Sobre as Coisas Como São e as Coisas que Decidimos Ser

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On a stormy sea of moving emotion

Tossed about like a ship on the ocean

I set a course for winds of fortune

But I hear the voices say

Carry on, my wayward son

There'll be peace when you are done

Lay your weary head to rest

Don't you cry no more (no!)

(Carry On Wayward Son - Kansas)



Jeb

— Então, o que há de tão novo que Sharon e Doc ainda não tenham contado?

Logan olhou para mim como se estivesse surpreso com o comentário. Fazia apenas um dia que ele e as garotas tinham voltado de Nova Orleans, mas o primeiro encontro entre humanos e Almas tinha sido há longínquos dois meses. Ficou combinado que haveria outros, mas Logan, Estrela e Cal estiveram todo esse tempo fora articulando-se com outros aliados e discutindo a viabilidade de algumas ideias que surgiram naquele dia, antes de ampliar de vez o diálogo entre os dois lados. Sendo assim, era de se imaginar que houvesse novidades, claro, mas não entendi porque ele tinha me chamado em particular antes da tal reunião que anunciara com todos para esta tarde.

— Vocês têm falado bastante sobre isso, imagino — comentou sem muito entusiasmo, como se seus pensamentos fossem outros, tanto que comecei a desconfiar que houvesse mesmo algo mais em seus motivos.

— O quê? Vai dizer que você não desconfiava que todas as conversas do último bimestre fossem sobre isso? Diabos, pois se até Jared conheceu David e Flora e voltou cheio de histórias otimistas, mesmo que tivesse saído daqui preparado para uma guerra, se fosse preciso. E essa reunião agora... Parece que tem alguma novidade importante, certo? Ou... é alguma outra coisa?

— Não é exatamente sobre as negociações de paz que eu queria falar com você. É sobre uma coisa que eu fiz.

Logan fez uma espécie de careta e despenteou o cabelo, nervoso. Tentei imaginar o que poderia ser e, pelos sintomas, não gostei nada do prognóstico.

— Quer dizer — ele continuou —, de certa forma tem a ver com a harmonia que desejamos entre humanos e Almas, então também vou contar aos outros, mas é que diz mais respeito a você do que a qualquer outra pessoa. Por isso achei que devíamos vir até aqui antes de eu ter que dizer para todo mundo.

Estávamos fora de casa, naquele rochedo onde Logan passou a primeira noite no deserto quando chegou com Estrela. Não era novidade que viéssemos aqui de vez em quando, pois ele se sentia estranhamente confortável neste lugar empoeirado. O que também significava que quando o assunto era sério e particular, geralmente esta era sua primeira opção.

Por isso eu já tinha adivinhado que não se tratava de um passeio para jogar conversa fora, mas de algum jeito, até agora, eu tinha estado tranquilo quanto ao que poderia surgir, já que os assuntos difíceis estavam em suspenso desde a partida para Nova Orleans. Então eu vinha me permitindo apenas saborear o alívio do retorno deles. Não só de forma descompromissada, mas ingênua também, pelo jeito, porque estava parecendo que minha alegria simples duraria pouco. Pela cara dele, essa constatação ficava mais óbvia para mim a cada segundo.

De repente, meu bom humor se evaporou.

— Sei. Diz respeito a mim e vai me deixar puto, não é? Já deu para perceber — arrisquei.

Coração Deserto 2 - O Futuro O EsperaOnde histórias criam vida. Descubra agora