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- Pelo menos agora vou ter mais companhia. - Alan disse pra mim depois que Gusta entrou no quarto e fechou a porta. Estava de madrugada e Will já dormia, porque ele havia trabalhado naquele dia. Eu resolvi que seria melhor deixar Micaelly junto com Melanie já que as duas precisavam de apoio emocional. Poderiam se entender melhor que ninguém. Mas é meio difícil tomar essas decisões já que eu nunca mandei em nada nem na minha vida. Não sei nem porque eu quem estou decidindo as coisas.

-Vai ser só dois dias até sairmos do hotel. - eu me virei a ele e cruzei os braços sobre os peitos.

-Não estou reclamando. Estava com saudade de ter companhia pra variar. E é provável que Gusta já esteja meio enjoado dela.

-Nem todo mundo é igual a você, sabia? Pelo que eu vi ele tava curtindo ficar com Mel.

-Igual a mim? Foi você que saiu cheia de carência pelos corredores no navio até encontrar aquele funcionário... -  ele disse com desdém na voz. Não sei o que se passa na cabeça de Alan.

-Como pode querer que eu mude de ideia mas fala desse jeito comigo? Como se eu tivesse sido a maior puta desse mundo? Eu não entendo você.

-Eu é que não entendo nada. Você estava comigo. - a voz dele soou baixa. - Mas quando me toquei você tava com outro cara completamente aleatório.

-Você sabe que não foi assim. Tudo aconteceu rápido demais, mas teve motivo. -mantive minha voz calma, tentando acolhê-lo.

-E em algum momento você realmente gostou de estar comigo? - ele perguntou se virando de frente pra mim e me encarando com seus olhos profundamente azuis. Eu encostei na parede encolhida. - Você não quer mesmo voltar pra mim? - ele segurou meus braços e aproximou o corpo do meu.

-talvez... - eu respondi baixo tentando desviar o olhar. Mas ele ficou confuso pra que pergunta seria essa resposta e na verdade nem eu sei. Mas é certo que não consigo negar nem pra mim que gostei e muito de Alan. E que talvez em algum lugarzinho, eu ainda goste. Mas Will está comigo agora. Ele quem acredita em mim mesmo as coisas estando acima de sua crença. Mesmo sem eu responder ele levantou o meu rosto segurando meu queixo. Achei que ele me beijaria. Achei mesmo. De alguma forma até desejei que ele fizesse. Pra que eu pudesse tirar toda a dúvida sobre meus ombros e ter certeza  de que não sinto mais nada por ele pra seguir com Will. Ou então, ter que fazer a maior das manobras da minha vida e dar meia volta no caminho. Mas ele não fez. Colou os lábios macios na minha testa. Pegou uma mexa do meu cabelo e passou no nariz, inspirando devagar o cheiro. Eu apenas observei ele fazer carinho em mim com os olhos fechados. No fim ele voltou a se afastar.

-Diferente dele, eu não me aproveito do momento de fraqueza das pessoas... ainda mais quando elas estão com outras. - Alan deu um último suspiro e se virou pra porta do quarto onde  olhou pra mim uma última vez. Eu ainda estava estatelada na parede, e sentia totalmente a culpa pesar. Ele de alguma forma sabia que eu tinha beijado Will enquanto estávamos relativamente juntos. E isso o machucou. Eu vi isso em seus olhos. Como uma dor profunda. E mesmo assim ele me queria de volta. Estava disposto a me perdoar.

Eu derramei uma lágrima. Ele parou pouco antes de fechar a porta. Eu não sei se o que eu sentia era dor ou arrependimento. Mas uma agonia me consumia aos poucos. Ele não sabia se entrava ou se voltava. Mas seu sentimento de curiosidade é maior que a raiva. Eu deixei todas as lágrimas virem, e fiquei tentando secá-las sem sucesso. Alan voltou pra perto de mim.

-O que foi? - perguntou com a voz doce como a de uma criança. Segurou meu corpo contra o dele e me ajudou a secar as lágrimas que desciam como uma cachoeira.

-Me perdoa. - eu soltei instintivamente. - eu não queria fazer nada disso. Eu... - eu parei pra respirar. - a gente tava bem, mas eu sou idiota demais pra perceber as coisas. Eu devia ter feito o que você falou e deixar tudo aqui pra trás... e agora coloquei a Melanie em risco e..

-Ei. Isso não é culpa sua. - ele segurou meu rosto com as duas mãos. - tudo aconteceu rápido demais, é verdade. Eu fui um babaca também, mas disso você já sabe. - eu soltei um riso em meio às lágrimas. - Mas eu já te perdoei. É bem fácil fazer isso por você, sua doida. - ele sorriu e pôs a testa na minha. - Mas você ainda não se perdoou. É só você se decidir e fazer. Simples assim.

