Tell me a lie

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A luz do sol me atingiu com força de manhã. Meu pai até tentou me acordar, mas acho que desistiu depois de ver minha cara de derrotada. Com a cara inchada - de quem chorou mais do que devia - e o cabelo desgrenhado daquele jeito, até parecia que eu tinha ido a uma guerra. E perdido feio.

Luz solar e dia lindo era tudo que eu menos precisava hoje. Cobri a cabeça novamente e fiquei uma boa meia hora pensando na vida. Até que o barulho da TV sendo ligada no andar de baixo chamou minha atenção. Eu sabia que só poderia ser uma pessoa, já que meu pai tinha ido trabalhar no meu lugar.

Me forcei a levantar da cama e dei uma breve olhada no espelho, constatando que eu estava tão ruim quanto imaginava. Fui silenciosamente até o banheiro, lavei o rosto e prendi o cabelo o melhor que consegui. No fim das contas não gostei do resultado e decidi dar apenas uma espiada lá embaixo. Eu sei, estava sendo muito boba, mas uma boba insegura e apaixonada. Não me julguem.

Consegui chegar até o fim da escada sem denunciar minha presença, mas não vi sombra dele em canto algum. Ouvi a porta da geladeira bater e soube que estava na cozinha, seus passos no piso frio rapidamente ecoaram em minha direção e eu, sem saber o que fazer, optei por subir as escadas correndo. E claro, foi uma ideia muito idiota. Tropecei e despenquei do quinto degrau para baixo.

- Ah meu Deus, Gen! - ele veio ao meu socorro, quando tudo que eu queria era morrer ali.

- Você está bem?

- Ótima! - cacete! Ai! - Exatamente aonde eu queria estar!

- Não seja irônica Hannah. Só estou tentando te ajudar.

- Desculpa... - me apoiei nele e tentei levantar, sentindo uma dor terrível ao pisar com o pé direito. - É que eu fico meio mal-humorada quando tô no chão.

- Você é impossível, isso sim. Anda, senta aqui. - ele me carregou até o sofá e me ajudou a sentar, com as duas pernas para cima. Enquanto ele examinava o estrago que eu havia feito em mim mesma, desviei o olhar por um segundo, indo parar exatamente na bandeja cheia de comida em cima da mesinha de centro.

- Isso tudo é fome Ha... Ai! Isso dói!

- É claro que dói, acho que você torceu o tornozelo. Graças a Deus não quebrou. Vou pegar um pouco de gelo. - ele correu até a cozinha e um minuto depois estava apoiando um saco de ervilhas congeladas no meu pé dolorido.

- Isso aí vai resolver? Porque ainda tô sentindo que vou perder o pé... - ele olhou sério para mim e eu me arrependi da piada. - Desculpa.

- A propósito, essa comida era para você. Seu pai falou que estava ficando doente e ficaria em casa hoje. Como não tinha acordado até agora, pensei em fazer uma surpresa.

Surpresa era o que estava estampado na minha cara depois disso. E eu aqui me comportando feito uma menina birrenta de dez anos. Bem feito para você Gen.

- É... Eu, tava meio mal. - não ia dizer desculpa por eu ser idiota, era óbvio.

- E por que estava correndo? Fugindo de mim... - ele se sentou no sofá, colocou minhas pernas no seu colo e apoiou o pé machucado em uma almofada. Fiz uma careta quando ele pressionou o saco gelado em cima de novo e custei a responder.

- Eu não...

- Não, Gen? Certeza?

- Ah Harry, que droga! Foi você quem fugiu de mim ontem! - ou eu ficava triste e chorosa, ou eu ficava puta da vida e nervosa. Escolhi a segunda opção. - Você me deu tchau e eu pensei até que poderia ir embora de vez.

I Swear I'll BehaveOnde histórias criam vida. Descubra agora