Parte 26 - Parte 2

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Anne estava sentada na minha frente segurando firme nas cordas. Seus ombos estavam na altura do meu peito e toda vez que ela se mexia eu sentia o atrito, tudo isso causava um formigamento em meu corpo. Eu não podia negar que desejava dar meia volta, subir para o quarto do chalé e tê-la em meus braços, pois era praticamente impossível. Até que iniciei um diálogo confuso.

– Quais são os seus planos para o futuro?

Anne demorou longos minutos até responder algo.

– Não sei muito bem... estão... um pouco confusos.

– Confusos?

– Sim.

– Em relação a que?

Anne olhou para o lado. Notei que queria ganhar tempo antes de responder o que realmente pensava.

– Eu...

Percebi que não devia continuar a questioná-la. O diálogo devia fluir espontaneamente.

– Eu entendo Anne.

– Entende? – ela olhou para trás me encarando.

– Sim. Sei que é difícil para você pensar num futuro ao lado de alguém.

– Desculpe... Victor... eu não...

– Xii.

Puxei as rédeas parando o animal, e segurei o seu rosto. Suas bochechas estavam quentes e notei um olhar perdido. Eu precisava protegê-la e amá-la, não restava mais nenhuma dúvida em relação a isso. E Anne também queria isso, só não encontrava forças para confessar, sua mente estava confusa como ela mesma dissera, então eu entendi que acima de tudo eu necessitava dar toda a minha confiança, me entregar de corpo e alma nessa relação, a fim de resgatá-la de uma vez por todas desse passado amargo no qual ela estava dependente.

Beijei de leve os seus lábios e meus dentes roçaram o canto da sua boca. O desejo se espalhou ainda mais pelo meu corpo e senti meus músculos enrijecerem. Meu corpo ardia de desejo. Eu não conseguia mais imaginar os meus dias sem ela, Anne agora fazia parte de mim, da minha vida. Após um longo e ardente beijo, continuamos o passeio, desta vez em silêncio, ouvindo apenas a melodia da natureza que o vento trazia.

Em galopes percorremos a margem do rio e o campo das pastagens. O vento lambia nosso rosto e espalhava um aroma. O cheiro verde do capim estava no ar, e as flores dos ipês amarelos começavam a cair no chão. Anne estava feliz, eu podia perceber. Ela sorria e aninhava a cabeça em meu pescoço. Seu perfume adocicado se misturava ao perfume das folhas de laranjeira que margeavam o caminho. Eu estava tendo um entardecer inesquecível.

Quando o sol começou a baixar resolvemos voltar. Uma adrenalina se espalhava por meu corpo. Ajudei a desmontar a sela do cavalo com Chico, enquanto Anne me observava sentada, com o queixo apoiado sobre os joelhos. O céu escureceu rapidamente deixando os cavalos agitados. Uma tempestade estava vindo. Anne foi em direção a entrada do galpão e cruzou o braços encostando-se a porta, olhando para um céu cinza como a prata, que cobria o horizonte avermelhado.

Assim que guardei tudo e Chico foi embora, fui em direção a ela. Me aproximei devagar. Ela estava com os olhos fechados, com o cabelo solto voando com a força do vento que invandia o galpão. Com um beijo quente em seu pescoço a despertei do devaneio. Anne me abraçou e retribuiu com outro beijo que acendeu uma paixão interna.

– É melhor voltarmos antes que toda essa chuva comece a cair.

– Sim, tem razão – falei abraçado a ela.

– Nunca tive uma tarde tão maravilhosa como essa. Andar a cavalo é como estar voando.

– Que bom que gostou e olhe que nem experimentou sozinha.

– Minha próxima aula – falou sorrindo.

– Faço questão de ensinar – e pisquei o olho.

Assim que fechei o estábulo os primeiros pingos d'água começaram a cair. Antes que os pneus pegassem a estrada principal a tempestade desabou.

O para-brisa girava de um lado para o outro. O céu parecia que iria cair. Os trovões estavam cada vez mais fortes e ao longe os raios caiam nos pastos. Em poucos minutos uma lama grossa se espalhou por todo o caminho. Acelerei um pouco, a fim de, chegar no chalé o mais rápido possível.

Estar na estrada no meio de um campo aberto, com raios caindo, era extremamente perigoso. Anne estava em silêncio olhando os pingos rolarem pela janela.

Dobrei a esquerda e peguei a estrada de cascalho em direção ao chalé. Avistei as luzes da casa dos meus pais acessa. Desliguei o motor.

– Está a fim de correr até o chalé?

– Hum... não muito.

– Tomar um banho de chuva é terapêutico.

– Desculpa perfeita.

– Temos três opções, ficar aqui dentro e esperar a chuva passar, correr na chuva até o chalé e se molhar, ou nos beijarmos e esquecermos a chuva.

Anne soltou uma gargalhada.

– Achei genial.

– Qual opção? – incitei.

– Segunda.

– Jura, estava torcendo pela última.

– Creio que há uma imensa possibilidade da terceira acontecer após a segunda, concorda?

– Eu amo você.

No mesmo instante abrirmos as portas e corremos em direção ao chalé. Estávamos parados a uns cinquenta metros de distância. Os pingos eram tão fortes que não foi necessário muitos para que nossas roupas ficassem encharcadas. Deixei que ela chegasse primeiro a fim de apreciar seu corpo colado a roupa molhada. Um raio caiu do outro lado do lago. Assim que subi os degraus, puxei Anne para um beijo. Seus lábios estavam quentes. Coloquei os fios do seu cabelo para trás e desci meus lábios pelo seu pescoço. Eu precisava dessa mulher na minha vida. Segurei no trinco, girei abrindo a porta a fim de deixar todo aquele desejo comandar meu corpo.

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Final do capítulo 26.

Espero que estejam gostando da história. Estamos caminhando para 100 mil leituras, tomara que a história atinga muito mais do que isso! 

Abraços! 

Confia em Mim?Onde histórias criam vida. Descubra agora