46 - Luna Lovegood

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  No dia seguinte eu me sentia melhor e pior ao mesmo tempo. Era bom finalmente saber a verdade sobre o acidente, que agora eu sabia não ser um acidente, que matou minha mãe, mas ao mesmo tempo era muito mais difícil olhar para o Riddle sabendo que ela era o responsável não apenas pela morte da minha mãe, mas também pela morte e tortura de outras pessoas. Mas, apesar disso eu tinha que ser forte e seguir o plano do Snape.
Fui às aulas normalmente naquele dia, mas a verdade era que eu não tinha a mínima vontade de assistir aulas ou de fazer qualquer coisa que não fosse ficar sentada encarando inutilmente a parede ou qualquer outra superfície. Lá pela hora do almoço decidi tirar um tempo pra mim, para ficar sozinha e refletir. Não que eu estivesse socializando ou falando com alguém, nem mesmo Neville, mas eu queria ficar longe de tudo e todos, pelo menos por alguns minutos. Então, ao invés de ir almoçar com os outros fui até a sala onde fazíamos os encontros da Armada de Dumbledore e me sentei no canto mais afastado e escuro, deixando meus pensamentos viajarem e as lágrimas rolarem pela minha face, levando embora um pouco da dor que se acumulava dentro de mim, e me batia o tempo todo em ondas.
Quando o horário de almoço estava próximo do fim decidi que era hora de tentar distrair a cabeça com outra coisa, então peguei meu notebook da bolsa e procurei por novos e-mails das meninas, mas tudo que eu vi foi uma mensagem rápida da Rose contando sobre ela ter fugido do castigo e ter sido pega pelo Dimitri em uma situação tensa. E aquela estranha mensagem da Bella sobre estar no hospital. Fiquei imediatamente muito preocupada com ela, principalmente porque a mensagem era um pouco antiga e depois dela não haviam mais notícias...
Abri uma página para um novo e-mail e selecionei os nomes das minhas amigas, que estavam sempre ali para mim, e que, de repente estavam com vidas tão tumultuadas que não deram notícias.
"Meninas...
O que está acontecendo com vocês ultimamente? Não tenho notícias há um tempo, então espero que esteja tudo bem e que essa falta de notícias seja por boas razões.
Rose, eu entendo a sua frustração sobre o seu pai não saber ser um pai exatamente, mas considere o fato de que ele nunca foi um pai, então dê a ele um tempo para aprender a lidar com isso. É tudo muito novo pra ele, assim como é pra você. Fugir de castigos... Isso é tão a sua cara! Mas você sabe que poderia ter sido pega, o que teria complicado as coisas. Espero sinceramente que as coisas fiquem melhores para você de agora em diante Rose, e que você consiga conciliar tudo.
Bella... Dê notícias por favor ou serei obrigada a fugir de Hogwarts e pegar um avião pra te achar e ver se está tudo bem com você eu mesma. Estou muito preocupada com você. Melhore logo por favor e avise qualquer coisa... Não posso perder você também.
Annabeth, Tris, Clary... Voltem também, o silêncio de vocês é absolutamente preocupante, principalmente o seu Clary, que é um imã para confusões. Espero que não tenha acontecido nada de potencialmente perigoso com você, com nenhuma de vocês, na verdade.
Agora, vamos às minhas notícias... Minha vida estava parada e bastante pacata, ou tanto quanto ela pode ser, até recentemente... Quando eu descobri mais sobre o acidente que matou a minha mãe... O fato é que as coisas que eu descobri me fizeram voltar a pensar nisso, e dói tanto... Eu sinto tanto a falta dela! Ela era a melhor mãe do mundo, sabe? Ela passava todos os dias cuidando de mim, fazíamos muitas coisas juntas. Ela lia histórias maravilhosas sobre bruxos e outros seres fantásticos pra mim antes de dormir. Fazíamos pic nic no parque todas as tardes e cozinhávamos juntas, ou o mais próximo de cozinhar que uma criança pode chegar. E então ela se foi naquele horrível acidente de carro... Doeu muito, por muito tempo, e então eu me acostumei a conviver com a dor. Depois de tanto tempo estava mais fácil, mas agora, essa história voltou à tona e a dor voltou mais forte do que nunca, e eu simplesmente não sei o que fazer. Não tenho mais vontade de sair da cama ou de falar com qualquer um... Mas preciso ser forte, por ela, por mim e pelo meu pai.
Sobre aqueles outros assuntos, em breve terei notícias boas, eu espero. Estamos trabalhando duro para resolver todos os problemas que estão tornando Hogwarts tão ruim nos últimos meses. Espero que tudo corra bem e que tudo se resolva logo.
Obrigada por serem meu porto seguro meninas... Foi bom poder desabafar sobre isso. Espero ter notícias logo.
Com amor,
Luna."
