-Bom dia... - ele se aproximou de mim por trás e disse bem perto do meu ouvido. Tomei um daqueles sustos bons, quando você quer mesmo tomar esse tipo de susto. Me virei e não respondi nada, apenas o beijei, ali mesmo na frente dos outros que falavam comigo, sem dar a mínima. Precisava sentir a boca dele de novo. Mal sabia Alan, o quando eu fiquei pensando nele ontem.
-Oi. - disse mais seca do que pretendia, quando nos encaramos ele ainda estava agarrado a mim, com as mãos me pressionando contra o próprio corpo. E agora em vez de um grosso casaco e muitas camadas de roupa, havia apenas um biquíni e uma blusa entre nossos corpos. Fiquei um pouco envergonhada quando percebi que era a primeira vez que ele podia ver meu corpo seminu. Tentei pensar em como Melanie agiria, mantendo pose e sendo como sempre metida porém linda. Não fez diferença o que eu fiz ou não, no final das contas. Ele se afastou e não ligou pro meu jeito. Alan estava muito distraído conversando com garotas (muito mais bonitas do que eu) bem na minha cara, enquanto eu me mantinha ereta, tentando disfarçar meu ódio que insistia em se estampar no meu rosto. Não que ele tenha me ignorado; aliás, me manteve perto, segurando minha mão me puxando pra perto, a todo momento, mas eu não consegui prestar atenção em nenhum palavra. Só ficava lá que nem uma retardada tentando lançar meu olhar mais intimidador para aquela menina loira e alta a minha frente. Eu sumi entre dois corpos altos e sarados, o de Alan e dessa menina que pesquei se chamar Julia. Essa loira oxigenada, tinha mesmo que aparecer agora, quando eu tenho tantas coisas pra perguntar a Alan? As outras que eram menos interessantes já tinham saído de perto, mas ela ficou o tempo todo. Tentei algumas vezes mudar de assunto e fazer alguma pergunta pra ele, mas Julia simplesmente me atropelava e Alan fingia que não estava vendo. Não entendi porque. Está apenas brincando? Me irritei e me desvencilhei dele em alguns segundos e ele nem se deu ao trabalho de notar, apenas jogava seu querido charme em cima da outra. Julia, por outro lado, reparou com certeza, tanto que se virou pra mim e deu um risinho. Tentei parecer legal e dei um risinho de volta, como se não me importasse, mas soou tão sínico quando eu estou no momento. Por fim, antes que eu pudesse ser mais humilhada pelo sorriso branco e perfeito daquela dois, recolhi tudo que eu levei pra beira na piscina hoje -lugar onde eu não achava que iria encontrar Alan, mas cá estou eu- e fui me retirando de volta ao quarto na esperança que Melanie ainda esteja lá, para eu poder desabafar e fala horrores da Júlia. Não que eu precise de alguém, posso muito bem falar com as paredes, mas as paredes não vão concordar comigo.
Voltei caminhando calmamente tentando me conformar que não fiz algumas perguntas pra Alan sobre o dia dele, e sobre o que nós éramos. Tipo... "A gente só ficou? Ou tem algo a mais?" Poxa, eu o beijei sem saber disso antes. Se ele me dissesse algo que insinuasse que não era pra continuar com isso, eu entenderia -um pouco chateada né-, okay. Mas não estou sabendo que tipo de jogo ele está fazendo.
No meio do caminho, eu vi somente pela segunda vez, aquela menina que está ficando famosa por não aparecer. A primeira foi só na divisão, mas foi muito de relance. Eu, diferente dela, justifiquei minha ausência na atividade de ontem, já que fiquei de ressaca o dia todo. Mas a tal Mickaely não aparecia em nada e desaparecia de tudo. Alguns coordenadores, inclusive o que costuma ficar conosco, estão discutindo com ela na esperança que ela dê um resposta, mas a garota não diz um "A". Apenas fica encarando os homens já visivelmente irritados. Tentei passar perto o suficiente pra ouvir alguma coisa, sem parecer suspeita.
