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Ela não olhava pra mim. Usava o mesmo vestido branco e sua pele pálida refletia a luz azul. Eu senti medo. Encontrá-la aqui ressaltou a ideia de que era um fantasma. Micaelly não parecia assustada, e devia ter motivo pra isso. Tá certo que ela não é nem um pouco normal, mas não da pra imaginar ninguém que não se sentiria insegura numa situação como essa. Não importa o quanto anormal ela é.

A garota olhava distraidamente pro azul. Eu pensei em me virar e sair e fingir que nada disso nunca aconteceu, mas sei que essas imagens não vão sair da minha cabeça.

-Como você chegou aqui? - a voz dela é doce e baixa. Ela não se virou pra mim, e parecia que a pergunta era pra ela mesma.

-Eu só andei. E apareceu isso. - não sinto que devo satisfação a ela, mas alguma coisa me dizia que deveria respondê-la de qualquer forma.

-Como a maioria sempre chega. Eu queria saber o que diferencia quem vem e quem fica.

-Quantas pessoas vieram até aqui?

-Algumas. Sempre mulheres, mas depois de um tempo elas param de vir. - Micaelly me respondeu. Não sei como ela pode saber disso, se teoricamente vem aqui a pouco tempo.

-E o que isso significa?

-Você foi escolhida como nós. - A garota branca me respondeu com naturalidade.

-Por quem?... Pra que? - ninguém me respondeu. Uma luz iluminou minha mente, me voltando pra realidade. Essas meninas só podem ter problemas. As duas são extremamente estranhas e só falam coisas sem sentido algum. Não me dão nenhuma explicação. Por que eu deveria acreditar em algo vindo delas? - Olha, eu preciso saber quem são vocês.

-Você já sabe meu nome. Eu vim de São Paulo, e desde o primeiro dia aqui eu encontrei esse lugar e venho aqui todos os dias. - Micaelly respondeu com desdem da minha desconfiança.

-Por que?

-Eu não sei... só me da vontade de vir, e eu venho. - ela deu de ombros e se aproximou mais do azul. Eu não via nada. Apesar de ser uma imensidão reconfortante ao invés de assustadora. Geralmente quando nos deparamos com coisas grandes demais, nosso corpo reage com instinto, e você automaticamente sente medo. Isso em algumas pessoas é medo de altura, em outras o medo do oceano. Mas todo mundo tem medo do infinito. Quando você se depara com algo tão inexplorado como o infinito, você se sente a coisa mais fraca e vulnerável.

-Meu nome é Nivea. Eu estou aqui a pouco mais de tempo. Mas nem sempre vocês vão conseguir me encontrar, apesar de que eu nunca saio daqui.

-Como assim? - mais uma vez minha pergunta precipitada só levou encaradas das duas, mas dessa vez Micaelly parecia tão curiosa quanto eu. Achei alguma coisa que essa garota não pode dizer que sabe. - Sabe de uma coisa... - eu dei dois passos pra trás, o que foi o suficiente pra chegar a um degrau - vocês estão loucas. Não me falam o que ta acontecendo.

-Você precisa ter calma pra entender. Isso aqui é maior que qualquer uma de nós. - Nivea passou a mão fantasmagórica pelo "portal" e ele reagiu a ela de uma forma que não havia feito comigo ou com Micaelly.

Isso foi o suficiente pra que eu abandonasse toda essa loucura e seguisse a escada a baixo. foi em dois segundos e eu já estava no corredor cheio de gente. Tentando secar meu suor e permanecer calma. A primeira pessoa que pensei em encontrar foi Will, mas também precisava falar tudo pra Melanie. A primeira coisa que pensei, logo fiz. Mandei mensagens pros dois e também para Alan. Mas por um momento me arrependi. Alan ainda não sabia da existência de Will. Isso é o mais importante agora? Então percebi... Já era de manhã. O próprio relógio do meu celular marcava nove da manhã. Passei alguns míseros minutos lá em baixo e seis horas correram aqui.

