-quero fazer um acordo...Sua voz ecoa em minha cabeça causando calafrios em meu corpo, não só pelo que ele irá falar, mas grande parte por que ele ainda está perto, muito perto de mim. Sua respiração quente está sobre meus lábios me arrepiando e não consigo manter a ordem de meus pensamentos e a confusão está lá, de volta, deixando-me louca... tenho a impressão de que Daniel sabe exatamente o efeito que tem sobre mim pois um sorriso torto brinca em seus lábios e desvio o olhar.
- Que..que acordo? - tenho dificuldade em formular uma pergunta pois meus pensamentos brigam entre si de forma assustadora.
- vamos esquecer... - diz simplesmente. Olho em seus olhos na intenção de lhe fazer continuar a falar, mas ele não continua, então pergunto
- Esquecer o que?
- tudo o que aconteceu desde o primeiro dia, desde que você foi embora de mim naquela noite...
Perco o chão.
Não acredito que para ele é realmente fácil assim esquecer de tudo o que vivi nas mãos daquela família e o que senti quando ele foi embora! Ele só pode estar brincando e procuro em seus olhos algo que me diga que é mentira, mas não encontro. Solto o ar pesadamente, que só agora percebi que segurava. Ele ainda me olha como se tivesse dito algo realmente simples. Solto uma risada sarcástica.
Chega!
- eu sempre soube que pra você tinha sido realmente fácil. - digo e ele franze o cenho confuso. Bufo me afastando dele. -Eu sempre soube! Eu sou uma estúpida mesmo! Não acredito que cai na sua!
Acabo me descontrolado e não consigo ficar parada. Ando de um lado para o outro com as mãos na testa. Respiro fundo na intenção de conter minhas emoções confusas e segurar as lágrimas tolas que não me permito derramar por ele nunca mais!
- não é nada disso que você está pensando! Naty dei...
- CLARO! -grito. - nunca é o que eu pensei! - continuo andando de um lado para o outro e Daniel não fala mais nada. Considero isso sábio de sua parte. Preciso me acalmar. - Eu disse que te amava! Eu disse o que sentia e você simplesmente foi embora!
- eu não fui embora! Eu estava lá!
-não... -finamente consigo manter os pés em um só lugar. - você não estava. Nunca esteve. Brincou comigo.
- Naty não...
- sabe... - respiro fundo antes de desviar meus olhos de meus pés e focar nos olhos castanhos de Daniel. - você não imagina o que eu passei depois daquela noite, daquela maldita noite. Eu estava acabada... despedaçada... eu sai do Brasil sem saber exatamente onde iria parar. Eu nunca quis isso aqui... nuna quis vir para um pais estranho e ficar sozinha... Naquela noite quando te disse a verdade pude sonhar em construir uma vida com você... só que não aconteceu. Mas quer saber? Mesmo tendo passado altos e baixos aqui, me tornei alguém! Construí meu próprio patrimônio e estava feliz até você chegar e acabar com tudo. - cuspo as palavras para ele querendo gritar e fazer que de alguma forma toda essa dor absurda acabe de uma vez...
- Natacha eu nunca te deixei! Eu estive lá! Você mão quis vê... Você fugiu de mim!
-Há... Não se faça de bobo...
- você também não sabe o que sofri durante todo aquele ano! Foi o pior da minha vida! Eu não sabia onde você estava e te procurei igual um louco, eu fui longe para te encontrar mas ninguém sabia de você! Sabe o que eu senti? Sabe o que senti quando descobri que a mulher da minha vida estava em algum lugar no mundo e eu não fazia idéia de onde? Você sabe o que senti? Tem idéia de como aquela sensação de impotência me corroeu? - ele diz me olhando fixamente e me arrepio.
Fico calada absorvendo suas palavras e ele se aproxima de mim tomando minha mão entre as suas. Vejo uma lágrima escorrer de seus olhos e sinto meu coração desacelerar. Ele é real. Ele não está mentido... e ele está aqui...
- foi a pior sensação do mundo... e como eu queria que nosso reencontro fosse diferente... Como eu queria sentir seu amor...
- eu não aguento mais isso... - digo tirando minha mão bruscamente da sua. As lágrimas querem cair, mas não permito. Não vou permitir. - eu não posso mais aguentar isso...
