Voltei correndo o máximo que pude, como se estivesse fugindo de alguém num filme de terror. Mas quanto mais eu corria e me afastava daquela janela/espelho/imensidão azul, mais parecia que estava errado. Que isso devia ser uma segredo meu. Que ninguém deve saber que isso existe, mas ao mesmo tempo, claro que já sabem! Pessoas trabalham nesse navio e se aquela coisa devia estar lá, e já estava lá, alguém ou todo mundo já deve ter visto e até achado normal. Não era pra ser assim?
-Alan! - Gritei quando achei o grupo reunido no andar superior. Não foi uma boa ideia porque todos olharam pra mim, e a minha intenção era primeiramente falar com ele, e quem sabe, dependendo da reação dele diante daquela coisa, levar o grupo até lá. Eu devia estar parecendo bem desesperada o que não é bom devido às circunstâncias. Sentia o suor escorrendo nas minha costas e o coração palpitando no peito, sinais apenas que eu não sou preparada fisicamente nem pra uma corrida nas escadas. Ele me olhou de cima a baixo com o rosto boiando em preocupação e logo meu corpo voltou a formigar pelos peso dos dois oceanos azuis que ele carrega no rosto e gosta de chamar de "olhos". Tentei falar, mas meu fôlego não ajudou, e minha voz que já é ruim está pior que nunca. Percebendo as pessoa ao redor esperando o que eu ia dizer, puxei ele para uma canto com um alto e em bom som "Preciso falar com você.", dando a ideia que iríamos ter uma DR logo agora, e assim algumas pessoas deixaram a curiosidade de lado e nos deixaram mais a vontade. O interessante disso é que até Alan achou que iríamos discutir sobre o relacionamento e pareceu ficar mais tenso quando o puxei a um corredor paralelo e por um segundo achei até graça por isso. Ele parecia realmente preocupado comigo, e mais ainda por ter que conversar sozinho. Eu tentei manter a calma quando comecei a explicar que antes eu só queria ficar sozinha por causa das outras pessoas, mas não tinha nada haver com ele -o que é mentira- .
-Alan, tem uma coisa estranha lá em baixo... um tipo de janela ou algo assim.
-Do que você ta falando? - ele segurava meus braços e olhava para minhas mãos suadas tentando entender meu nervosismo. - Se você queria ficar sozinha, tudo bem. Era só falar, eu te deixava no quarto em segurança. Não é bom ficar andando sozinha por aí, num lugar cheio de estranhos.
-Alan, foca! Eu to falando de uma coisa estranho no navio.
-Uma janela? O que tem de estranho em uma janela?
-Não era uma janela... - eu revirei os olhos, tentando não parecer debochada. - Escuta... era algo estranho. Pensa comigo: as escadas ficam entre os corredores, então não pode ter uma janela pro lado de fora. E ainda por cima estava de dia do outro lado.
-Tem certeza que era uma janela? - ele me perguntou com o semblante duvidoso.
-Não. - e é verdade, mas por isso ele duvidou mais de mim. - Olha, vem comigo e eu te mostro onde fica.
Ele assentiu e fomos andando juntos de volta as escadas e eu refiz aquele caminho todo sem entender porque aquela sensação estranha subia na minha garganta, e minha cabeça mandava eu dizer a Alan para deixar para lá. Mas ele me segurou firme, e disse que era melhor mostrar já que a curiosidade estava me incomodando. Andamos no escuro, com as lanternas apagadas e eu deixei ele me guiar, com as mãos no meu quadril enquanto descíamos lentamente até a cena do "crime". Não posso deixar de ressaltar que mesmo em uma situação desesperadora e tão inconveniente como essa, Alan continua me seduzindo aos poucos. Ao mesmo tempo que um porto seguro, um ponto vulcânico em meio a uma ilha pacífica. Ainda não sei se ele vai me destruir ou me fazer mais forte.
Não adiantou nada meu desespero e a indecisão. A janela simplesmente já não existia mais. Como se aquele espaço entre os lances das escadas não existisse. Pulasse de um andar para o outro. Eu entrei em desespero tentando acha-lá, pensando que podia ter errado o andar ou algo assim; mas não, estas tudo certo. Ela devia estar ali. Subi e desci várias e várias vezes ficando cada vez mais nervosa e murmurando "ela tinha que estar aqui", puxando Alan para cima e para baixo. Parei depois de alguns minutos, tentativas falha e morte da esperança. Alan me olhou com pena. Não sei o que ele devia estar pensando de mim, mas não me importei. Era como se encontrar aquela coisa, fosse a prioridade da minha vida momentaneamente.
