Parte 5

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 Parte V

 Atravessamos a avenida indo em direção à areia branca da praia. A brisa estava fria e forte, as palhas dos coqueiros estavam inclinadas. O som das ondas batendo nas pedras e lambendo a areia eram os únicos ruídos. O cheiro da maresia estava no ar. Anne retirou as sandálias e pisou na areia.

A orla estava pouco iluminada, poucas pessoas corriam pelo calçadão. Caminhamos por quase quinze minutos em silêncio. Até que decidi quebrá-lo perguntando:

– Quanto tempo faz que isso aconteceu?

– Onze meses.

Anne parou de frente para o mar, ficou alguns segundos em silêncio e depois disse:

– Sabe quando amamos alguém, de todo o nosso coração e achamos que aquela pessoa sente o mesmo por você, mas nos fim das contas, estávamos amando sozinhos?

– Não consigo imaginar isso – menti.

– Pois é. Sofri onze meses com isso. Adoeci por dentro. E não foi tão fácil curar.

Nunca é. Amar realmente alguém, não é apenas abrir a nossa boca e dizer eu te amo. Amar alguém é preencher o espaço vazio no seu coração e deixar que esse sentimento seja eterno. Mas nem todos pensam assim, e muitas vezes fingem amar, achando que o coração é oco. E no final das contas quem sofre é você, por amar com sinceridade.

Seus olhos brilhavam com o reflexo da lua. Olhei para o lado à procura de palavras que tentassem aliviar a sua dor, mas não encontrei nada. Eu não conseguia mais fingir que estava apaixonado por ela, estava sendo difícil e dolorido. Criei coragem para jogar as cartas na mesa e permitir que ela soubesse sobre os meus sentimentos.

– Você nunca pensou em recomeçar sua vida? – perguntei. Anne olhou para mim e falou:

– Eu não quero sofrer outra vez.

– E se aparecer o cara certo?

– Não vai aparecer.

– Por que você tem tanta certeza?

– Por que todos devem ser iguais.

– Desculpe, mas vou ter que discordar. Eu não sou igual aos outros.

Anne me encarou e dessa vez sustentei o meu olhar. Quis deixar bem claro que ela estava errada quanto a isso. Como eu queria uma oportunidade para esclarecer tudo, eu também tinha a minha história. Ela virou o rosto para o lado e afastou-se um pouco, perguntando logo em seguida.

– Por que você acha que eu devo recomeçar minha vida?

Notei um peso nas suas palavras. O que falei despertou algo diferente nela. Anne me encarava. Pude perceber facilmente que tentava de alguma maneira decifrar o meu rosto, pois estava à procura de uma resposta que não fosse a que ela acabara de imaginar. Finalmente, ela percebeu que eu estava interessado nela, ou melhor, minha aproximação tinha algum motivo; conquistá-la. Dei alguns passos na sua direção, mas Anne se afastou e tornou a perguntar:

Confia em Mim?Onde histórias criam vida. Descubra agora