Apertei para enviar o e-mail e guardei o computador na mochila de volta, era hora de encarar mais uma rodada de aulas. Limpei os últimos resquícios de lágrimas do meu rosto e me levantei, indo para a saída. As aulas da tarde correram tranquilamente, e, somente no final da tarde consegui me forçar a sair do torpor de dor. Eu precisava viver, e se sucumbisse a dor da perda novamente, eu não viveria plenamente, eu viveria o luto.
Após tomar a decisão de lutar contra a dor fui procurar pelo Neville. Eu o encontrei sentado no jardim, à beira do lago, olhando preguiçosamente para o tempo com uma expressão de poucos amigos. Eu me aproximei com passos lentos e me sentei ao lado dele.
-Neville? -Chamei baixinho.
Ele me olhou e sorriu tristemente.
-Luna... Como você está?
-Melhor, eu acho.
-Fico feliz... Porque não falou comigo o dia todo?
-Me desculpe... Eu só... Precisava de um tempo, para pensar em tudo, e aceitar.
-Não precisa se desculpar. Eu só me senti meio inútil por não poder fazer nada... Te ver triste daquela maneira me quebrou por dentro.
Eu não sabia o que dizer, então o abracei com toda a força que eu possuía, e ficamos ali, abraçados até que o sol se pôs e os monitores nos mandaram entrar ou arrumaríamos problemas por conta do toque de recolher. Fomos para o Salão Principal de mãos dadas, e, contrariando as regras nós dois nos sentamos na mesa da Grifinória, cercados pelos nossos amigos, que fizeram de tudo para me animar e me fazer sorrir.
Três dias depois as coisas começaram a ficar agitadas em Hogwarts.
Tudo começou no café da manhã, quando Harry Potter me chamou antes da primeira aula de Defesa Pessoal e disse que Severo Snape havia solicitado a nossa presença na diretoria.
-O que ele quer?
-Não sei. Quando acordei Collin Creevey estava me esperando na saída da Comunal com um bilhete de Snape pedindo para que eu o encontrasse na diretoria depois do café da manhã e levasse você.
-Okay. Deve ser algo relacionado àquele assunto.
-Bom, só vamos descobrir o que é de fato quando chegarmos lá.
Dito isso caminhamos lentamente contra o fluxo de alunos que corriam para suas aulas antes que os professores chegassem, e em alguns minutos chegamos à porta da sala de Snape, que já nos aguardava com a mesma carranca mal humorada de sempre.
-Potter, Lovegood. Estão atrasados, entrem.
-Desculpe professor...
-Guarde suas desculpas para si, Lovegood. - Ele me cortou - Temos pouco tempo e nada que saia da sua boca sobre atrasos irá desfazer o fato de que estão atrasados, e apenas gastará o meu tempo.
Ele entrou na sala depois de Harry e eu, fechando a porta com uma batida seca e alta atrás de si.
-Venham comigo, rápido. Sem perguntas.
Harry e eu nos entreolhamos e demos de ombro, seguindo os passos apressados do professor pela sala da diretoria. Subimos uma pequena escada lateral e entramos no que parecia uma sala. Levei apenas alguns segundos para perceber que estávamos na entrada dos aposentos pessoais dele.
-Não digam à ninguém que estiveram aqui. -Ele sussurrou. - Eu não trago alunos aqui, mas precisava de um lugar seguro para falar o que preciso. Vocês irão apenas escutar o que eu digo, e, se precisarem falar algo dirão apenas no final e em um tom de voz tão baixo como o meu, estamos entendidos?
-Sim, senhor. - Sussurramos de volta.
-Eu estou saindo de Hogwarts por um tempo. Riddle ficará na diretoria da escola. Por isso, não podrei controlar o que acontece aqui dentro, não poderei interceder nos castigos. Vocês terão que fazer isso por mim. Riddle acha que estou saindo para concluir a última parte do plano que permitirá a ascenção dele ao poder da escola sem problemas, mas farei o contrário. Estou indo me encontrar com a Ordem da Fênix, um grupo de pessoas que está ajudando na luta contra os Comensais da Morte. Eles virão em nosso auxílio, mas, sozinhos não conseguirão deter os planos de Riddle, por isso precisaremos dos reforços da Armada de Dumbledore. Vai ser perigoso, pessoas podem morrer e vocês terão que lutar, por isso garantam que as pessoas que ficarão entendam esses riscos e estejam bem treinadas. A professora McGonagall vai ajudar vocês a fazerem reuniões sem serem encontrados pelo Filch ou pelos Comensais. Sigam as ordens dela à risca. Entenderam?
-Sim senhor, mas... Como vamos impedir os castigos?
-Evitem que qualquer aluno faça besteira. Sejam submissos e aceitem tudo o que eles disserem. Por mais absurdo que seja, por mais que discordem. Aceitem e concordem.
-Entendido.
