Parte 4

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Parte IV

Os dias passaram-se rápidos demais. Hoje já fazem três dias que fui à casa de Anne onde conversamos durante horas. Sinto uma saudade imensa, não sei como explicar isso, porque faz apenas duas semanas que nos conhecemos. Mas não precisa ter dez ou cinquenta anos de amizade para sentir falta de alguém, principalmente quando estamos apaixonados por essa pessoa. Infelizmente – preciso dizer assim – o meu colega atendeu seu pedido, e veio no dia seguinte ajeitar a porta da sua loja. Não fiquei alegre, tenho que confessar, mas pelo menos, eu e Anne, estávamos amigos, ou colegas, não sei dizer com precisão o que realmente era isso. O que importava era que ao fechar minha loja e sair na rua, encontrava com ela e conversávamos durante longos minutos na calçada.

Fui convidado por Raul e pela sua esposa, para um jantar, aceitei apenas por educação e consideração, porque na verdade eu não estava com vontade de sair de casa. Não demorei muito, e comi quase nada indo embora em seguida. Abri a porta do carro e entrei. Fiquei alguns segundos segurando o volante em silêncio. Eu queria poder dar um fim a essa luta infernal que estava acontecendo em minha mente. Raul não estava errado quando dizia que eu estava começando a pirar, pois não consigo tirar Anne da mente. Não consigo esquecer aquela conversa que tivemos três dias atrás em sua casa. Estou começando a parecer com aqueles adolescentes apaixonados, que sofrem por amor. Mas não posso fazê-la se apaixonar por mim. Se eu tivesse esse dom, Anne já estaria ao meu lado. 

Liguei o motor e dei a partida. Peguei a estrada principal, porque não queria retornar para casa naquele momento. As ruas estavam tranquilas, nem parecia ser uma noite de sábado, até mesmo os bares e restaurantes estavam pouco movimentados, para onde foi todo mundo? – perguntei a mim mesmo. No momento em que o sinal fechou olhei para o lado e vi Anne caminhando tranquilamente de cabeça baixa. Não pensei duas vezes e apertei a buzina do carro três vezes, ela olhou para o lado e gritei seu nome.

– Anne!

Ela parou e caminhou em direção ao meio-fio, coloquei a cabeça fora e perguntei:

– Quer uma carona?

Quando ela me reconheceu sorriu e disse:

– Olá, Victor! Não precisa, o ponto do ônibus é logo ali na frente.

– Vamos, deixe de cena! – falei sorrindo.

– Não, obrigada. Preciso caminhar um pouco – e se afastou. Quando percebi que ela estava realmente falando sério, buzinei dizendo em seguida.

– Anne, é apenas uma carona! Não tem nada demais! Vamos!

Ela parou, olhou para trás e, atravessou a rua, abri a porta do carona para ela entrar. Quando Anne fechou a porta, o sinal abriu. Pisei no acelerador.

Seu perfume tomou conta do interior do carro, era doce com um leve toque floral. Olhei discretamente para ela, a fim de verificar sua beleza. Estava trajando um lindo vestido azul claro de alças grossas, com um belíssimo e delicado colar de prata no pescoço. Percebi que desde o momento em que entrou no carro, um silêncio desconfortável a seguiu. Não consegui permanecer muito tempo calado e por isso perguntei:

– Está tudo bem?

Ela olhou para mim e falou:

– Sim. Desculpe estar tão calada.

– Tem certeza que não quer conversar? Ainda acho que aconteceu algo, você está diferente.

Anne abaixou a cabeça rodou o anel no dedo e disse:

– Vim de um jantar com uma amiga, mas... não foi muito legal.

– Quer falar sobre isso? – perguntei gentilmente.

Confia em Mim?Onde histórias criam vida. Descubra agora