A.M.

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Abri os olhos e encarei Harry por um segundo, antes de pular da cama e me afastar dele. Jesus! Parecia que o resto do mundo sabia quando eu estava vulnerável! Alguém lá em cima realmente me amava ou odiava muito.

- Espera aqui, um minuto. - apontei para ele e desci as escadas correndo.

Observei pelo olho mágico e vi a cara redonda e avermelhada de Thomas, nosso vizinho. Ele era um verdadeiro patrimônio histórico naquele bairro, conhecia todo mundo e todo mundo conhecia ele, mesmo não sendo tão velho, tinha por volta de uns sessenta e poucos anos. Era aposentado do exército e passava o dia organizando a vida dos filhos mais velhos que moravam com ele, e cuidando da vida dos vizinhos.

- Senhor Thom. Tá precisando de alguma coisa? - perguntei, abrindo a porta apenas o suficiente para ele ver meu rosto.

- Não filha. Eu só... O que aconteceu com você? - disse ele, fazendo uma careta.

- Como?

- Caiu da escada ou algo parecido? Parece assustada e meio... Desgrenhada. - ah, valeu mesmo, minha autoestima agradece senhor Thom!

- Não, eu estava me arrumando. Preciso sair. Mas o senhor ia dizendo... - passei as mãos pelos cabelos e cruzei os braços, encarando ele.

- Certo. Você tem ideia de onde veio esse carrão que está aqui perto? Já perguntei para a Janet e Sue, mas não fazem ideia. - ele fez uma pausa, talvez percebendo minha falta de interesse. - Seu pai não está em casa, está?

- Não, seu Thomas. Ele volta mais tarde. Está na loja. Não faço ideia de quem seja o dono do carro, me desculpa mas preciso ir. Tenho que ajudar meu pai na loja. - dei um sorriso amarelo e comecei a fechar a porta devagar.

- Tá certo, tá certo. - ele deu as costas e eu fechei a porta, respirando aliviada e ainda ouvindo seus resmungos sobre eu ser tão malcriada.

- Que susto! - falei, levando as mãos ao peito quando Harry apareceu atrás de mim.

- Desculpe. Quem era?

- O vizinho, veio fofocar. - meu Deus, 13h12m. - Droga, agora vamos ter que esperar um pouco antes de sair.

- O que fazemos enquanto isso?

- Pensando bem, é melhor sair logo. - falei, rindo da cara que ele fez.

- Você é tão má comigo.

- Você é que não sabe se comportar direito.

- Eu preciso?

Acho que não. Mas nunca ia dizer isso a ele.

- Então Harry, preciso voltar ao trabalho. Já vai ser uma merda chegar atrasada, mas não tenho opção. O que pretende fazer agora? Não vai ficar embaixo da minha cama até eu voltar, vai? - até que não seria má ideia.

- Não é uma má ideia. - ele leu meus pensamentos.

- Não seja bobo. - falei, sorrindo e tocando seu rosto. - Você vai ter que ir embora? Digo, para sua casa?

- Até tenho... - ele me puxou pela cintura e cochichou em meu ouvido. - Mas estou tecnicamente de férias.

- Ah... - férias? No Colorado? Que chato, para ele. - Como assim férias?

- Lembra que você queria saber o que eu ia fazer de férias? Então.

- Acho que ainda não...

- Acho que eu vou ficar por aqui. O que acha? - meu filho! O que EU acho? O natal só pode ter chegado mais cedo!

Pulei sobre ele e o abracei apertado, sem responder de fato sua pergunta. Ele me abraçou de volta e nos girou por alguns segundos. Eu estava no céu em um segundo e no inferno no outro, assim que pensei exatamente no que significava o "aqui".

I Swear I'll BehaveOnde histórias criam vida. Descubra agora