É como se tudo estivesse voltando alguns dias. Eu fiquei umas três horas sentada na orla esperando Will desembarcar finalmente. Alan foi com Gusta e Melanie conhecer o centro da cidade e o hotel. Mas eu não consegui acompanha-los; Alan não me deixaria em paz e eu precisava de tempo sozinha pra ponderar as coisas. Por fim, decidi que apesar do que aconteceu entre mim e Will, não posso deixar de negar minha atração por Alan que ainda parece também sentir algo por mim. Considerando que os dois tem o mesmo nível de conhecimento da minha vida, a minha virgindade é a única coisa que distância um do outro, mas isso poderia ser resolvido com sexo. E tudo voltaria a estar empatado.
A minha intenção, claro que é decidir antes que isso seja minha única alternativa, mas não vejo muito como diferencia-los de outra forma que não seja o sexo. Afinal, se eu transar com Alan ele vira Will. Não totalmente, mas da pra se equiparar.
-Nossa, mas que merda! - eu soltei alto com raiva de estar pensando algo tão idiota assim. O que está acontecendo comigo? Estou confusa demais pra conseguir pensar em uma forma de resolver esse enigma. Não sei como posso estar mesmo cogitando isso.
-Você ficou aqui? - Will se aproximou fazendo sombra em mim sob o sol de quase meio dia. - Achei que te encontraria pelo centro.
-Eu quis te esperar. - eu respondi meio sem graça e levantei sendo afagada em um abraço quente. Mesmo assim, a sensação de conforto perto de Will diminuiu consideravelmente já que agora minha mente se divide entre dois corações. E pelo jeito Will pode perceber isso.
-Você está bem? - ele olhou nos meus olhos mas eu não deixei de desviar. - Aconteceu algo? Foi com Melanie?
-Não, não... ela tá bem. Tá com Gusta. E Alan. - eu suspirei olhado pro chão.
-Sei... é por causa dele? - Will trancou os dentes.
- É, mais ou menos. Eu tava pensando que seria melhor eu pegar um quarto separado pra mim lá no hotel.
-Por que? - ele perguntou baixo quase sem voz, já imaginando as piores coisas, mas que não devem ser muito piores que a realidade.
-Eu ainda não sei o que sinto, Will. Eu quero ser totalmente sincera com você...
-Por favor. Me conte. - sentamos de volta no banco e dessa vez o sol estava atrás de nuvens.
- Eu achei que tinha resolvido tudo com Alan, mas ele veio com todo aquele papo que queria só dar um tempo pra mim, e agora ele quer que eu volte atrás... eu não sei direito o que tá acontecendo. - eu o encarei mas ele continuava tenso.
-O que foi que ele disse?
-Resumidamente, que deixou eu me aproximar de você porque ele não queria ser o cara da minha primeira vez. - eu não pude deixar de corar ao lembra de tudo que aconteceu, e por fim um fogo começou dentro de mim de novo olhando pro corpo de Will perplexo ao meu lado. Ele abriu a boca mas não disse nada por um bom tempo.
-Alan falou isso pra você? - eu nem respondi. - Você tá me dizendo que acredita mesmo que um cara que diz isso, pode estar apaixonado por você? Cara, ele é o maior dos idiotas. Não, não... - ele levantou e passou a mãos sobre os olhos, depois se virou pra mim. - se você acreditar nisso, você vai ser a maior idiota. Ele te faz acredita que você se aproximar de mim, estava sobre o controle dele?
Isso com certeza teria me atingido mais se eu estivesse pensando direito. É a primeira vez que eu vejo Will realmente estressado com algo.
-Sério, Serena. Eu te deixo sozinha por uma manhã e você consegue cair no papo do cara de novo? Achei que podia confiar em você. Achei que estivéssemos com uma ligação... sei lá, mais seria que isso. - ele falava alto e gesticulava, claramente irritado com essa situação.
-Eu nem disse o que vou fazer ainda...
-Eu já posso imaginar. Você provavelmente tá pensando em transar com ele pra saber se gosta dele. Se gostar, você vai embora; e se não gostar, vai querer voltar pra mim, mas isso não apaga o fato de ter me traído. Eu to fodido de qualquer jeito. - ele sentou de volta esfregando o rosto. Eu realmente me senti ofendida dessa vez, mas ao invés de isso de dar raiva como geralmente faz, eu senti tristeza e deixei uma lágrima escapar. Ele me olhou de novo. Senti seus olhos marejarem juntos com os meus e nos dois choramos como crianças naquele banco. Eu ainda estava secando as lágrimas quando senti a mão dele sobre minha coxa.
-Você é uma mulher totalmente capaz de tomar suas próprias decisões. Eu vou parar de falar o que acho, porque não quero te influenciar. Mas devia tomar cuidado com o que ele te influencia.
-Eu não vou fazer nada. Não vou simplesmente voltar atrás e fingir que ele não é um babaca. É só que uma coisa que ele disse é verdade. Eu também não te conheço. - ele me olhou de cima a baixo.
-Mas você ia me conhecer agora. De verdade. Longe do meu local de trabalho. Minha família toda mora aqui, e eu aí passar todo esse tempo com você... - ele suspirou. - esquece. Só to falando o que você já sabe. - pairou entre nós um silêncio desconfortável. Só agora parei pra observar como ele estava diferente fisicamente. Usava uma calça preta e coturnos, junto com um casaco grosso. Seu cabelo estava arrumado de um jeito diferente, jogando pra trás, um pouco mais bagunçado que de costume. Inclusive uma coisa nova apareceu. Eu não pude deixar de por a mão na orelha dele onde havia um brinco em forma de spark.
-O que é isso? - eu ri e segurei a peça de prata.
-É a única peça que posso ter já que tenho que virar um almofadinha pro trabalho. Se eu pudesse seria tomado por tatuagens. Mas isso é impossível no meu ramo.
-Eu juro que nem podia imaginar que você gostava dessas coisas.
-Ta vendo? Ainda tem muito o que saber de mim. Antes de desistir. - ele apoiou os cotovelos nas pernas e jogou o corpo pra frente. A vento vindo do mar bateu em nos e pareceu que levou todo o mal que estava por perto. - Eu prometi, que não ia desistir de você.- me lembrei daquele promessa que foi recentemente feita, mas que já parecia um século.
-Eu sei. E eu queria ter prometido também naquela hora. Mas agora eu te prometo uma coisa. Depois, eu não sei como vai ser quando voltarmos pro navio. Mas essa vai ser a melhor viagem das nossas vidas.
- ae? - ele me olhou sorrindo.
-Claro. - eu levantei e puxei ele comigo junto. - Inclusive devíamos ir pra nossa suíte agora.
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Prisioneira Marítima
Mystery / Thriller"Se eu teria feito alguma coisa diferente? Quase tudo. Eu teria encarado as coisas de uma forma mais aberta, sabendo lidar com cada erro em cada detalhe. Teria embarcado nessa viagem para me divertir não pra trabalhar. Teria dito ao Alan tudo o que...