-Mais uma coisa. Façam um reunião da Armada de Dumbledore hoje às 11 da noite. E expliquem sobre a Ordem da Fênix, expliquem sobre a batalha que está por vir. Exponham os riscos e achem um lugar para que os alunos que não queiram se envolver se escondam. Eu indico A Câmara Secreta. É um lugar no subsolo da Escola, a entrada é pelo banheiro feminino interditado. Por baixo da única pia que não funciona, mas avisem à esses alunos que se algo der errado eles devem estar preparados para lutar. Posso contar com vocês e com a Armada?
-Pode. Nós estaremos prontos.
-Então está feito. Eu avisarei quando chegar a hora. E não levem isso levianamente. Será a coisa mais perigosa que já fizeram. Pessoas vão morrer, então treinem e se cuidem para que as baixas do nosso lado sejam mínimas.
-Faremos tudo que estiver ao nosso alcance.
-Então estamos acabados. Podem ir.
E sem mais delongas ele nos conduziu à saída.
-Mais uma coisa, não vão para a aula agora. Não quero que o Riddle saiba que estiveram comigo.
-Okay. - Respondi. Em seguida me virei para Harry. - O que faremos até o final do horário?
-Vamos achar uma sala vazia. A essa hora Filch deve estar limpando as Estufas, então não teremos muitos problemas.
-Por mim está bom assim.
Começamos a procurar por salas vazias, o que era bem difícil à essa hora, mas depois de um tempo achamos uma pequena sala no térreo que serviria.
-O que faremos Harry? -Perguntei assim que nos acomodamos nas carteiras que ali haviam.
-Faremos o que o Morcego disse, exatamente como ele disse. Se não estudarmos corretamente não passaremos nos testes.
Rapidamente entendi que ele falava do plano em forma de códigos, o que era muito inteligente, pois poderiam haver escutas pela escola e um passo em falso destruiria o plano e as nossas chances de livrar Hogwarts da ameaça.
-Temos que avisar aos outros alunos sobre as revisões. Ouvi dizer que eles pegam pesado nas provas, e pelo que vimos do semestre passado vai ser realmente impossível passar se não estudarmos tudo. Não quero que ninguém reprove.
-Faremos isso hoje à tarde então. Deveríamos pedir ajuda ao Neville, Mione, Ron e Gina para cobrirmos os alunos mais rápido.
-Eu concordo. E acho que deveríamos marcar de estudar na nossa biblioteca no dia da visita à Hogsmeade, afinal, a maioria dos alunos vai sair, então teremos paz para estudar.
Plantar um encontro falso, para que eles não ficassem em alerta na data correta da reunião.
-Eu acho ótimo. Assim teremos mais silêncio e espaço livre.
Sorri para ele, satisfeita. Depois disso ficamos quietos até dar o horário da próxima aula, quando saímos para o corredor carregando as nossas moedas na mão. Encontrei várias pessoas da Armada à caminho da aula, eu mostrava a moeda e eles assentiam discretamente, sabendo que teríamos compromisso à noite. Por conta da ansiedade do encontro da noite o dia passou lentamente, e os últimos minutos da última aula transcorreram como se fossem anos e não minutos. Fora isso tudo estava normal, até o jantar.
As pessoas das quatro Casas comiam e conversavam tranquilamente quando Riddle chamou nossa atenção.
-Eu tenho um aviso para vocês. À partir de hoje estou assumindo a diretoria da Escola. O professor Snape teve que se ausentar por um tempo, então eu estarei no comando de Hogwarts.
Sem mais nada dizer ele se retirou, os alunos cochichavam entre si, desesperados, e os estudantes da Armada olhavam para mim e pro Harry, em busca de respostas que nós não podíamos dar.
Mais tarde, na hora da reunião da Armada nunca havíamos visto os alunos tão quietos quando Harry começou a falar.
-Como vocês sabem Riddle e os novos professores são terroristas. Eles planejam controlar a escola em breve, o que tirará todas as nossas chances de ter a Hogwarts que amamos novamente. Um grupo chamado Ordem da Fênix procurou a mim e a Luna recentemente, pois eles tem um plano para derrubar o regime do Riddle de dentro para fora, e eles já estão agindo. Mas para a última fase do plano ter sucesso eles precisarão de nós. Não será fácil. Vai ser a pior prova que já enfrentamos na vida. E muito mais perigosa. Eles me explicaram os riscos, e eles são muitos. Teremos que lutar e dispor de todas as nossas habilidades de luta, defesa e raciocínio. Teremos um confronto direto com os Comensais da Morte. E nesse confronto nós iremos nos machucar e poderemos até morrer. Esses são os riscos. Para quem quiser lutar nós teremos treinamentos mais intensivos todos os dias, mas, para quem não quiser acharemos um esconderijo. Quem estiver disposto à participar deverá anotar o nome na lista que está com a Luna.
Quando ele acabou de falar um silêncio determinado se instalou. Cada aluno considerava suas possibilidades, e então, uma longa fila com todos os alunos da Armada se formou para assinar a lista. Hogwarts está lutando.  

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