Os três me encontraram em coisa de vinte minutos o que foi o suficiente pra eu me acalmar, lavar o rosto e pensar em como descrever tudo o que aconteceu. Melanie e Will já sabiam que era sobre isso. Os dois sentaram no sofá do café - o mesmo onde fazíamos nossas pesquisas- e Alan apareceu um pouco atrasado, e acompanhado de Gusta, o que me deixou um tanto insatisfeita e a Melanie também. Ela não fez a menor questão de  disfarçar a expressão de desprezo. Alan fez uma careta pra mim quando percebeu Will, meio que me perguntando "Quem é esse cara?". Eu o ignorei. O que mais poderia fazer?

-Então gente... - eu respirei fundo algumas vezes. Os quatro aguardavam pacientemente no sofá a minha frente e eu sentei na mesa. - Eu achei aquela coisa estranha de novo hoje.

-Não acredito... - Alan suspirou. - Me chamou até aqui pra isso? Você ainda não esqueceu essa merda toda?

-Eu espero que você cale a boca e deixe ela falar. - Will disse antes que eu pudesse me defender. Eu juro que achei que Alan iria levantar e socar a cara dele. Achei mesmo. Prendi a respiração quando Alan olhou diretamente pra Will. Mas ele não fez nada. Recostou no sofá e voltou os olhos pra mim novamente. Eu imagino que isso seja porque Will é funcionário no cruzeiro, ou então Alan é bem diferente do que parece. Ele nem se quer respondeu algo de volta.

Foi um pouco complicado mas consegui explica tudo pra todos. Mas a cara de nenhum deles era igual, mas nenhuma era boa.

-Aí galerinha. - Gusta levantou e bateu as mãos nas pernas. - eu vou indo. Tenho gente importante pra encontrar e vocês devem estar muito chapados. - Melanie revirou os olhos nessa hora.

-Você é tão babaca. - ela massageava as têmporas.

-Olha o que essa menina tá falando! Fantasmas e portais; mano você tá chapada, claramente! - ele começou a andar. - eu não tenho nada a ver com gente estranha que nem vocês. Então falou!

-Serena... - Alan me olhou torto. - você pode provar que isso tudo aconteceu? - eu pensei por um instante mas não tinha como. Não tive nem a ideia de fotografar nada. - olha, então eu sinto muito... mas não da pra acreditar nisso. Eu sei que você tá desacostumada com lugares assim, vai que você bebeu algo forte... não sei.

-Alan, eu não sou louca. - disse calmamente diante da acusação dele. - você mesmo disse a um tempo que talvez eu devesse investigar isso.

-É, se você fosse se sentir melhor, mas você tá piorando tudo. - ele levantou também é começou a andar em direção à porta. Eu ia deixar ele sair, mas antes disso ele ainda se virou. - quando você desistir disso tudo, sabe onde me encontrar... eu vou esperar. - ele disse baixo a última parte.

-Você tem ótimos amigos. - Will soltou sarcasticamente.

-Gente... eu não to louca! Mel, você tava comigo quando estive lá.

-É, eu vi aquela coisa bem estranha, mas uma garota que é tipo um fantasma é difícil de assimilar. Quer dizer, não é que eu não acredite em você, mas eu vou querer ver isso de perto.

-Não sei se quero voltar lá. - eu disse abaixando a cabeça.

-Mas depois disso tudo? Agora que você sabe que Micaelly sabe de tudo, você nem precisa voltar lá. É só a gente encontra ela . -Will disse tentando me animar. - a gente fórmula algumas perguntas e você se concentra nisso. E eu sei que se Melanie for com você, vai se sentir melhor.

-Eu não sirvo pra nada não cara. - Melanie disse rindo. - não mato nem mosca.

-Puta guarda-costas. - eu sorri pra ela. É nesses momentos que as coisas parecem estar normais. Mas logo depois me volta o desespero de estar presenciando uma coisa tão estranha acontecendo. Isso era pra ser como férias de verão, mas eu não tenho nem frequentado as atividades em grupo. Imagino que daqui a um tempo começaram a me procurar como fazem com Micaelly quase o tempo todo e esse ideia me apavora.

-Tá então. Amanhã mesmo vamos voltar lá! Eu vou com você é vai ficar tudo bem.

-Eu espero mesmo Mel...

Prisioneira MarítimaOnde histórias criam vida. Descubra agora