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Com os dias passando rapidamente, me conformei que não vou dominar Alan de nenhuma forma. Ele continua me dando atenção, mas não avançamos em rumo a "algo a mais" e não retrocedemos. Não tivemos nenhum encontro romântico e não tivemos tempo pra uns "pegas" já que agora resolveram ocupar praticamente todo nosso tempo com trabalhos extracurriculares. Não pude fazer nenhuma pergunta sobre esse relacionamento estranho, primeiro porque não sei como fazer, e segundo que não sei se quero saber. Ele continua conversando com Julia algumas vezes antes que eu chegue, e não se aproxima dela quando eu estou perto, mas não chega a parecer que quer esconder. Não vi mais a gótica, mas ela também não tem aparecido em nenhuma atividade muito menos nas palestras. Voltei a me aproximar de Melanie o máximo possível, e nós até temos matado algumas palestras inúteis pra curtir o Cruzeiro. Então resumindo, eu diria que agora sim está sendo tudo como eu esperava que fosse antes de embarcar. Alan foi aquele fundinho de esperança, como se alguma coisa fosse mesmo mudar drasticamente minha vida a partir daqui, mas além da experiência ganha e as fotos de viagem, tudo voltaria ao normal em solo. Eu já não sabia mais quanto tempo ainda teríamos que vagar no oceano em círculos, antes de chegar a Europa. Eu sabia que seria uma viagem de meses, contando com parte de minha graduação, mas de certo modo, não faz o mínimo sentido. Não é até perigoso ficarmos no meio do nada por tanto tempo? Eu não consigo parar de pensar em como devem estar meus pais, por que ultimamente não tenho conseguido estabelecer contato com eles. Tem algo errado com o sinal do meu celular e eu espero que seja só isso.

-Foi pra outro mundo? - Alan abanou a mão em frente ao meu rosto me assustando. Me tirou do transe instantaneamente.

-Não... Só me distrai. - respondi e voltei ao trabalho na bancada.

Estávamos pela segunda vez -que poderiam ter sido mais vezes- no laboratório de química, onde eu me sentia mais em casa do que em qualquer outro lugar. Também o único lugar onde por algumas horas eu posso ter certeza que sou melhor que Alan. E ele apenas sentava do meu lado e tentava chamar minha atenção. Mas como eu disse, não estamos caminhando para um futuro próspero. Mas hoje ele está diferente. Passou o dia todo colado a mim. Já estava perto de anoitecer e o pôr-do-sol entrava a direita pela janela da sala e refletia bem em meu rosto. Me incomodava mas eu tentava ficar quieta e não dar mais motivos para Alan puxar um assunto novo. Já que ele não parecia querer algo a mais, então que não me desse esperanças. Mesmo assim, hoje ele fez tudo diferente. Me seguiu, me tratou como uma dama, e não chegou nem perto de Julia. Sabendo muito bem que me deixa com ciúmes.

-Eu não estou te entendendo... - disse ainda medindo os tubos a minha frente, sem nem mesmo olhar pra ele. - anda me deixando em duvida, Alan. - eu pude ver com o canto do olho uma ruga de interrogação se formando em meio à sua testa.

-Em relação a que?

-A nós. Você está distante e depois tão perto. - ele olhou pra frente pensativo e eu ainda não tive coragem de olhar em seus olhos. Porque eu sei que se fizer isso, vou acreditar em qualquer coisa que ele me disser. A intenção aqui, é eu conseguir esclarecer as coisas, porque guardar essas duvidas pra mim, não vai me levar a lugar nenhum.

-Eu não sei... - me soou convincente apesar de vago. - você me disse que queria se reaproximar de Melanie. Me disse isso assim que nos conhecemos. Então achei que iria ser melhor te dar mais espaço pra isso.

-Mas você... - eu pensei se deveria ser tão direta com uma pergunta do tipo "você não estava afim de transar comigo?". - se aproximou demais pra se afastar assim... - ele olhou pra mim como se lesse meus pensamentos.

-Vamos falar abertamente. Você deve estar se perguntando porque eu não tento transar com você. - eu me calei. Não assenti até porque no fundo nem queria mesmo saber se tinha um motivo pra ele não querer. "Você tem AIDS" ou "Eu sou gay". Eu não queria mesmo ouvir nada disso. - Você é virgem. - ele diminuiu o tom de voz preocupado se alguém não estava ouvindo nossa conversa. Não pude para de pensar o quanto foi fofo, mas queria arrancar o fígado de Melanie por contar sem me perguntar nada antes.

Prisioneira MarítimaOnde histórias criam vida. Descubra agora