Parte 31

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Pela terceira vez tentei dar um nó decente na gravata. E pela terceira vez não obtive sucesso. Para ser sincero, nunca gostei de usar gravatas, sempre me senti sufocado ou em teste para um possível enforcamento. Mas acabei sendo o responsável em acompanhar minha mãe no início da cerimônia e deveria usá-la. Murillo não morava com os pais, foi criado pelos avós maternos, por isso não havia nenhum homem do seu lado da família que pudesse acompanhar a mãe da noiva, e como eu era o último solteiro – no dia em que me escolheram para tal função – fiquei com essa responsabilidade. Porém tudo isso foi arrumado antes mesmo da minha relação com Anne dar certo. E Anne recusou o pedido de Letícia em querer desfazer, para meu pai assumir os dois papéis. Ela disse que se sentiria melhor observando sentada.

Sentei na cama, respirei fundo e decidi tentar mais uma vez. Era quase duas horas e Anne ainda não tinha retornado da cidade. O casamento estava marcado para começar as quinze horas, e segundo minha irmã, não atrasaria por nada. Minha roupa foi escolha dela, nem mesmo tive o direito de opinar. Mas até que a escolha não foi ruim. O terno era de linho claro, a cor eu prefiro não afirmar, mas se fosse chutar diria que era um cinza azulado bem claro. Me levantei após finalizar o nó e fui até o espelho ver como ficara, e por incrível que pareça acertei.

Lembro-me, que tive que aprender sozinho a dar nó na gravata no primeiro baile formal, que teve na escola, no início do primeiro ano do ensino médio. Eu estava querendo impressionar uma garota e precisava chegar o mais atraente possível, acabei passando um dia inteiro tentando. Destruí cerca de cinco gravatas, até que faltando vinte minutos para o baile começar eu acertei. E no fim das contas, os rapazes da escola inteira estavam usando gravatas. Passei mais despercebido do que pipa no céu a noite.

Meu celular vibrou em cima da cama. Anne mandara uma mensagem avisando que estava chegando.

Fui até a janela e dei uma espiada. Alguns convidados já estavam chegando, pude ver ao longe. A sombra das árvores alcançou as cadeiras e a tenda, evitando que as flores murchassem com o sol. Meu pai ainda estava passeando pelo gramado. Voltei e sentei na poltrona a espera dela.

Preciso comprar um par de alianças novas para o nosso noivado. O par que ganhei da minha mãe será para o nosso casamento. Mas hoje é um bom dia para mostrar a aliança no dedo, algumas pessoas que verei merecem ver isso. Sempre existe alguém que garante ter certeza que nada em sua vida pode melhorar. É como se você tivesse que passar por isso até o fim da vida. Mas muitas das vezes ou na maioria, essas pessoas estão completamente erradas, pois nunca devemos subestimar ninguém.

Estava rodando a aliança no dedo quando Anne entrou no quarto me tirando do devaneio. Ela estava completamente linda, mesmo que ainda não estivesse em seu vestido para a festa, mas seu cabelo, seu rosto, seus lábios... como eu tenho sorte em tê-la para mim. Ela olhou para trás e um sorriso iluminou o seu rosto. Me levantei.

– Nossa você está linda!

– Gostou do cabelo? – e parou em frente ao espelho para observar.

– Não entendo de penteados, a não ser quando o cabelo está preso ou solto, mas além do cabelo você está ótima.

Fui em sua direção para abraça-la e beijá-la. Anne se esquivou.

– Não, desculpe..., mas agora não podemos nos beijar. Pode borrar a maquiagem.

– Não creio que você está me rejeitando! Essa doeu...

– Não seja dramático, após a cerimônia prometo beijar você quantas vezes quiser.

– Mas eu queria um de adiantamento...

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