Parte 25 - Parte1

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Abri os olhos e fiquei olhando para um quadro abstrato pendurado na parede ao lado da cama. Não havia imagem alguma ali quando observei assim que acordei, mas com o passar dos minutos comecei a notar formas, linhas e curvas que formavam elementos com pleno sentido. O artista soubera ocultar sua verdadeira ideia por meio de traços e jogos de cores pouco atraentes. Eu não sabia porque olhava para aquela pintura, até o momento em que notei o desenho de uma pessoa sentada sobre uma cadeira como se estivesse chorando. Suas lágrimas formavam curvas sinuosas que se estendiam por toda a dimensão da tela e seus braços caiam de lado derrotados. Tentei absorver mais detalhes da pintura, algo que trouxesse mais sentido, mas não encontrei. Desviei o olhar e comecei a pensar na imagem. Por que eu traduzi essa pintura como tristeza? Eu poderia ter imaginado muitas coisas, porém minha mente transformou as informações absorvidas pelos olhos em algo totalmente complexo. Uma pessoa chorando desesperadamente. Não quero imaginar isso, mas algo do meu consciente diz que esta pessoa não é ninguém mais do que eu mesmo.

Fechei os olhos e tentei cochilar para esquecer, porém ouvi alguém chamando por mim e Anne. Olhei para ela que ainda dormia tranquila com o rosto enterrado em meu ombro. Concentrei-me na voz e logo reconheci. Letícia estava nos chamando. Toquei em seu rosto de leve tentando acordá-la. Afastei o seu rosto com cuidado tentando não acordá-la, mas não deu certo. Anne abriu os olhos.

– O que houve?

– Letícia está chamando lá embaixo.

– O que ela quer?

– Não sei, vou ver o que é. Volto já.

Sai da cama e vesti a calça de moletom. Abri a porta e desapareci. O chão estava frio, e acabei descendo com os pés descalços. Passei a mão no cabelo tentando dar um jeito antes de abrir a porta e dar de cara com minha irmã. Assim que abri a porta ela perguntou:

– Cadê a Anne?

– Está dormindo – falei bloqueando a porta.

– Mentiroso – e me empurrou para poder passar – Anne!

– Letícia ainda é cedo, posso pelos menos aproveitar o restinho da madrugada?

– Não, eu preciso dela e papai de você.

Não adiantava discutir, pois ela só sairia daqui quando Anne resolvesse descer. Antes que eu me mexesse, ouvi a madeira ranger e olhei para o topo da escada onde a avistei ainda vestida num robe pérola. Olhei completamente desanimado e Letícia explodiu de felicidade, pois deixou transparecer ao cruzar as mãos para frente e sorrir feito uma criança ao ganhar um pirulito.

– O que houve? – perguntou Anne descendo os degraus.

Me encostei na porta completamente desanimado.

– Preciso ir à cidade fazer umas compras e gostaria de saber se aceita ir comigo?

Anne olhou para mim e balancei a cabeça negando. Anne sorriu e Letícia olhou para trás me fuzilando com o olhar.

– Pare de influenciá-la.

– Posso ir sim.

Bufei.

– Excelente! Estarei esperando na varanda da casa, não demore. Leve bolsa. Bye!

Assim que ela se foi empurrei a porta com o pé e me encostei cruzando os braços.

– Você me trocou, pela minha irmã.

– Ohh...

Anne deu alguns passos em minha direção.

Confia em Mim?Onde histórias criam vida. Descubra agora