-Não é tão fácil. Eu não sei o que eu to sentindo. - Eu segurei o corpo dele e fiquei dentro de seus braços por alguns minutos e ele apenas me segurou e acariciou minhas costas lentamente.

-Me desculpa também. - Alan disse por fim. - eu devia ter te ajudado com tudo isso. - eu não queria responder e só o abracei mais forte. - Você ainda tem essa viagem inteira pra decidir se quer estar comigo ou com o Will. Mas até lá, vê se não chora mais, coisa fofa. - ele apertou meu rosto entre as mãos e eu soltei um sorriso daqueles bem infantis.

Dai ele me encarou. Eu fiquei paralisada. Nossas respirações sincronizadas, meu corpo colado ao dele. Eu me sentia quente e feliz. Estranhamente feliz. As coisas pareciam mas certas agora que sei que Alan está bem comigo de novo. Mas bem até demais. Ele aproximou o rosto do meu. E eu fechei os olhos. Colei devagar a boca na dele. Acho que foi o beijo mais carregado que já dei na vida. Fomos lentamente cada um pra um lado e eu senti quase que literalmente o fogo quando ele me suspendeu pela cintura e eu senti sua língua procurando a minha. Foi intenso e eu poderia dizer até que foi cheio de saudade.

-Você acabou de se contradizer. - eu soltei depois de alguns segundos de raciocínio lógico.

-Você também. - ele sorriu. Mas me soltou. - Mas isso tá totalmente errado não é? pelo menos pra você. A garota que faz as coisas certinhas. - eu estava com vergonha de dizer qualquer coisa. Estava com um puta peso mas por fim, consegui colocar mais uma grande dúvida na minha vida. Eu gosto de Will. De verdade, tenho uma sensação ótima quando estou com ele, que não tenho com mais ninguém. Mas definitivamente existe outro tipo de sentimento entre mim e Alan. Eu sei que é algo bom. Mas ainda não sei qual das duas coisas é prioridade nesse momento da minha vida.

-Boa noite... - eu soltei me virando com urgência pra porta do meu quarto (que divido com Will por acaso) mas antes de entrar lembrei que algo precisa ser esclarecido. - Você pode não falar sobre isso...?

-Claro. Entendo perfeitamente. - ele disse se virando pro próprio quarto.

-É só que eu quero pensar melhor. - eu praticamente sussurrei e nem sei se ele ouviu.

O quarto estava escuro. Will estava deitado. Eu troquei de roupa e deitei devagar o lado dele, sem acender luz ou fazer barulho. Ele merece descanso. Passou o Cruzeiro todo trabalhando e quando não estava ocupado, estava me ajudando e virando noites fazendo pesquisas pra mim. Por mim. Eu olhei seu rosto confortavelmente colocado no travesseiro, numa paz tão grande. Eu me senti o maior lixo do mundo. Eu acabei de trair sua confiança. De graça. Eu podia conversar com ele sobre o que estava sentindo, mas optei pelo caminho injusto porque é mais fácil. Me sinto uma covarde, diante de alguém que fez muito por mim.

-Me perdoa.- eu disse baixo acariciando seu cabelo desgrenhando.

-O que foi? - ele abriu os olhos devagar. Fez uma ou duas caretas ajeitando o corpo pra poder ver meu rosto melhor. - por que está chorando? - ele passou as mãos no meus rosto de forma tão mais carinhosa do que Alan havia feito antes. Eu senti meu estômago embrulhar. Nem tinha percebido que estava chorando.

-Não é nada. - eu não tenho a coragem mínima pra contar o que aconteceu.

-Ninguém chora por nada. - ele levantou a cabeça e apoiou no braço.

-Eu só to nervosa. Tipo, muito mesmo. - o que é verdade. Ele deve ter interpretado isso como algo relacionado a Micaelly, mas mal pode imaginar que é algo bem mais complicado. Will não disse nada. Ele aproximou o corpo de mim, puxou o cobertor sobre meu corpo e me acolheu no seu corpo seminu. Eu senti varias coisas ao mesmo tempo. Como um puta tesão de sentir a pele macia dele e pensar que ele é meu. Mas também todo o conforto de estar protegida de qualquer coisa nesse colo. E aí mesmo tempo a repulsa, porque sou a pessoa mais ingrata que conheço.

Em algum momento, depois de muitas lágrimas e vários carinho de Will tentando me ninar, eu adormeci tenho pesadelos com minha própria infidelidade.

Prisioneira MarítimaOnde histórias criam vida. Descubra agora