Mão Dupla

112 12 1
                                    

  All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

(Eleanor Rigby – The Beatles)


Jeb

Nunca fui um sujeito sentimental.

Não é nenhum tipo de decisão racional ou princípio antiquado, mas alguma coisa em demonstrar emoções sempre pareceu atípico de mim. E quando você é um velho fazendeiro do sul ninguém se importa muito com isso, simplesmente deixam você ser um cara rústico e fechado e assumem que é natural.

Eu mesmo nunca pensei muito a respeito, exceto uma vez, com Norah... Mas cheguei à conclusão de que antes de lutar para mudar por ela, devia ter sido aceito como era. Esta coisa toda de amor — ou o que quer que fosse aquilo — devia funcionar em mão dupla, segundo pude concluir mais tarde. Infelizmente, eu não entendi isso quando precisava e depois, quando finalmente entendi, não valia mais de nada.

De qualquer jeito, não importava mais. No final das contas, era útil não amolecer com facilidade. O que não queria dizer que eu não ficasse balançado às vezes.

Na noite em que voltei de minha ausência, por exemplo, algumas coisas me pegaram de surpresa.

Não estou falando do fato de todos me receberam com entusiasmo e comoção. Era esperado que, diante das circunstâncias, mesmo aqueles que não são meus maiores fãs se importassem com minha saúde. Para o bem ou para o mal, todos ali éramos família, afinal. Então os apertos de mão e tapinhas nas costas eram previstos. Os abraços também.

Era previsível que Estrela se pendurasse em meu pescoço antes mesmo de que eu conseguisse me erguer do catre, e que depois tentasse cuidar de mim, me impedindo de fazer qualquer esforço, dando ordens às quais sabia que eu não obedeceria.

E não era nada estranho que Lindsay imitasse a mãe em seus carinhos arrebatados de criança e saísse dizendo a todos que eu devia ficar de "re-pou-so", fazendo-os rirem da forma como ela pronunciava a palavra nova com cuidado, fazendo biquinho.

Também não estranhei quando Peg se emocionou discretamente, desviando os olhos vermelhos e limpando as lágrimas furtivas, porque não gostava que se preocupassem com ela. Assim como fez Magnólia, minha irmã, que sempre quis parecer mais casca grossa do que eu.

A alegria de Sharon e Doc. O alívio de Jared. O entusiasmo de Jamie. O olhar de triunfo de Melanie quando provei ser tão forte quanto ela esperava. Nada disso foi exatamente surpreendente.

O que eu não esperava mesmo é que essas coisas cavassem um buraco tão fecundo dentro deste coração que eu mesmo julgava tão árido.

Talvez eu não deixe ninguém saber, mas dividir a mente com Logan me mudou. Percebi isso naquela mesma noite, quando observei a expressão dele repetidas vezes, mas não por curiosidade, ou por me divertir ao vê-lo se retrair aos elogios e agradecimentos, como era seu costume, e sim em busca de algo que eu pudesse reconhecer e decifrar. Em busca de algo que me ajudasse a entendê-lo.

Porque Deus que me perdoe, mas eu precisava. Essa história toda estava me corroendo por dentro.

— Você não vai parar depois de duas míseras voltas. Pode parar de enrolar — ele decretou e eu tive vontade de matá-lo. Mas só porque eu sentia isso por qualquer um que me desse ordens daquele jeito.

— Não sou um maldito hamster, Logan. Vê se me deixa em paz. Estou voltando para dentro para trabalhar, que é como os pobres mantêm a forma.

Coração Deserto 2 - O Futuro O EsperaOnde histórias criam vida. Descubra agora