A última frase sai como um sussurro que se perde ao vento expondo minhas fraquezas que por tanto tempo lutei para esconder. Eu sempre quis ser forte, me tornei forte, mas chorar em sua frente me desarma e não consigo conter mais as lágrimas. Toda essa situação é exaustivamente dolorosa, e eu simplesmente não posso aguentar mais. Daniel me puxa para si desesperadamente em um abraço protetor e me permito chorar em seus braços como nunca antes. Meus soluços altos só servem para deixar claro que realmente está doendo. Que sou fraca. Mas não ligo. Os braços de Daniel me seguram firmemente, mas de forma carinhosa e ele me nina em seus braços para lá e para cá. Ele sussurra algo para mim que não consigo entender por que estou absorta em seu coração. Ou melhor, no som dele. O som que me trás de volta aos poucos. Tum. Tum. Tum. Tumm. As lágrimas diminuem e agora o silêncio reina entre nós. Daniel ainda me balança devagar como se estivesse cuidando de um bebê e sinto vergonha por ter sido tão fraca em sua frente. Como se lesse meus pensamentos Daniel diz
- você não precisa se manter forte sempre... tem que confiar e deixar ser cuidada.
Quero gritar com ele e dizer que eu quis, que eu quis ser cuidada por ele... que confiei nele... mas não consigo.
Ficamos em silêncio e eu ainda estou em seus braços então Daniel continua.- eu nunca fui embora. - ele beija o topo de minha cabeça e continua não me dando tempo para retrucar. - sei que foi difícil, pra mim também foi! Eu juro que se tivesse controle do tempo eu voltaria e não deixaria essa confusão acontecer... - ele diz pesadamente e posso sentir a dor em sua voz, meu coração se contorce e levanto os olhos para o encarar. Seu rosto não está muito diferente, para falar a verdade está tão triste quanto sua voz...
- que confusão? - pergunto ainda o olhando. Ele sorri fracamente.
- então você quer me ouvir? - assinto e ele beija minha testa sorrindo carinhosamente. - não... ainda não é a hora. - começo a contestar mas Daniel me silencia com um de seus dedos. - só... confia em mim.
Confusão...
Um monte de pensamentos se passam em minha cabeça e não sei qual ouvir. Por que ele não quer me falar a verdade? Se realmente tiver acontecido algum desentendimento como ele diz por que ele não me fala a verdade? Por que quando finalmente quero ouvi-lo ele não diz a verdade? Estou confusa!
- Ei... - Daniel levanta meu rosto com a mão e sorri para mim. - você confia em mim? - dúvidas. Não sei o que pensar, estou confusa. Mas seus olhos me passam tanta paz que sinto- me segura, Aqui e agora, em seus braços, olhando em seus olhos...
-confio... - seu sorriso se abre ainda mais e Daniel me abraça forte.
- quando for a hora você saberá de tudo! Eu prometo. - sua voz está abafada por meus cabelos e sinto um arrepio quando seus lábios deixam um beijo molhado em meu pescoço. - por isso disse para esquecermos a situação... só por enquanto! Quero que você pare de sofrer por causa disso... então, o meu acordo, a minha proposta é... esquecer o que aconteceu... e...
- e? - pergunto mais ansiosa do que gostaria.
- e começar de novo.
Me afasto de seu abraço e olho em seus olhos, e ele continua não me dando tempo para contestar.
- eu te amo! E quero te ter por inteiro! Mas temos que fazer isso do jeito certo. Vamos começar do zero! Mas pra que de certo temos que esquecer os problemas e tudo o que aconteceu... só por enquanto. E então quando chegar a hora certa eu vou te contar tudo o que aconteceu naquele dia... Você aceita? Aceita a minha proposta?
Penso em toda a sua proposta. Ele quer fazer isso acontecer. Mesmo sabendo das minhas restrições e de como sou uma pessoa complicada ele quer tenta... Não sei o que falar. O que pensar. Seus olhos tão perto, sua boca, seu cheiro... Estou tentada a dizer não pois não aguentaria ser enganada novamente, mas o som de seu coração resoa em meus ouvidos e minha voz sai como um sussurro.
- sim...
Eu. Estou. Ferrada.