Parte 26 - Parte 1

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Eu não devia ter saído da fazenda, pois queria estar no chalé quando Anne retornasse, mas insistiram tanto que se eu não fosse seria morto. Murillo precisava pegar um freezer para colocar as bebidas que estariam chegando no dia seguinte. O casamento de Letícia era verdadeiramente campestre sem preocupações de taças de cristal ou toalhas de seda.

Enquanto a vegetação da estrada ia ficando para trás e Alex e Murillo conversavam coisas banais eu me concentrei nas palavras que não saiam mais da minha cabeça: "você precisa saber se ela quer se casar". Sei que ele falara isso e nem notara o peso dessa frase, mas eu ainda estou sentindo um aperto dentro do peito toda vez que lembro.

O reflexo da luz do sol na janela clariava ainda mais minha mente. Eu sei que não perguntei nada disso para ela, mas... e se ele estiver certo? Se eu estiver iludido achando que Anne pretende firmar um relacionamento quando na verdade ela só pretende continuar da forma que estamos vivendo? Mordi o lábio. Sei que se esse for o caso, tenho que aceitar, porém não consigo nem imaginar o tamanho da devastação que isso causaria em minha vida. Amo Anne e pretendo me ajoelhar aos seus pés e pedi-la em casamento...

– O que você está pensando? Pois estou até sentindo cheiro de neurônios queimando – perguntou Alex.

– Nada.

– Se já é saudade da namorada, não precisa se preocupar, logo estaremos de volta.

– Vou fingir que não ouvi isso.

Paramos em frente a lanchonete mais antiga da cidade, um lugar onde eu e meus irmãos frequentávamos quando rapazes. Não funcionava somente a lanchonete na época, tinham vários tipos de jogos e até mesmo bebidas, chamávamos o lugar de "Cassino". Alex empurrou a porta de madeira e a primeira coisa que senti foi cheiro de hambúrguer fritando, foi como voltar o tempo.

O lugar estava pouco movimentado. Sentei num banco próximo ao balcão marrom de madeira enquanto os dois foram falar com Roger o dono do lugar. Nos fundos havia uma máquina de videogame onde dois garotos disputavam um jogo.

– Sentindo saudades do tempo em que jogava isso?

Olhei rapidamente para trás assustado ao ouvir uma voz feminina tão próxima de mim, e dei de cara com Débora.

– Por que essa cara de assombro?

– Desculpe é que eu tava viajando no tempo olhando o jogo e você trabalhava aqui nessa época e ter ouvido sua voz...

– Achou que tinha voltado o tempo?

– Mais ou menos isso, mas foi um tremendo susto. Como você vai?

– Estou bem, e você já está namorando novamente?

– Jura que não está sabendo de nada ou é fingimento?

– Juro pelo túmulo da minha avó que não estou sabendo de nada.

– Esse seu ditado ainda existe?

– Só para garoto idiotas como você.

E caímos numa gargalhada. Lembrar dos tempos do ensino médio não tem coisa melhor. Débora foi a garota por quem lutei por quase dois anos até consegui sair com ela. Na verdade, foi a namorada que mais demorei. Há anos que eu não a via.

– Sim, estou.

– Como ela se chama?

– Anne.

– Nome bonito. Por que não a trouxe com você?

– Não a vejo desde que Letícia a sequestrou pela manhã para fazer compras.

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