Acendemos as lanternas de nosso celulares respectivamente. Eu me lembrava desse lugar com alguma espécie de luz, e pelo que lembro eram as luzes vermelhas que estavam a muitos metros uma da outra. Não sei como era mais assustador; tudo vermelho ou tudo escuro a não ser por nossas lanterninhas.
Eu andei na frente e desci apenas alguns degraus até Melanie agarrar meu braço com um pouco de força. Ela sempre estava animada mas deixou sua preocupação com aquele ambiente transparecer um pouco. Eu a encarei a meia luz por um momento, mas ela não olhou pra mim. Apenas apontava o celular para as paredes cinzas e tentava absorver pra que exatamente poderia servir aquele lugar. Descemos mais dois lances de escada até nossas respirações ficarem quase imperceptíveis. Nos duas tivemos o mesmo pensamento de diminuir o ritmo da respiração, a fim de conseguir escutar caso houvesse mais alguma coisa ali conosco. Não que pudesse ter algo a mais que alguns insetos, mas tínhamos mais medo de aparecer outra figura humana.
-Falta muito até o lugar? - ela perguntou sussurrando, quebrando um pouco do silêncio.
-Um pouco. Eu tinha ido mais de baixo da primeira vez. - respondi com o tom de voz mais tranquilo que pude, mas mesmo assim estava trêmula.
Fizemos o resto do caminho até lá em completo silêncio. As paredes eram todas iguais a não ser pela indicação de um número pintado em vermelho escuro. Devia ser o número do andar, mas não esclarecia exatamente onde estávamos. Mas calculando mais ou menos o quanto descemos, eu poderia dizer que estávamos quase chegando a área proibida para visitantes. Eu imaginei que aquele lugar devia ser usado pela tripulação, mas simplesmente não tinha sinal de quem alguém passaria por ali tão cedo.
Melanie deu um salto pra trás e eu quase atirei meu celular quando ele vibrou em minha mão com uma chamada de Alan.
-Alo? - sua voz estava baixa. - Serena, onde você está?
-Eu tô nas escadas. Estou com Melanie. - sussurrei
-Foi procurar coisas agora? - ele deu um riso abafado. - eu estava pensando se você não iria querer comer mais tarde na minha suite.
Eu corei quando ele falou disso, voltando a lembrar de seus beijos mais cedo e Melanie talvez tenha percebido porque empurrou meu braço dizendo para desligar.
-Melhor outro dia. - pensei rápido e minha cabeça não me deixou em paz. - mas preciso de um favor pra agora...
Pedi que ele esperasse do lado de fora da porta no andar que nós sairíamos caso não houvesse nada lá. E se demorássemos mais de 10 minutos era pra ele chamar ajuda. A princípio ele riu, e achou que não precisaria disso, mas me jurou que estaria lá.
Quando desliguei o celular -me despedindo amorosamente- percebi que faltava apenas um lance de escadas pra chegar aí lugar onde estava a coisa. Eu olhava parar baixo e não via nada. Devia ter uma luz meio azulada saindo daquela coisa como da última vez. Antes de descer insisti para Melanie agarrar forte meu braço e que desligássemos as lanternas, assim veríamos se aparecesse algo azul. Ela não quis fazer insistindo que não poderíamos ficar em um lugar como aquele sem um foco de luz. Discutimos brevemente até ela fazer o que eu disse.
-Não acredito... - Melanie suspirou e entrelaçadas descemos até o último degrau olhando fixamente para uma luz azul brilhosa que se espalhava pelas paredes.
De frente para onde devia ter uma indicação de andar, estava o mesmo horizonte azul que eu vira no outro dia. Dessa vez, eu observava tudo com mais atenção, planejando não ficar mais que 5 minutos naquele lugar. Apesar de estar no mesmo tom de azul, aquela janela -com certeza não é um espelho como eu pensava- estava com uma espécie de energia. Era como se a coisa azul através da moldura branca e arredonda que cercava com um todo, estivesse instável, produzindo ondas de energia que atingiam a gente de leve, mas era perceptível. Algumas vezes até pensei ouvir um barulho bem grave, como se fosse a nota de um baixo. Eu cheguei mais perto e fiquei tentada a tocar, mas me contive, porque mesmo olhando fixamente, não sabia dizer de existia um vidro entre mim e aquela coisa. Era mais alto que eu, indo do chão ao teto. Acho que passamos uns 2 minutos apenas olhando como se estivéssemos hipnotizadas.
-O que você acha que é? - perguntei finalmente, e Melanie me encarou confusa.
-Eu não faço ideia. Mas com certeza existe uma energia aqui. Diferente de qualquer coisa que eu já vi. - ela se pôs ao meu lado. - melhor não tocar. E é melhor sairmos daqui. Se isso for radioativo? O que a gente faz agora?
-Melanie... se isso fosse radioativo não acho que só nos saberíamos da existência disso.
-E como você sabe que só nos sabemos da existência disso?
Eu suspirei, mas era verdade. Não tinha como saber de nada. Puxei o celular, e liguei pra Alan. Avisei que sairia pelo andar de cima e que estava bem, e que nos conversaríamos melhor quando nos encontrássemos. Quando desliguei Melanie me encarava meio estranha.
-Tá rolando algo a mais entre você e ele?
-Ainda não. - respondi no automático
-Ham? Ainda? Quer dizer que isso tá na sua mente? - ele perguntou soltando um riso.
-Eu não sei Melanie. Eu tenho vontades, tá? Mas não sei se Alan é certo pra isso.
-Querida... pelo que eu vejo dele, ele é ótimo pra isso.
Nós ficamos seria de novo quando lembramos onde estávamos. Então nós apresamos a subir as escadas e sair no andar mais próximos. Admito, foi um alívio estar cercada de luz, mesmo que fosse as lâmpadas dos corredores.
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Prisioneira Marítima
Mystery / Thriller"Se eu teria feito alguma coisa diferente? Quase tudo. Eu teria encarado as coisas de uma forma mais aberta, sabendo lidar com cada erro em cada detalhe. Teria embarcado nessa viagem para me divertir não pra trabalhar. Teria dito ao Alan tudo o que...