Parte 22

6.3K 495 16
                                    

Parte 22

Fechei o zíper da mala e a coloquei no chão. Hugs estava sentado na porta do meu quarto apenas observando. Peguei meu necessaire, coloquei algumas coisas que faltavam e botei dentro do bolso da mala. Olhei para o relógio no pulso. Ainda faltava vinte minutos para as oito horas.

Marquei com Anne de pegá-la as oito em ponto. Peguei a toalha e fui tomar outra ducha antes de sair. A água fria abriu um pouco mais os meus pensamentos. Sei que assim que eu pisar os pés dentro da casa dos meus pais, serei bombardeado por milhares de perguntas, até mesmo Anne não escapará. Minha mãe como sempre, uma boa avaliadora, irá descobrir 90% da vida dela em poucos dias. Tenho a completa certeza que essa semana será realmente cheia de surpresas.

Sai do quarto puxando a mala e Hugs me seguiu até a garagem. Eu precisava passar na casa do Raul para deixá-lo, pois não tinha como levá-lo. Porém estarei dando um grande prêmio para os seus filhos, que hospedarão Hugs por uma semana.

Assim que peguei a estrada a caminho da casa de Raul comecei a pensar na minha irmã. Letícia realmente irá tomar voo. Quando uma menina nasce e tem três irmãos, seu território é vigiado vinte quatro horas por dia. Por mais que tentemos deixá-la aproveitar a vida, acabamos não conseguindo. Nos sentimos na obrigação de protegê-la de todos os perigos.

Dos três, eu fui o que mais cobrou dela e mais seguiu os seus passos. Acabei vários "quase namoros" apenas porque não me agradava da cara dos moleques. Isso a deixava furiosa, mas no fim das contas eu sempre estava certo, pois semanas depois acabava descobrindo que o "apaixonado" já estava derrubando os muros da cidade com outras garotas.

Finalmente todos nós crescemos e seguimos nossos rumos. Letícia se formou em nutrição, e abriu uma clínica na cidade onde acabou conhecendo seu futuro marido. Claro que não ficamos sabendo sobre isso logo de imediato, ela escondeu principalmente de mim, por quase dois meses, até minha mãe descobriu tudo. Óbvio, todos nós ficamos umas feras, mas rapidamente isso passou e para a sorte dela o cara foi alguém que conquistou toda a família. Não quero aceitar, mas aquela garotinha chorona não existe mais. Sorri por dentro, por saber que todos os meus irmãos são e serão felizes, ao contrário de mim, que não tenho certeza de absolutamente nada da minha vida daqui para frente.

Parei o carro no acostamento e desci com Hugs pulando e latindo ao meu lado. A casa de Raul é onde todo animal como meu cão deseja viver. Um quintal imenso, com árvores, terra, grama, mangueira ligada e muitos pássaros para correr atrás. A propriedade de Raul foi herança do seu avô que antes de morrer passou tudo para o nome dele, pois o considerava seu neto querido. Meu amigo teve sorte, pois junto disso encontrou uma mulher perfeita e juntos formaram uma linda família.

Toquei a campainha e esperei. Minutos depois ouvi a gritaria e o trinco do portão girando, surgindo na minha frente três crianças e Lúcia a esposa de Raul.

– Victor ainda bem que você chegou! – falou abrindo caminho entre as crianças.

– Por quê?

– Porque eu não aguentava mais os ouvir eles perguntarem que horas o Hugs ia chegar.

– Ah! – e comecei a rir.

Caio o filho mais velho de Raul, tinha sete anos e fazia de Hugs sua diversão. Ele se aproximou perguntando:

– Tio Victor ele vai ficar quantos dias com a gente?

– Uma semana – respondi.

– Que Deus tenha piedade de mim – falou Lúcia revirando os olhos. Segundo ela Hugs era pior que uma criança.

– Eh! – gritou sua filha, Isabela. Uma menina linda que eu não cansava de pegá-la nos braços e enchê-la de beijos – Que bom titio! – gritou pulando em meus braços.

Confia em Mim?Onde histórias criam vida. Descubra agora