Prisioneira Marítima

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-Vem comigo por favor! - eu estava prestes a sair depois te der tomado um belo banho e escolhido o melhor vestido que levei nessa viagem -eu pretendo fazer muitas compras na Europa- quando pensei: "Eu preciso ser difícil!". E lá estou eu tentando convencer Melanie que vai ser "divertido" ela me acompanhar no jantar.

Alan me ligou mais cedo, antes mesmo do almoço, e disse que se sentia indisposto- o que eu acho que era mentira, mas não importa- e que preferia me encontrar pra jantar. O gênio usou o número do quarto - porque eu não pensei nisso?-.

-Vai ser ainda mais romântico. - com essas palavras desligou se garantindo tanto que nem esperou um "sim". Mas gente... Eu não posso ser tão fácil. Do restaurante pro quarto dele -que segundo ele não tem mais ninguém- é um piscar de olhos. Não acho que a presença de Melanie impediria algo, mas ajudaria a me controlar. Vamos combinar que eu também não tenho sido muito sutil.

-Serena! Você tem um encontro com o cara que você quer, e pretende me levar junto pra que? Eu não curto essas putarias aí!

-Não, amor! - eu tive que rir. - vai!!! Chama o Gusta! Vai ser legal, eu juro! Eu preciso que você vá comigo pra me ajudar a não fazer uma merda.

-Da última vez que você me jurou isso... - ela desviou o olhar e eu sabia que passava como um flashback na cabeça dela assim como na minha. Tudo o que eu prometi e descumpri, tudo o que aconteceu naquelas férias... Eu me senti mal por nunca ter me desculpado, e por um momento quis fazer isso agora, mas talvez fosse tarde. Talvez fosse melhor deixar os assuntos mortos e enterrados sem cerimônia. Mesmo que os fantasmas sempre estejam em volta de mim.

-Tudo bem! - ela disse, por fim, me encarando. - eu vou ligar pro apartamento do Gusta e falo com ele. Mas... Nós voltaremos juntinhas pra cá antes das 2. Okay?

-Okay! - assenti e terminei de fazer uma make leve enquanto ela pegou o telefone e não parou de sorrir nenhum segundo enquanto falava toda meiga com a pessoa ao outro lado. Me deu vontade de fazer aquela brincadeira -bem idiota- de gritar alguma coisa ilícita desse lado. Isso me lembra muito nossa infância. Mas a Melanie parecia tão apaixonada, e estava ainda por cima fazendo um favor pra mim - na verdade tava gostando- que deixei ela quieta. Não sei se foi a melhor ideia do mundo não avisar ao Alan que levarei duas pessoas comigo, mas creio que Gusta talvez comentasse com ele antes, dai ele já estaria mais preparado. Alguns minutos depois, após diversas risadinhas ao telefone, Melanie desligou, e pediu minha ajuda pra se arrumar - naquele momento trocamos de lado-. Por fim ela prendeu os box braids em um coque alto. Deus, essa menina chama muita atenção. Eu simplesmente sumo ao lado dela. Mas sabe... nunca tive nenhum problema em andar com Melanie, apesar de muitas pessoas que nos conhecem -inclusive meus pais- acharem que rola um inveja interna. "Não, de jeito nenhum!" eu sempre respondo mas ainda sinto o peso dos olhares duvidosos. As vezes acho que a própria Melanie duvida disso, mas ela também entende que eu mesma nunca me perdoei.

Eu de vermelho, ela de azul, um contraste mutuo. Ela alta, eu baixa. Mas as duas, chiques. A propósito, estávamos indo pro restaurante mais caro dentro daquele cruzeiro. Por que? Não faço ideia. Tudo escolha de Alan. Como eu esperava, ele já veio junto com Gusta. Nos encontramos no saguão principal, que apesar de ser muito bem decorado e chique, comportava um grande número de banhistas queimados e vermelhos, de roupas de banho, mesmo aquela hora. Então eu me sentia como na antiga passarela da minha vida. Caminhando timidamente ao lado de minha amiga muito mais confiante que eu. E todos ao redor com toda atenção em nós. Já sabiam pra onde estávamos indo. Daí vem o par de olhos azuis descendo o elevador depois de mim. Atrasado com um toque de classe. Gusta colado ao lado dele, sorrindo atoa. Alan sério. Me assustou um pouco ver ele caminhando até mim, se aproximando e ficando mais alto a cada passada larga, e eu tive a impressão que talvez ele estivesse insatisfeito por eu ter chamado os dois pra vir conosco sem te-lo consultado antes.