Capítulo 8

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O silêncio do médico estava me deixando aflita.
- Doutor!- Eu quase gritei, era como se ele estivesse formulando as palavras certas para mim, e eu já esperava o pior, mas era necessário que ele dissesse, que ele falasse logo.

- O projétil atingiu a aorta do seu marido, e ele chegou aqui com uma grave hemorragia, tentamos de todas as formas reparar, mas ele não resistiu.

Olhei para Lais, ela estava mechendo a boca, talvez estivesse falando algo, mas eu não escutava sim algum, apenas um zumbido irritante, De repente, minha cabeça começou a girar eu apaguei.

°°°

- Você aceita casar comigo? - Rafael tinha os olhos serenos, tão calmos que me transmitia tal calmaria.
Estávamos completando um ano e meio de namoro, ele tinha me levado ao Londo Eye, estava entardecendo, e havia ali um pôr de sol raramente visto nessa época em Londres.
Rafa havia dito que ele tinha contratado o sol pra fazer aquele espetáculo, tudo para deixar aquele momento o mais mágico possível, e ele coonsigou com bastante êxito.
Ele não estava de joelhos, e nem poderia ficar, estávamos sentados naquela enorme roda gigante, um lindo anel estava em suas mãos. - Casa comigo?- Ele reforçou a pergunta, talvez por eu ainda não ter respondido.
Eu sorri.
- Sim, eu caso!- Então, os olhos azuis mais lindos que eu já havia visto, brilharam mais que o sol naquele fim de tarde.

°°°

Acordei com um forte cheiro de álcool nas minhas narinas, lembrei-me do que havia acontecido e automaticamente as lagrimas começaram a cair.

Eu ainda estava no hospital, e a Lais estava ali comigo, junto com os meus pais e os pais do Rafa. A mãe dele chorava sem parar. 

A Lais segurou minha mão em total silêncio, eu sabia que ela não fazia ideia do que dizer naquele momento, na verdade, nada do que me dissessem surtiria algum efeito em mim.
Queria que tudo aquilo não passasse de um terrível pesadelo.
Queria ver meu marido ali, do meu lado, dizendo quer tudo iria ficar bem, que iríamos ficar juntos, criar nosso filho... Eu não queria aceitar aquilo!

Os médicos ainda me disseram mais algumas coisas, mas eu não escutei nada. Eu estava submersa em um mundo, onde  o que me mantinha acordada era a negação.

O Rafael não morreu, o Rafael não morreu!

Eu repetia isso, talvez se eu repetisse na quantidade certa, eu sairia daquele pesadelo e acordaria na minha casa, na minha cama, com o meu marido ao meu lado.

- Ester.- Lais virou meu rosto para que eu olhar para ela, e constatar que aquela era a minha realidade. - Vem.- Ela segurou a minha mão e me  guiou pelo corredor até o carro, Miguel e eu ficaríamos na casa da Laís, eu não suportaria entrar na minha casa hoje.

Quando chegamos, a primeira coisa que fiz foi ir para o quarto onde meu filho estava, ele dormia serenamente na cama do quarto de hóspedes, passei as mãos e seus cabelos loiros e beijei o seu rosto e o deixei dormindo.

- Vim trazer uma roupa pra você vesti. - Me entregou uma roupa que pertencia a ela.

- Por que Deus permitiu que isso acontecesse Lais? - Perguntei com lágrimas nos olhos, mas eu as contive, não queria chorar de novo, não podia desabar novamente.

Ela não respondeu nada, ela não sabia o que dizer, então apenas me abraçou.

Depois que a Lais saiu eu fui para o banheiro e tomei um banho rápido. Vesti a roupa que ela me deu e me deitei na cama junto com o Miguel.

Senhor como irei contar para o meu filho isso? Pai me dê força.- Foi a oração que eu fiz, dormi estava fora de questão, eu ainda desacreditava que aquilo realmente estava acontecendo.

[···]

Acordei com uma forte dor de cabeça, não me recordava a hora em que eu havia dormido, mas eu sabia que eu chorei a metade da noite.

Me levantei e fui no banheiro, a minha aparência estava horrível.
Arrumei o que dava para arrumar e retornei para o quarto.

Meu filho abriu os olhinhos e me encarou, agora, ele era a razão pela qual eu teria que lutar.

- Bom dia mamãe. - Ele se sentou na cama e coçou os olhos.

- Bom dia filho. Vem que vou te dar um banho. - Peguei ele no colo e o levei para o banheiro. Dei banho nele e o vesti com a mesma roupa.

- Fique aqui no quarto filho, vou falar com a tia Lais e já já volto.- Ele assentiu, eu beijei sua testa e sai.

Lais estava na sala com a o Bruno. Provavelmente a Kate ainda estava dormindo .

- Oi! - Falei com a voz meio fraca.

- Oi. - A Lais deu um meio sorriso.

- ligaram do hospital e já está tudo certo pra enterrar o Rafael hoje às quatro. - Bruno falou cauteloso.

- Tudo bem! - As lágrimas insistiam em querer vir a tona, mas eu precisava ser forte. - Vou pra casa, ainda preciso contar para o Miguel. 

Bruno foi me deixar em casa, sai do carro e levei o Miguel no meu colo.

- Mamãe, a gente não vai ver o papai no pistal? - Ele se enrolou nas palavras, e pela primeira vez naquele dia, eu dei um sorriso sincero, mas também senti meu coração se apertar.

Eu o coloquei sentado no sofá e me ajoelhei de frente para ele.

- Filho...- Respirei fundo, eu formulava as palavras no meu cérebro, mas ela simplesmente não saiam da minha boca.-  O papai não vai voltar para casa. - Ele me olhou com um misto de confusão e tristeza, mas eu reuni as forças que ainda me restavam e prossegui.- Ele foi morar com o Papai do Céu, por isso não vai poder ficar aqui com a gente.- Ele baixou a cabeça.

- Mas eu preciso dele aqui com a gente.- A carinha triste dele fez meu coração se apertar ainda mais.

- Eu sei filho, eu também queria ele aqui. - Minha voz embargou, respirei fundo. - Mas você não vai ficar sozinho, o papai vai sempre estar com você, bem aqui.- Coloquei a mão sobre seu peito do lado esquerdo.

Ele olhou para a minha mão, e depois envolveu seus pequenos braços em meu pescoço, então eu me permiti chorar, mesmo que fosse por alguns segundos.

Como organizado, Rafael foi velado as quatro da tarde, daquele mesmo dia. Miguel em meu colo, olhava aquelas pessoas a nossa volta, e logo a frente, estava o pastor da nossa igreja falando algumas palavras. O caixão estava a alguns passos de onde eu me encontrava.

Depois que o caixão desceue começou a desaparecer por completo do meu campo de vista, devido a areia jogada sobre ele, foi que a minha ficha caiu por completo. Foi ai que eu tive que decidi ficar firme, não por mim, mas pelo meu filho. Ele ia precisar de mim, então eu escolhi não desmoronar.

Continua.
"Não presumas do dia de amanhã porque não sabes o que te produzirá o dia." Provérbios 27.1

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