Walking in the wind

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Desde o momento em que olhei pra ele através da janela da cozinha eu sabia que aquilo não ia terminar bem. Só não podia imaginar o quanto.

Depois que ele saiu em disparada porta afora, eu levei alguns segundos pra entender que aquela poderia ser a última vez que eu o veria. Tentei juntar o que sobrou do meu bom senso pra ir atrás dele e acabei vendo a caneca de Niall no caminho. Provavelmente meu pai devia tê-la encontrado na mesinha da sala e trazido pra cá.

Logo, o que aconteceu foi: eu queria fazer alguma coisa, a coisa certa, voltar atrás, mas eu não podia. Peguei a caneca e atirei com toda a força contra o chão. O que foi um grande erro, já que ela se espatifou em mil pedaços e tive que abaixar e tirar alguns do caminho pra conseguir sair dali. Acabei cortando a mão e só tive tempo de envolvê-la em um pano de prato antes de sair da cozinha.

Do lado de fora, Harry estava ainda parado próximo ao carro e tinha uma expressão perturbada e impaciente ao falar no celular. Eu parei de andar quando ele olhou na minha direção, pois não consegui decifrar o que espreitava por trás daqueles olhos verdes, pela primeira vez. Talvez uma mistura de ódio, rancor e sofrimento, causados por mim é claro.

Tudo que consegui fazer foi emitir um "me desculpe" totalmente inaudível aquela distância e observar quando ele guardou o telefone, entrou no carro e arrancou, ignorando minha presença.

Eu não tinha forças pra sair de lá. Agarrada ao batente da porta sentia como se metade do meu coração houvesse sido arrancada, sem anestesia ou aviso prévio. Comecei a chorar ruidosamente, sem me importar se tinha alguém vendo ou ouvindo, até que me dei conta da presença de Rachel de pé ao meu lado.

Por um segundo, eu permiti que ela me tocasse, seria bom contar com seu apoio, ter alguém que me ajudasse a dar conta dessa dor. Então lembrei como ela tinha me virado as costas nos últimos dias e a última coisa que eu queria era ouvi-la dizer que aquilo tudo era culpa minha. Isso eu poderia fazer sozinha.

— Me deixa em paz! – gritei pra ela, recuando alguns passos pra manter distância de suas mãos.

— Gen...

— Não Rachel! Eu não quero você aqui! – dito isto, entrei e bati a porta, me sentando no chão e apoiando as costas contra ela.

— Gen! Deixa de ser teimosa! Me deixa entrar!

Da mesma forma que eu gostaria de não ter dado ouvidos à Rachel antes, não queria ouvir agora. Eu reconheço a culpa que tive ao compartilhar aquele "momento" com Niall, mas não posso dizer que ela não só me julgou mal primeiro como também contribuiu pra que eu pensasse o mesmo. Talvez outro dia a gente se resolvesse, mas agora não era minimamente possível.

Tranquei a porta, desviei dos cacos ainda espalhados pelo chão da cozinha, imaginando o susto que meu pai levaria ao encontrar aquela bagunça, mas eu precisava deitar e me recompor antes de pensar em fazer qualquer outra coisa.

Sentei no sofá da sala, sentindo latejar o lugar onde o vidro grosso e afiado havia rasgado uns bons três centímetros da minha palma. Tentei fechar a mão com um pouco de força, o que só fez a ferida doer mais e ao mesmo tempo me fez pensar em como aquela dor era tão suportável perto de como eu me sentia por dentro.
Deitada de lado, peguei o celular com a mão boa e abri o contato de Harry. Era uma tentativa inútil, eu sabia, mas mesmo assim liguei pra ele.

Caixa postal.

Mais uma tentativa. Desligado ou fora de área.

Uma coisa era certa: eu não conseguiria falar tão cedo com ele, ou nunca mais, talvez.

Quando acordei, a sala estava na penumbra e tudo parecia tranquilo ao redor. Notei a luz da cozinha acesa e um cobertor macio havia sido colocado sobre mim. Aquilo só podia ser obra do meu pai. Passei uns cinco minutos encarando o teto e tentando não pensar em nada, até resolver me levantar.

I Swear I'll BehaveOnde histórias criam vida. Descubra agora