Parte III
Cheguei para trabalhar no dia seguinte revigorado. Aquele encontro com Anne na noite anterior foi o suficiente para eu acordar antenado e feliz da vida. Sei que somente aquilo, não era suficiente para acontecer nada entre nós, mas já era um bom começo. O dia amanheceu completamente nublado, as nuvens estavam pesadas e cinzentas como chumbo. Não demorou em cair uma chuva torrencial, diminuindo o movimento dentro da loja. Após uma hora de chuva, o dia ficou noite. Estava tão escuro que foi necessário acender as lâmpadas. Eu fiquei boa parte com o tempo livre, então fui terminar de ler o livro que havia começado há quase duas semanas – a falta de tempo foi a responsável por tanta demora.
Enquanto estava sentado atrás do balcão, pois era um local onde eu podia ver sua loja, Raul veio dos fundos reclamando.
– Mais que droga! Você não tinha consertado aquela goteira lá nos fundos?
Levantei os olhos do livro, onde eu já estava a mais de 30 minutos no mesmo parágrafo, e respondi:
– Sim.
– Pois não parece. Continua a gotejar.
Ignorei sua afronta e voltei a olhar para a sua loja, sendo açoitada pela chuva. Imaginei se existia alguma goteira lá dentro também, e como ela devia estar enfrentando esse problema. Senti vontade de ir até lá, mas pensando melhor, não seria bom começar assim.
Quando finalmente consegui me concentrar na leitura esquecendo o mundo ao meu “redor” – não completamente é claro – consegui concluir a leitura do livro. Sem dar trégua nenhuma, a chuva castigou a cidade impiedosamente. Quando foi declarado noite, nos ponteiros do meu relógio, levantei da cadeira para esticar as pernas. Estava sozinho, tinha liberado Raul um pouco mais cedo, não havia necessidade de prendê-lo até tarde. O movimento na loja foi pequeno. Fui em direção à porta, quando a vi outra vez. Senti um banho de água gelada cair sobre mim, ao perceber que havia esquecido minha promessa de ligar para o marceneiro. Voltei rapidamente para dentro da loja. E não pude segurar um xingamento.
– DROGA!!!!
Como pude ser tão tapado e ter esquecido isso! Fui em direção ao balcão, peguei as chaves e o guarda-chuva que estava embaixo e sai em direção à porta. Quando abri, um vento carregado de gotículas de chuva me saudou, deixando minha roupa um pouco úmida. Em passos apressados fui em direção a sua loja. Pareceu durar uma eternidade até eu consegui chegar lá. Assim que me aproximei, ela olhou para trás. Não hesitei em dizer:
– Desculpe. Acabei esquecendo-me de ligar para o marceneiro. Lembrei-me agora quando estava fechando a loja e vi você lutando para fechar a sua.
Ela olhou para mim tentando entender minhas palavras e falou:
– Desculpas aceitas.
Fui em direção à porta, e levantei arrastando-a. Um vento forte e frio chicoteou minhas costas. O toldo da sua loja balançava a ponto de voar, mas estava sendo útil, em pelo menos proteger-nos de toda a chuva. Alguns fios do seu cabelo estavam molhados, ela colocou-os para trás da orelha enquanto colocava a chave na fechadura. Estávamos bem próximos um do outro, senti vontade de soltar a porta e segurar seu corpo para beijá-lo, mas me contive. Não podia ser assim, pensar era totalmente diferente de agir. Assim que ela deu a última volta com a chave, soltei o trinco que estava segurando. Olhei para ela e não pude segurar um sorriso.
– Mais uma batalha vencida!
– Não aguento mais isso! – disse ela encostando-se ao lado da porta.
– Tudo culpa minha, desculpe. Eu devia ter lembrado de ligar para o cara.
– Não posso estar me aproveitando da sua bondade. Tenho que arrumar uma solução para isso.
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Confia em Mim?
RomanceUma paixão platônica. Um amor à primeira vista... Victor é um veterinário que acaba se apaixonando pela proprietária da nova loja em frente à sua clínica. Anne é uma ótima florista que consegue rapidamente atrair os clientes. Embora ele saiba quase...