Parte VI
Anne não olhava para mim. Permaneceu com o rosto virado para a janela durante todo o percurso. Eu não podia forçá-la a falar comigo. Se realmente aquela minha declaração não ajudou, não adiantava tentar mais nada. Chegamos a sua casa. Parei o carro próximo ao meio-fio. Olhei para ela que continuava calada, submersa em seus pensamentos. E só então senti um desânimo me tomar, algo me dizia que Anne não iria dar uma chance para mim. Falei quebrando o silêncio perturbador.
– Obrigado por ter jantado comigo. E desculpe, por ter causado tudo aquilo na praia.
Ela virou o rosto para frente e percebi lágrimas rolando pelo seu rosto. Ela secou-as com a palma da mão e olhou para mim.
– Eu é que devo pedir desculpas, estraguei sua noite.
– Ambos erramos então – falei.
– Posso lhe fazer uma pergunta?
– Claro, fique a vontade.
– Como foi que ela lhe traiu?
Segurei firme no volante, a fim de controlar minhas emoções. Respirei fundo e falei:
– Eu estava acabando a faculdade, e nos conhecemos em uma festa. Rapidamente me apaixonei. Meses depois, nos casamos, eu tinha 24 anos na época. Foi algo maravilhoso eu ver que havia me casado com a mulher que amava. Mas ela não sentia o mesmo por mim. Ela apenas se apaixonou, não me amou. Os anos de casados passaram rápidos demais, e quando dei por mim, estávamos prestes a completar 4 anos. Eu trabalhava para dar o melhor para ela, dei de tudo além do meu amor, tudo que uma mulher podia ter para viver em conforto, mas acho que não foi o bastante. Então tudo acabou um dia antes da noite de aniversário do nosso casamento. Eu estava muito feliz, havia comprado um lindo anel para ela, e desmarquei as consultas para sair um pouco mais cedo – olhei para ela, Anne fitava o para-brisa. Se ela estava atenta ao que eu dizia, não tinha certeza, mas estava ouvindo em silêncio, tomei um pouco de fôlego e continuei. – Sai da clínica saltando em nuvens, louco para chegar em casa, beijá-la e convidá-la para jantar fora, pois já havia feito até mesmo as reservas no restaurante. Porém ao entrar em casa e encontrar a casa em silêncio, achei estranho. E fui em direção ao nosso quarto...
Não consegui continuar, precisava de fôlego. Olhei para o lado e notei a luz fraca da lâmpada do poste. Percebendo minha interrupção na história Anne falou.
– Não precisa continuar. Posso imaginar o que você encontrou.
– Senti uma dor tão imensa na alma – falei – Tudo o que eu fiz, foi dar a volta e entrar no carro sumindo dali. Passei uma semana longe de todo mundo. Apenas a angústia e as lágrimas foram minhas companheiras. Duas semanas depois nos divorciamos, e então ela me contou que estava tendo um caso com esse amigo, desde o segundo mês do nosso casamento. Ela disse que após nos casarmos, percebeu que não me amava e, não era o que ela queria. Isso já faz cerca de dois anos. Sofri muitos meses, até que percebi que não valia a pena, eu perder minha vida chorando, por algo que não tinha mais valor.
Anne estava chorando outra vez, só que em silêncio, suas lágrimas escorriam por seu rosto e desciam por seu pescoço perdendo-se. Olhei para ela e não pensei duas vezes.
– Não era minha intenção me apaixonar por você.
– Quando percebeu isso?
– Poucos dias depois que você inaugurou sua loja. Eu sei que não sou perfeito, mas sei amar o suficiente para você saber que vale a pena dar uma chance. Temos um passado que nos persegue, mas eu não deixarei que isso me impeça de lhe amar ainda mais. Confie em mim, só peço isso.
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Confia em Mim?
RomanceUma paixão platônica. Um amor à primeira vista... Victor é um veterinário que acaba se apaixonando pela proprietária da nova loja em frente à sua clínica. Anne é uma ótima florista que consegue rapidamente atrair os clientes. Embora ele saiba quase...