-Serena, volta pro quarto. Vai dormir, e descansa, você precisa. - ele pôs a mão no meu ombro e eu senti um peso absurdo sobre mim. Algo me dizendo "Parabéns, ficou parecendo uma psicopata e agora o boy não te quer mais." Eu estranhei mais ainda o fato dele ter falado para eu ir para o quarto ao invés de falar "Te levo até lá". Pra quem conhece, sabe que Alan é cavalheiro o suficiente, mas isso só indicou que o interesse dele está diminuindo gradativamente.
-Tudo bem então, Alan. - disse da forma mais ríspida que pude. - Você está praticamente me chamando de louca. Mas tudo bem. Eu vou pro quarto.
-Serena... Não é isso...
Eu já não estava mais ouvindo. Poderia ferir meus sentimentos eternamente, mas não tocaria no meu orgulho. Eu queria ser superior a isso tudo e poder explicar com calma o que eu vi, mas não gostei do jeito que ele falou comigo. Ninguém deve falar assim comigo. Nem minha mãe fala assim comigo. Não admito que ele fale, porque querendo ou não, sendo o lindo que é, no fundo Alan não é ninguém na minha vida. Tenho que superar isso.
Não pude deixar de tirar a garota desaparecida da cabeça por um segundo se quer encenado caminho de volta ao quarto. Queria ajudar ela, -não sei porque, já que não gosto de ajudar ninguém- e sabia que podia. Mais que isso sabia que de alguma forma bem estranha, aquele fenômeno -que denominei "A Janela"- tem alguma coisa haver com tudo isso.
Só fui interrompida por Will, que bem perto do meu quarto, pairava estalando os dedos na minha cara a tempos, e eu nem percebi.
-Serena? - ele disse em tom de preocupação quando finalmente o encarei e minha visão focou em seus olhos verdes. - você está se sentindo bem?
-Depende. - fui sincera apesar de pensar que ele não iria entender. Ele riu pra mim.
-Foi o Alan? - ele sorriu - mas apesar, se sente bem fisicamente. - pior que ele entendeu. De repente, Will não me parecia tão inocente.
-Pois é. - suspirei profundamente demostrando cansaço, tentando fazer com que ele me liberasse pra entrar no meu quarto. Só aí percebi que as luzes do corredor está am acessas novamente e eu podia ver todas as cores além daquele maçante vermelho de pânico. - Quando que...
-Ah uns dois minutos. Aqueles dois minutos que você usou pra viajar pro próprio mundo.
-E o que você está fazendo aqui?
-Bem... Como o problema estava sendo solucionado, pensei em ver se estava bem com as buscas, mas me disseram que você já não estava mais com o grupo.
-Sim, eu preferi voltar pro quarto. - disse tentado demostrar indiferença sobre a preocupação dele, e mais ainda sobre o porquê de eu ter voltado pro quarto sozinha. - eles acharam a menina?
-Ainda não. Mas não se preocupe porque com a energia toda de volta, vamos dar uma boa olhada nas câmaras principais. Até lá, vá dormir. Descance essa cabeça.
Eu simplesmente assenti e fui entrando mas antes de fechar a porta ele ainda segurou-a por alguns segundo e me encarou. Imagino o que ele viu... Um rosto cansado, decepcionado e confuso.
-Tem certeza que está bem?
-Tenho... Não se preocupe. - disse mais uma vez.
-Se precisar de alguma coisa..
Ele passou um cartão para mim, que nem dei o trabalho de olhar mas sei que contém o número do celular particular dele. Não dei mais espaço pra ele falar, e fechei a porta, voltando pro escuro do meu quarto.
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Prisioneira Marítima
Mistero / Thriller"Se eu teria feito alguma coisa diferente? Quase tudo. Eu teria encarado as coisas de uma forma mais aberta, sabendo lidar com cada erro em cada detalhe. Teria embarcado nessa viagem para me divertir não pra trabalhar. Teria dito ao Alan tudo o que...