Parte 23

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Parte 23

Anne

Subimos uma escada estreita até o primeiro andar. O quarto era o último do corredor. O local não era sujo ou mal cuidado, pelo menos o chão e as paredes estavam limpas e não senti mau cheiro algum. Victor estava ao meu lado calado e pensativo.

Saber quando ele estava queimando os neurônios não era uma tarefa difícil, até porque ele ficava muito quieto e com o olhar fixo em um único ponto. Tenho completa certeza que o motivo é o quarto. Deve estar lutando psicologicamente sobre como irá dividir a cama comigo. Confesso que estou tranquila, até por que uma cama de casal possui duas extremidades como qualquer outra cama, e não sou espaçosa para ocupar um terço do colchão. Mas... não querendo afirmar, um receio se espalha dentro de mim também.

Não sei por qual motivo, pois ele é meu namorado, alguém que estou compartilhando meus dias nos últimos meses, mas a minha mente mais uma vez volta a soar um alarme idiota, eu não posso confiar em mais nenhum homem. Porém eu sei que Victor é diferente. A forma como ele vê uma relação é totalmente distinta do que muitos homens veem. Para ele dividir o seu espaço e formar uma família são essenciais.

Sei que posso contar com ele, os últimos acontecimentos em minha vida são provas vivas. Mas ainda está cedo demais para me entregar completamente a uma relação que nem bases firmes e concretas existem. Sei que tudo isso só surgirá no momento em que ambos decidirem. Por ele, acredito que já está decidido, basta o Meu Eu topar também.

Sei que estou demorando muito, mas aos poucos estou cedendo e abrindo espaço para ele, sem nem notar. A prova disso é ter aceitado fazer essa viagem para conhecer os seus pais, que acredito serem tão conservadores quanto Victor. A forma como expressa suas opiniões acerca da família e do seu futuro são marcas vivas de uma boa relação. Não estou com medo, nem tão pouco tranquila, para surgir na casa dele e ser apresentada a sua família como a sua namorada, mas confio em mim que tudo ocorrerá bem.

Nem percebi que estávamos parados diante da porta de madeira escura com trinco prateado. Victor colocou a chave e na segunda volta a porta abriu. O local não era tão atualizado, pois creio eu que noventa por cento das pousadas e hotéis já usam a chave magnética nas fechaduras. Assim que ele abriu a porta olhou para mim e sorriu falando:

– Vamos entrar e ver o local – falou apertando o interruptor ao lado da porta.

Sorri de volta e o segui. Victor fechou a porta por dentro.

– Gostei do local, pelo menos está arrumado – falei.

– Dá para passarmos uma noite – e colocou as malas ao lado da cama.

Escolhemos trazê-las para podermos tomar um banho e trocarmos de roupa. Eu precisava de uma chuveirada com urgência. A primeira coisa que Victor fez, após deixar as malas no chão foi ligar o condicionador de ar. Ele realmente gosta de um quarto frio. Fui em direção à janela, puxei um pouco a cortina e dei uma olhada para o lado de fora.

– Você vai tomar banho primeiro?

Olhei para trás, ele estava parado no meio do quarto com as mãos dentro dos bolsos da bermuda. Seus olhos me avaliavam dos pés a cabeça. Senti um formigamento percorrer minha coluna. Passei a mão no cabelo colocando alguns fios para trás da orelha e caminhei em sua direção. Parei em sua frente e coloquei a ponta dos dedos dentro do bolso da sua bermuda falando.

– Sim, estou exausta.

– Esse é um dos problemas de viajar de carro.

Senti algo vibrar no seu bolso. Afastei-me. Victor pegou o celular.

Confia em Mim?Onde histórias criam vida. Descubra agora