-Você não pode ficar nesse cruzeiro do jeito que está. As pessoas precisam saber que está bem. Acontece que aqui tem alguns perigos - eu fiquei me perguntando que tipo de perigo podia ter- e estamos ficando preocupados com sua saúde. - quando ele disse saúde, suspeite que estivesse se referindo a saúde mental, já que ouvi dizer que essa menina tem alguns problemas de depressão. Mas hoje em dia isso tem tratamento e é algo normal até. Talvez fosse algo a mais.
-Não me importo. - ela disse é simplesmente se virou já andando para longe.
Olha, eu sei que não é bonito ficar ouvindo conversa dos outros, muito menos de pessoas que não conheço, mas foi por pura curiosidade. Eu nem costumo querer saber de fofocas nem nada do tipo, mas não sei... Me deu a impressão que eu podia ajudar essa menina. Mas do jeito que ela agiu, não vou tentar me aproximar, considerando que já tenho que tentar manter a proximidade com Melanie e resolver todos os dilemas românticos que criei -sem querer querendo- com Alan, a começar por "como exterminar uma Julia"- sem ofensas Julias do mundo-.
Eu entrei no elevador segurando minha toalha em uma mão, e já digitando mensagens de texto no celular para Melanie com a outra, e a porta do elevador começou a fechar somente comigo dentro. Mas aí, uma mão cheia de anéis pratas e unhas pontiagudas pintadas de um preto fosco -lindo- segurou-as fazendo se abrir de novo. E lá desfilando em cima de um salto, veio a gótica Mickaely me encarando de cima a baixo. Parou do meu lado olhando para frente e deixou o elevador seguir percurso. Eu guardei o celular e tentei absorver a quantidade de informações que pendiam daquele corpo ao meu lado. Ela é magra e esbelta, de um jeito que serviria pra ser uma ótima modelo. O rosto é curto e quadrado, o que faz o corte "Joãozinho" cair muito bem. Cabelos descoloridos mas ainda loiros, penteados pra frente com uma franja triangular bagunçada tapando parte das sobrancelhas pintadas. Aquela maquiagem toda preta -batom, sombra, muito rímel.- combinando com os olhos ainda mais escuros. Nem dá pra narrar aquela roupa. Algo feito de couro, como uma jaqueta de motoqueiro, só que comprida até a reta dos joelhos. Muitas correntes no pescoço esquio e comprido, que era a única parte completamente nua daquele corpo. Eu não sou muito fã de um visual tão pesado, apesar de ter épocas que quero me vestir assim. Mas a algo de tão simétrico, e tudo estava tão bem definido, que chega a ser formidável. Parecia uma profissional quando o assunto é moda gótica. Eu, de cara, achei ela bonita e não consegui tirar os olhos. Ela me encarou por um momento e eu queira me enterrar por ali. Achei que iria falar algo de estranho, ou pelo menos brigar comigo por ficar encarando. Talvez ela tivesse percebido que eu ouvi parte da conversa. Pela expressão sempre séria e as sobrancelhas um pouco curvadas, da a impressão que é uma garota briguenta e mal-humorada. Mas ela não disse nada. A porta do elevador de abriu, e ela saiu, mais uma vez desfilando perfeitamente no salto agulha até o fim do corredor. Eu segurei o elevador o máximo possível, pra tentar ver se ela iria entrar em algum quarto ou algo do tipo, mas ao em vez disso, ela andou até o fim, e dobrou na porta que dá nas escadas internas. Como aquelas saídas de emergência de prédios. Eu fiquei me perguntando que diabos ela iria fazer lá, mas a resposta era "nada". Não tem nada além de escadas por lá. E se ela queria irá pra qualquer outro andar, era só ela ter ido direto pro andar. Não é? Ou eu estou errada?
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Prisioneira Marítima
Mystery / Thriller"Se eu teria feito alguma coisa diferente? Quase tudo. Eu teria encarado as coisas de uma forma mais aberta, sabendo lidar com cada erro em cada detalhe. Teria embarcado nessa viagem para me divertir não pra trabalhar. Teria dito ao Alan tudo o que...