Só depois de muita conversa boba e mentiras mal contatas, Altair embarcou no último minuto no avião que todos nós deveríamos ficar juntos. Mas aos poucos, todos estão se separando. Nem consigo imaginar onde Alan e Gusta devem estar agora. Seguindo o roteiro dos meus sonhos pela Europa, provavelmente. Mas eu sei que o navio continuaria ancorado em Nápoles, esperando o retorno de todos em mais uma semana. Passamos as duas últimas horas, despistando os seguranças, fingindo tranquilidade, para que pudéssemos sair do aeroporto, sem fazer boletim de desaparecimento ou algo do gênero, até porque agora, sabemos onde elas estão... teoricamente.
Esse lugar que Melanie contou nos últimos dias, pra mim, só pode ser no navio. Mas nada impede de ser um lugar em outra dimensão, que eu nunca vou poder alcançar. Mas aproveitando a melhor mente do meu lado, me apoiando, chegamos a conclusão que deveríamos checar o navio. Seria meu primeiro e último passo antes de finalmente desistir disso e fingir que nunca aconteceu. Por mais que isso fosse me assombrar pro resto da vida.
Mas pra começar atrapalhando, todos os voos para Nápoles estavam lotados nos próximos dias, e não podíamos pagar por nada particular. Então pesquisando os outros meios de chegar lá, a mais rápida era de carro. Precisaríamos alugar um, dirigir um total de 8 horas e mais 10 em uma balsa pra cruzar o mar. Mas todos os outros métodos, como de trem por exemplo, demoraria 10 horas a mais. Não quero pensar nisso. Só quero chegar lá.
Despachamos nossas bagagens para o Brasil. Will preparou um mochila com coisas para nós, e eu enchi minha maior bolsa com tudo que achei necessário. De resto, queria ficar leve. Saímos do aeroporto em direção a um conjunto de lojas que ficava perto, com diversos serviços para os que chegavam. Em pouco tempo estávamos em um carro alugado, o menor possível, por um via lotada, até que subíssemos pela E94, seguindo a costa, com vista para o mar. Em pouco tempo a cidade histórica foi se dispersando até que chegou a me lembrar as vias do interior do Brasil. Aqui é mais frio, é verdade, mas de um lado o oceano azul e de outro alguns morros baixos com casas rusticas acopladas as encostas verdes. Vilarejos se formavam em alguns cantos, mas tudo era disperso de um forma geral. O movimento de carros diminuiu bastante, deixando as três vias de cada lado um tanto silenciosas, só não mais que nós dois.
Depois de duas horas na estrada, passei a me acalmar e observar Will. Ele estava tão tenso quanto eu, totalmente ereto ao volante, com uma atenção redobrada na estrada e até um pouco desnecessária já que é bem reto e nenhum outro carro está na nossa visão. Mesmo que nossos sentimentos sejam bem diferentes, sei que ele está fazendo tudo isso por mim. Me emocionei levemente. Acariciei seu rosto de leve, mas ele ainda evitou olhar pra mim.
-Não vai dar tempo de pegar a última balça do dia. - ele disse depois de mais algum tempo. Estávamos no limite de velocidade, mas nós já sabíamos disso quando saímos do aeroporto. Mesmo assim ele estava tentando. - Vamos ter que dormir em algum lugar quando chegarmos até o porto, e esperar a noite passar pra pegar o primeiro de amanhã. - Lembrei que no site dizia que a última balsa saia as 6 da noite e ficava a noite toda viajando no mar, com seus carros em cima e um bando de gente infeliz por não ver nada ao redor. Na verdade fiquei aliviada por podermos pegar o do dia seguinte. Vou me sentir menos nervosa se for pra fazer isso durante o dia.
-Tudo bem, Will. - Falei colocando uma mão na perna dele. Ele relaxou um pouco, deixou a expressão voltar ao normal de sempre. - Podemos trocar a hora que você quiser. - eu falei me referindo ao banco do motorista, ele apenas assentiu, me olhando de relance antes de voltar toda atenção para a pista de novo.
O por do sol começou pouco depois me deixando um pouco sonolenta. Ainda estávamos a uma hora do porto. Aqui não anoitece no mesmo horário que estive acostumada a vida toda. Mesmo assim, meu relógio biológico desacelera com a chegada da lua ao céu.
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Prisioneira Marítima
Mystery / Thriller"Se eu teria feito alguma coisa diferente? Quase tudo. Eu teria encarado as coisas de uma forma mais aberta, sabendo lidar com cada erro em cada detalhe. Teria embarcado nessa viagem para me divertir não pra trabalhar. Teria dito ao Alan tudo o que...