60 - Tris Prior

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O cinzento do meu uniforme escolar refletia o que eu estava sentindo por dentro após o acidente dos meus pais, pude ficar duas semanas afastada do colégio, mas eu precisava voltar e terminar. Faltava pouco agora e eu não podia mostrar fraqueza, não podia mostrar para todos como eu me sentia quebrada por dentro.

A verdade é que, para mim, os dias não tinham mais cores, eram todos cinzentos e iguais, eu tentava aparentar a mesma pessoa, não precisava da pena de ninguém, não podia permitir que pensassem "coitadinha dela, perdeu os pais", me mantinha sólida como uma rocha por fora, mas meu interior não era tão forte assim.

Enquanto eu estava nas aulas, eu me focava na matéria, eu não pensava em nada além disso, eu precisava manter minhas notas, faria isso por eles, era o que eles queriam e ficar de braços cruzados chorando não me levaria a lugar algum.

As provocações não importavam mais, eu não consegui mais me importar com isso, quando eu passava pelos corredores eu não via mais as pessoas, eu não escutava mais suas palavras, eu conseguia me desligar completamente dessa parte, o almoço com Christina geralmente envolvia estudos e comida. Às vezes ela tentava tocar no assunto, mas eu não permitia que ela falasse sobre isso, não queria falar sobre este assunto. Eu precisava ser forte e seguir em frente.

Após o acidente descobri que morar na mesma casa que morei com eles era algo que me deixava muito triste, eu começava a pensar que os jantares nunca mais seriam os mesmos, meu pai não pegaria mais no meu pé por qualquer loucura que eu inventasse fazer e minha mãe não tentaria amenizar as coisas. Eu não escutaria mais a voz do meu pai quando ele reclamava da imprensa e nem a risada maravilhosa da minha mãe, não encontraria meu pai na sala de exercícios fazendo apenas dez minutos de esteira e saindo com a desculpa de que precisava resolver algo, nem minha mãe deixaria lanchinhos para mim quando percebia que eu estava estudando muito e não desceria para jantar.

Então, Caleb começou a infernar a minha vida, Jeanine tornou-se visitante regular da minha casa, sempre que ela estava lá eu ia para o apartamento do Tobias e ficava lá até o dia seguinte, meu irmão continuava tentando me fazer reconsiderar sobre o processo do Peter, todos os dias.

Assim, ao completar dezoito anos (alguns dias depois do meu retorno ao colégio), resolvi que era hora de deixar a casa cheia de lembranças e meu irmão mala. Fui morar com o Tobias, ele concordou em dividir seu apartamento comigo, então levei todas as minhas coisas enquanto o Caleb não estava em casa, com ajuda de Christina, Will e Tobias.

Eu escolhi um horário que meu irmão não estaria, porque ele iria tornar a mudança um inferno. Após a mudança esperei Caleb chegar e comuniquei que estava indo embora, ele ficou horas falando que eu não deveria ir, que estava sob tutela dele e todo aquele discurso. Mas eu não precisava mais de tutor, eu já tinha maioridade legal para algumas coisas e eu não estava indo morar com qualquer adolescente desmiolado, então não haveria problema, porém se fosse necessário, eu conseguiria um documento de emancipação.

Viver no apartamento do Tobias era bem mais simples e eu pensava bem menos a respeito dos meus pais. Apenas me dava ao luxo de sentir tristeza e chorar quando estava sozinha, sempre que qualquer um estava por perto eu tentava parecer normal.

Haviam noites que eu acordava assustada depois de um pesadelo, e Tobias me abraçava, acalmando-me até eu voltar a dormir. Às vezes eu sonhava com o dia do enterro, enterramos apenas os restos mortais deles, não havia sobrado muito para ser enterrado depois da explosão. Foi o pior dia da minha vida.

Todos meus amigos estiveram lá para me apoiar, mas como realmente poderiam me fazer isso? Nem eu sabia do que eu precisava.

Eu só conseguia expressar meus reais sentimentos para as minhas amigas virtuais, que me ajudavam mais do que qualquer pessoa próxima a mim, enviando e-mails com palavras amigas e ótimos conselhos. Bella era muito boa com as palavras, Annabeth, Clary e Rose só tentavam me animar mesmo, apenas a Luna passou por algo semelhante ao perder sua mãe, então, ela mais do que todas, conseguia entender o que eu sentia, me vi trocando mais e-mails com ela no final das contas.

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