CAPÍTULO 1

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Juliana Andrade

Sai correndo da faculdade, já estava atrasada para uma entrevista de emprego. 

Na semana passada já passei por alguns testes, todas ficaram de retornar e nenhuma deu se quer uma ligação. 

Ontem me ligaram de um escritório, não entendi muito bem o nome, algo com Denn..Denar, não sei, era algo assim, só anotei o endereço e aceitei fazer a tal entrevista. 

Pagar a faculdade de Direito e ao mesmo tempo querer sair de casa, ter meu cantinho, não será muito fácil, sempre soube. A relação com minha madrasta, Cristiane, não é uma das melhores. Mas sinceramente? Por mim se ela morresse não faria nem um pouco de falta. Podem acreditar, ela puder fazer para me deixar mal, ela faz. 

Meu pai é policial e esta para se aposentar, ainda sim, não larga o trabalho nem por dia santo. Das poucas vezes que eu o vejo, sempre mato um pouquinho da saudade e conto como estava às coisas na faculdade.  Mesmo morando na mesma casa e dormindo separados apenas por uma parede, é quase impossível nos vermos, pois no tempo vago eu estou sempre estudando e na parte da tarde e eu trabalho em um café, localizado no centro, um tanto longe da minha casa.

Moramos em um lugar retirado da cidade, tanto é raro recebermos visita. Meus tios dizem que nos escondemos, minhas tias falam que moramos no meio do mato. Ok, não posso discordar eu é longe sim. O engraçado é que quando se fala em ''Boca Livre'' eles estão lá e nem reclamam da distância.

Sai correndo em direção ao meu carro, um Uno, antiguinho, foi presente do meu pai, assim que eu tirei minha carteira. Claro, tudo escondido porque a Vacalaine - Apelido carinhoso que eu mesma dei a minha madrasta - jura até hoje que sou eu quem pago, deixa ela acreditando.

Entrei correndo, olhei no relógio e faltava meia hora para eu estar lá. Joguei todas as minhas coisas no banco do passageiro e vou rezando pra ele não me deixar na mão. Ultimamente, ele estava cheio de graça, adorava morrer e só voltar a pegar quando ele quisesse.

Parei no semáforo e olhei mais uma vez no relógio, estava faltando 15 minutos, fiquei desesperada, ansiosa, me deu dor de barriga, dor de estomago, dor em todo lugar, acho que doía até meus fios de cabelo. ­­

– Calma Ju, vai dar tudo certo, vai dar tudo certo, você vai chegar, vai chegar e vai dar tudo certo – Fiz minhas preces.

Quando me dei conta já estava na frente do bendito Vann..Vanng..Vanq.. Ah sei lá como é o nome do escritório. Cheguei 10 minutos atrasada. Achei uma vaga quase na frente, estranho era muito perto do café onde eu trabalhava e eu nunca soube desse escritório?

– Como assim Juliana Andrade da Silva? – Perguntei isso a mim mesma.

Desço do carro. Pego minha bolsa, ajeito minha saia. Ela estava na altura do joelho, uma cor básica e uma camisa rosa bebê. Ajeitei o cabelo, respiro fundo e entro..

Logo na entrada me deparo com um escritório muito bonito, com uma recepção muito bem organizada, um lustre maravilhoso bem no meio da sala, moveis rústicos, clássicos, uma estante pequena com vários livros. O sofá de couro ao centro, fiquei admirada observando cada detalhe daquele lugar e me imaginando um dia, rica, linda e loira morando numa casa com uns moveis como esse, quando senti um leve cutucão no braço

– Boa tarde, a senhora é a Juliana Andrade?

Uma senhora bem vestida e aparentemente muito simpática. Já era mais velha, deveria ter uns 50 anos.

– Sim, sou eu, um tanto atrasada também, desculpas.. – Disse um tanto quanto envergonhada, senti minhas bochechas corarem.

– A minha filha, não se preocupe e nem fique nervosa, realmente o Dr. Felipe Dennardi reclamou de seu atraso, disse que iria almoçar e que se você chegasse era pra esperar que ele iria ver se iria te atender.

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