2

76 12 0
                                    

Fomos direcionadas pra uma das salas de estar, onde dividiriam o grupo de faixa etária em 2, já que éramos maioria. Entre 18 e 24 anos a maioria de estudantes universitários. Claro que pro meu azar -sorte- aquele cara dos olhos azuis e barba, ficou nessa mesma classificação. Universitário entre 18 e 24 anos. Pude descobrir que o nome dele era Alan quando ele foi um dos primeiros a ser chamado pra ficar no grupo dois. Depois a Melanie acabou no grupo um. Eu fiquei esperando pelo meu nome, já irritada por todos acabarem sabendo quem é essa tal de Serena quando eu tivesse que levantar e ir pro lugar indicado. Por um lado queria me manter objetiva e fica com a Mel no grupo um, onde eu focaria minha cabeça nos estudos e no turismo. Mas não conseguia parar pensar em "Põe grupo 2. Põe grupo 2." porque o moço da barba não parava de me encarar e eu alternava o olhar entre ele, o moço que estava anunciando nomes -inclusive que era bonito também- e Melanie que me olhava rindo do lado oposto que Alan. A essa altura eu imaginava que ter um romance em um cruzeiro seria algo melhor do que ficar tendo que explicar para os outros no que consiste o meu projeto, pra ser o ganhador de uma universidade. Eu sabia que pra me irritar Melanie faria qualquer pessoa me pergunta isso a cada minuto.

-Serena Smoak. - por fim o moço dos nomes disse o meu nome e eu apenas levantei o braço pra que ele me veja, mas claro que todos os olhos se voltaram para mim, fora os que já estavam. Deus, como isso me incomoda! Odeio ser o centro das atenções. - Pro dois. - foi impressão minha ou o carinha dos nomes sorriu flertando pra mim?

Não sei. Eu fiquei tão nervosa em levantar e ter que desfilar com aquelas pessoas me observado. Já que fiquei -mas não do jeito que eu queria - com o Alan, resolvi por impulso usar todos os truques de passarela que minha mãe insistiu em me ensinar quando achava que eu iria ser modelo. Sou muito baixinha, e isso me ajudou e perceber que não me encaixo nesse mundo fashion. Mas, pelo menos, aqueles ensinamentos me ajudam até hoje a conseguir ser sexy sem parecer uma pata no cio -obrigada mãe!-. Olhei de relance para Melanie e ela simulava gritar e bater palmas para mim, já que sabe que não sou assim tão coordenada quando estou andado naturalmente. Eu estava chegando perto do Alan - porque sou atrevida e vou sentar perto dele antes que aquela menina estranha faça isso- e não consegui segurar um riso, e prendi forçando a boca fechada e saiu aquele barulho estranho de "pum" com a boca quando fiz isso. Tenho certeza absoluta que ele ouviu só que não estava olhando pra mim quando fiz isso, então ele pode ter imaginado que não foi a minha boca, que na real foi um pum mesmo. Fiquei tão constrangida e estava rindo tanto internamente que tive que sentar muito rápido como se fosse um robô pra não soltar a minha gargalhada estranha perto dele. É a última coisa que as pessoas precisam saber sobre mim. Eu rio igual a uma macaca loca. Eu não consigo me mexer sem fazer um barulho estranho nesse sofá de couro e fiquei com medo de sair outro barulho estranho da minha boca então fiquei lá imóvel com o braço tocando no braço dele. Acho que foi a melhor sensação que tive nos últimos dias. Ele é quente e exala um perfume próprio mas não sei dizer tem cheiro de quê. Pude observar o braço dele sem mexer a cabeça e vi a pele mais clara que a minha com pelos escuros, a mão com alguns anéis mas nenhum que parecesse uma aliança. Ele é proporcionalmente bem maior que eu, mas não chega a ser um gigante. Eu sempre com essa terrível mania de ficar me medindo perto das pessoas pra saber se não formamos um casal estranho. Sinceramente eu sempre acho que eu em forma de casal é estranho, mas desta vez até me agrada pensar que as pessoas estão me vendo ao lado dele. Seria alguém que -pelo menos aparentemente- eu apresentaria aos meus pais com orgulho: "olha mãe, meu namorado tem olhos azuis." E ela me responderia " ele também podia ser modelo. Porque os jovens não seguem mais isso hoje em dia?".

Não me contive em sorrir, com a primeira pontada de saudades que aumentaria a partir de agora. Minha mãe é muito importante pra mim, mas acho que ela não tem essa noção. Eu não costumo demonstrar, mas não significa que eu não sinta. Nunca passei tanto tempo tão longe da minha família. Nem da minha cidade. Vai ser um grande choque cultural, a começar pelo Alan que estou pretendendo investir e duvido que seja carioca. Estou completamente submersa em pensamentos aleatórios sobre vida carioca, e percebo que Alan agora me encara parecendo tentar adivinhar no o que estou pensando. Olho de volta e aos poucos fecho o sorriso. Ele levanta uma sobrancelha. Depois abre bem devagar um sorriso branquinho e certinho. "Usou aparelho" conclui.

Prisioneira MarítimaOnde histórias criam vida. Descubra agora