sentiu as lágrimas escorrerem e soltou o ar lentamente, tentando se acalmar. —Ele quer destruir minha vida, essa é a verdade. —Um soluço baixo lhe escapou e Taylor a puxou para seu peito. —Ele afasta a todos de mim.
       Taylor a prendeu em seus braços por um longo momento, ela não soluçou mais, porém chorou e ele ainda sentia suas lágrimas caírem e molharem sua camisa, porém estava preocupado demais com ela para se importar com amenidades.
       Belinda se afastou um pouco do rapaz e o encarou, ele não a olhava com pena como ela temia, somente havia preocupação em seu rosto, ele secou as lágrimas do rosto da menina com calma e por fim a encarou.
-Se vale de algo —Ty disse com calma. —eu estou e vou ficar aqui com você.
       Belinda sentiu algo estranho se remexer dentro dela.
-Se você fosse tão inteligente como dizem que os Corvinais são, não ficaria. —Taylor deu um sorriso preguiçoso e sem diversão.
-Provavelmente eu não sou tão inteligente assim então.
       Belinda deu um passo pra frente e o abraçou.
-Por que você ficaria? —Perguntou em um sussurro.
       A verdade é que Lestrange sempre temeu se apegar as pessoas e com a volta de Mark o medo só ampliou, porém o fato de Taylor dizer que ficaria depois de escutar aquilo sobre Mark, mesmo que ela não tivesse especificado o que, a deixava contente e isso era preocupante.
-Porque você dá desconto quando compro alguma das pegadinhas dos gêmeos. —Sussurrou e Bell não conseguiu evitar sorrir.
-E eu achando que era por minha causa. —A voz tinha uma nota de diversão, pela primeira vez desde que se encontraram, notou ele.
-Está se achando demais. —Respondeu com um risinho. —Mas talvez eu goste um pouco de você, mas só um pouquinho.
       Belinda sentiu um sorriso involuntário nascer em seus lábios e se afastou para olha-lo.
-Obrigada. —Ele fez uma caretinha engraçada. —Você sabe que fez algo sim.
-Não precisa agradecer.
       Belinda encostou a cabeça no peito do rapaz.
-Só aceita e não reclama. —Disse ela e bufou. —Obrigada de verdade, eu... Só obrigada.
-É pra isso que servem os amigos.
-Que bom.
       Belinda sentiu uma pontada no peito. Seus amigos estavam em perigo graças a ela e ela nem sabia como os encararia depois do que acontecera. Marcos, como ela agiria... A menina calou aquele pensamento.
-O que você estava fazendo quando me encontrou? —Quis saber ela, se encostando na murada de proteção e o encarando.
-Eu costumo vir muito aqui quando quero pensar. —Deu de ombros.
-O silêncio daqui é bom. —Concordou.
-Sem dúvida. —Ele sorriu.
-Como foi o fim de semana aqui?
-Normal. —Ele deu de ombros. —Pirraça jogou balões e mais balões de tinta no Filch... Até agora me questiono como ele conseguiu tanta tinta.
       Belinda deu um sorrisinho, sabendo exatamente de quem era a culpa.
-Eu tenho uma leve noção.
-Claro, os gêmeos. —Disse ele sorrindo. —Como é que não pensei nisso antes?
-E o que mais?
-Pirraça pendurou Madame Norra em uma daquelas estátuas imensas de perto da entrada e o Filch ficou louco da vida, gritando com todos para tirarem ela de lá, mas ninguém fez nada, além de rir, até que a professora McGonagall chegou, aí ela a tirou de lá.
-A culpa disso é minha. —Falou ela e ele ergueu uma sobrancelha, a fazendo dar de ombros. —Eu falei com o Pirraça antes de ir...
-Espera. —Pediu ele, surpreso. —Você consegue conversar com ele?
-Só me atrevo quando estou com Freddie e George.
-Isso não me surpreende. —Ela assentiu.
-Mas pedi ao Pirraça que amarrace a Gata-Maldita em algum lugar que Filch conseguisse ver, mas não pegar, pena que não presenciei. —Deu um sorriso de canto, mas não era muito verdadeiro e Taylor percebeu.
-Um garoto da Grifinória tirou fotos.
-Acho que sei quem foi.
       Belinda e Taylor conversaram por um longo tempo, até que decidiram que era tarde demais e deveriam ir para seus Salões Comunais. Caminharam juntos até a entrada da Torre da Grifinória.
-Nos falamos amanhã? —Ele quis saber e ela sorriu.
-Se fosse esperto fugiria.
-Pena que não farei isso. —Ele se inclinou e deu um leve beijo nos lábios dela.
       Belinda sorriu levemente e deu um beijo de volta, mais profundo que o primeiro.
-Boa noite. —Disse ela, ainda com as mãos em sua nuca.
-Pra você também.
-Que casal fofo. —Mulher Gorda zombou e Belinda bufou.
-Boa noite pra você também, Mulher Gorda.
       Taylor sorriu e começou a fazer o caminho para seu quarto.
-Nem apresentou o namorado.
       Belinda ignorou, deu a senha e passou pela entrada assim que conseguiu. Quando entrou no Salão Comunal, viu os gêmeos conversando tranquilamente com Murilo, que ergueu os olhos e a encarou.
-Lestrange. —Os gêmeos sorriram pra ela, que sorriu de volta sem muita vontade.
-O que aconteceu? —Murilo exigiu e ela se encolheu levemente.
       Belinda suspirou e mordeu o lábio inferior.
-Eu...
-Você tá horrível. —Belinda deu de ombros e encarou o amigo que descia as escadas. —E parece que não dormiu nada na última noite.
-Na verdade dormi, só não bem.
       Ele balançou negativamente a cabeça.
-Você tá da cor do Nik-Quase-Sem-Cabeça.
-Na verdade ele tá com mais cor. —Freddie falou.
-Então não fui só eu quem percebeu.
-Calado. —Disse ela e deu um sorriso pequeno.
       Marcos riu e bagunçou seu cabelo, Bell jogou os braços em volta de seu pescoço e ele riu de novo.
-Isso tudo é saudade, Lestrange? Só ficou fora dois dias, imagina nas férias.
       Belinda queria rir, mas recordou do maldito pesadelo. Só em pensar que poderia perder um de seus melhores amigos, a dor do sonho retornava e a atormentava.
-Foi um fim de semana difícil e senti a falta dos meus idiotas preferidos. —Disse ela.
-Então por que só ele ganha abraço? —Murilo bufou.
-Você brigou comigo quando cheguei.
-Briguei porque você não apareceu no jantar e você não é de perder o horário das refeições. —Ela sorriu e foi até ele.
       Belinda sentou entre os gêmeos e começou uma conversa leve com os quatro rapazes. Ela lembrava do pesadelo cada vez que encarava aqueles lindos e brilhantes olhos verde-azulados, mas decidiu passar por cima, Mark morreria antes de tocar em um de seus amigos.
       Belinda relaxou no decorrer da noite e era quase manhã quando pararam de conversar e rir e foram para seus quartos.

A Filha Das Trevas (LIVRO 1 - COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora